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Governo de SP
Tarcísio toma posse em São Paulo reivindicando o governo Bolsonaro, privatizações e Reformas
Redação

Em seus dois discursos realizados hoje, 1º de janeiro, o novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reivindicou as privatizações e reformas realizadas, reafirmando o compromisso de um governo estadual inspirado em algumas das medidas do governo de Bolsonaro - a quem agradeceu pelo aspecto “visionário” e pela “ousadia”.

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[Foto: Alex Silva / Estadão.]

O novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tomou posse na manhã de hoje na Assembleia Legislativa estadual, tendo sido conduzido à mesa pela deputada Janaina Paschoal (PRTB). Além de que também estiveram presentes Carlão Pignatari (PSDB) - presidente da Alesp; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que veio de Brasília para prestigiá-lo; o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB); além de outros convidados e deputados estaduais, entre eles Douglas Garcia (Republicanos) que hostilizou a jornalista Vera Magalhães em debate na TV Cultura.

Tarcísio foi ovacionado pelos apoiadores de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que participam de atos antidemocráticos, questionando o resultado das eleições e pedindo intervenção militar, acampados no entorno do Comando Militar do Sudeste, vizinho à Alesp. O grupo cantou "Tarcísio, cadê você eu vim aqui só para te ver” e “governo de São Paulo salve o Brasil” enquanto o governador recebia honrarias militares no estacionamento da Casa na saída da Cerimônia.

Essas manifestações também se fizeram presentes no plenário da Assembleia, sobretudo quando o atual governador, logo no início de seu discurso, agradeceu ao ex-presidente ressaltando os traços de visionarismo e ousadia, na perspectiva dele, além de indicar que em São Paulo pretende reproduzir a mesma lógica de Bolsonaro na divisão dos cargos do governo:

Na política, inicio meus agradecimentos, como não poderia deixar de ser, pelo presidente Jair Bolsonaro, que me lançou este desafio, que enxergou o que ninguém havia enxergado naquele momento. Quanta ousadia! A montagem do ministério em 2019 já havia sido ousada. Houve a aposta em técnicos desvinculados das pressões partidárias, padrão que estamos reproduzindo em São Paulo.” (...) “eu e outros técnicos chegamos ao primeiro escalão do governo federal e nunca nos faltou apoio, incentivo, patrocínio da ousadia, que foi premiada, no caso da Infraestrutura, por leilões de concessão com modelos inovadores, vitoriosos em um momento desafiador e por reformas de marcos importantes referendadas pelo Congresso Nacional.”

Como é possível perceber, também reivindica os leilões, pelos quais seu Ministério da Infraestrutura, juntamente com o Ministério da Economia de Paulo Guedes, foram responsáveis. Essa foi uma grande “herança” bolsonarista ao povo brasileiro com apoio de Tarcísio: a privatização e as concessões de quase 40% das estatais, que foram reduzidas de 209 para 133 entre 2018 e 2021. Podemos destacar a entrega da Eletrobrás, da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), BR Distribuidora e Liquigás.

Tarcísio também cita as Reformas aprovadas pelo Congresso, que atuou em grande parte à serviço do bolsonarismo e do capital financeiro através da flexibilização dos direitos trabalhistas de gerações inteiras, escancarando sobretudo sua indiferença diante dos setores mais explorados - mulheres e negros - os mais afetados pela Reforma Trabalhista; além da destruição do direito a aposentadoria, com uma nova Reforma da Previdência, ainda pior do que as realizadas por Lula e Dilma durante os governos petistas.

O agradecimento a Bolsonaro, apesar da polêmica declaração de Tarcísio à CNN Brasil, no início de dezembro, dizendo que “nunca foi bolsonarista raiz”, acompanha uma decisão política importante: não comparecer à posse de Lula em Brasília, que aconteceu nesta tarde. Também optaram por se manterem nos seus estados os governadores Zema (NOVO), Cláudio Castro (PL) e Ratinho Jr (PSD), todos representantes da direita e da extrema-direita e aliados políticos do governo de Bolsonaro.

Ainda que é importante pontuar que Tarcísio também cita nos seus agradecimentos figuras da direita “tradicional”, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD), acenando para relações inclusive dos partidos mais fisiológicos do atual regime político com quem vai governar - essa perspectiva de “unidade” aparece em outros momentos no discurso, como pontuamos ao longo do texto.

Entendemos o recado das urnas: vamos governar para todos, renovando a esperança de um futuro melhor, percebendo e explorando cada potencial do Estado, apostando na inovação, na tecnologia como arma poderosa para o crescimento e para a melhoria na prestação dos serviços.”

Esse primeiro discurso reconhece a atual polarização política do país, inclusive, uma das pessoas presentes na plateia gritou "estou de olho em você", enquanto o novo governador discursava - ao mesmo tempo que as críticas ao presidente Lula também foram constantes.

