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Após criticar o governo Lula por gastos com Bolsa Família (que, diga-se de passagem, também foi feito de forma intensa pelo seu próprio governo para financiar o Auxílio Emergencial e depois o Brasil), Mourão investe em moralizar suas tropas e não deixar a “chama da direita apagar”. Ele diz “O clamor das manifestações a que assistimos desde a proclamação do resultado das urnas, que permaneceram sem o voto impresso e auditável, é legítimo, por mais que muitos tenham tentado classificá-lo de ‘antidemocrático’” - as manifestações que ele defende são os bloqueios golpistas de rodovias e atos que queimaram ônibus e tentaram invadir a PF, todos eles com conteúdo golpista e reacionário.
E ele continua: “a minha mensagem aos manifestantes é para se apropriarem desta força, coragem e resiliência que provaram ter para permanecerem altivos, de cabeça erguida, firmes em suas convicções, unidos e diuturnamente vigilantes da nova condução que o País terá, das promessas e dos atos que virão. Lancem mão dos instrumentos constitucionais que garantem os direitos de uma democracia cidadã, com efetiva participação popular, e jamais se esqueçam de que soberano é o povo.”
Para finalizar, Mourão ensaia outra tediosa metáfora e diz
“Usem os seus representantes eleitos no Congresso Nacional, como eu, que estarei no Senado Federal, para não apagar a chama da direita, que no passado recente não conseguia fazer uma oposição popular forte e consistente. Os obstáculos são duros, mas desistir, nunca!”
Além de eventual dor de barriga, o texto também incita os golpistas a manterem as mobilizações. Tudo com requintes "constitucionais" e "democráticos". As declarações ocorrem na medida em que o silêncio de Bolsonaro segue a pleno vapor, gerando desilusão em parte da base dura que achava que o mito salvaria a pátria após o 30 de outubro. Alguns culpam a erisipela, outros a covardia. Outros ainda culpam a falta de patriotismo do povo. Fato é que Mourão conclama a turba golpista a seguir seus atos não propriamente para desferirem um golpe neste momento, mas para manter o tensionamento na correlação de forças de modo a conservar a extrema-direita (e militares) como atores relevantes. Inclusive para negociar com Lula, Alckmin, Lira, Pacheco e cia.
O caminho para derrotar essa turba não é o de se aliar aos seus aliados prévios, como Lula está fazendo ao governar com Lira, chamando privatistas e direitistas para os ministérios, compondo governo de transição com banqueiros e afins. O caminho para derrotar a extrama direitia golpista é o da mobilização independente do conjunto da classe trabalhadora, conectando cada reivindicação específica à luta contra o golpismo e esse regime político degradado.