Aqui teremos o ambiente de diálogo para fazer de São Paulo um exemplo para o Brasil, em termos de políticas sociais, de sustentabilidade, de inclusão, de inovação, de luta pela segurança, pelo emprego, pelo desenvolvimento econômico e regional. Vamos trabalhar na construção de consensos, no convencimento por meio do trabalho técnico e da transparência, sempre respeitando as diferenças, sempre com uma atitude propositiva. Vamos buscar a maioria para realizar programas e manter profundo respeito pelos adversários” (...) “O diálogo também será importante para aglutinar as bancadas em torno dos interesses do Estado, de forma a suprir uma grande lacuna. Desde a década de 30 do século passado, há um desbalanceamento entre o peso econômico e o peso político. São Paulo precisa ter mais voz!

Ao mesmo passo em que enfatiza a necessidade de diálogo, também reafirma uma necessidade de mudança de lógica que fortaleça politicamente o estado que ele passa, a partir de hoje, a governar, sendo uma das réguas o peso econômico de São Paulo. Tarcísio tem compreensão da pérola que a extrema-direita tem nas mãos através desse governo, sendo um importante ponto de apoio ao bolsonarismo que segue vivo enquanto força social no país, inclusive assentados com as inúmeras cadeiras parlamentares que a extrema-direita conquistou eleitoralmente.

O tom de mudança já pode ser compreendido através de uma série de medidas: fundindo, extinguindo e criando novas secretarias para dar sua cara à administração estadual após quase 30 anos de gestões do PSDB. Uma das principais figuras desse partido, Geraldo Alckmin, hoje filiado ao PSB, compõe o novo governo federal, representando na frente ampla encabeçada pelo PT, sobretudo os interesses neoliberais que foram as prioridades durante os governos tucanos em São Paulo, às custas dos profundos ataques à população e a pautas caríssimas, como saúde, educação, transporte, moradia.

Apontando também para um “compromisso com o desenvolvimento” e uma ênfase nas “demandas populares”, para nortear o crescimento que almeja para o estado com a finalidade de “resgate social” e da “dignidade” - apesar de que sabemos que a fome, o desemprego, a marginalização, o anafabetismo, as pessoas desabrigadas e todas mazelas sociais, que assolam São Paulo e o conjunto do país, são produto não só da crise capitalista aprofundada pela pandemia, mas também pela obra econômica do bolsonarismo.

Qualquer resposta contra tamanha crise, só pode se dar através de uma política de independência dos interesses do capital financeiro, banqueiros e empresários, e por consequência, independente também das instituições e das forças políticas que sustentam o atual regime político: da direita e da extrema-direita - campo do qual o novo governador faz parte. Mas também que tenha independência política do novo governo Lula-Alckmin, empossado hoje em Brasília.

As chamadas “alavancas para o desenvolvimento”, citadas por Tarcísio para viabilizar, “o aumento da oferta de energia, a diminuição da carga tributária, a oferta de crédito para micro e pequenos empreendedores, os investimentos pesados em infraestrutura, a capacitação profissional e a digitalização” já tem um caminho traçado: o favorecimento de empresários como Renato Feder, nomeado Secretário da Educação de São Paulo, que já fechou com o estado um contrato de R$ 76 milhões para a compra de notebooks e plataformas de carregamento, sendo a Multilaser - empresa de Feder, uma das quatro contempladas pelo contrato milionário.

Em tempos de 5G, de democratização de acesso à dispositivos móveis precisamos fazer mais com menos, mudar os modelos de prestação de serviço público, usar maciçamente a tecnologia em prol do cidadão. A integração de sistemas e o geoprocessamento serão fundamentais na segurança pública, por exemplo.”

A tecnologia, inúmeras vezes enfatizada, só responde aos interesses do mercado em sua sede de lucros, ao mesmo tempo que é uma força neutra diante dos problemas sociais do estado que Tarcísio começa a governar hoje, e que esbarra sobretudo no limite do conjunto dos ataques que pesam sob as costas dos trabalhadores, inclusive da Reforma do Ensino Médio que rouba o futuro da juventude, através da destruição da educação pública.

O "Programa Jovem Aprendiz Paulista" também citado no discurso, só pode, na atual situação política, cuja revogação das reformas estão longe do horizonte tanto de Tarcísio, quanto de Lula-Alckmin, ser um chamariz para um mercado de trabalho precarizado e destruído pelos ataques, combinado a educação tecnicista de mão de obra precária que vem sendo implementada nas escolas estaduais de São Paulo.

Inclusive há que se ver, à serviço de que a tecnologia de geoprocessamento em torno de melhorias na “segurança pública” deve estar empregada, certamente se liga a realidade de profunda repressão aos trabalhadores e a juventude negra, hoje alvo declarado da Polícia no nosso estado, que é por sua vez base política e social de Tarcísio e do bolsonarismo.

Em seu segundo discurso, realizado à tarde, Tarcísio manteve a linha política expressa pela manhã, inserindo em sua retórica um diálogo indireto com Lula que tomava posse no mesmo momento: um pedido de que não ocorram retrocessos no controle dos gastos públicos no Brasil. Isso após agradecer novamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em relação ao legado dos 28 anos de governos tucanos, como o Bom Prato e as escolas técnicas, reafirmou que não pretende promover nenhuma ruptura, mas sim avanços - reforçando novamente a lógica de “normalização do novo regime político”, que foi a grande tônica de todos os acontecimentos e posses realizadas pelos inúmeros governos no dia de hoje, federal e estaduais.

Certamente a posse de Tarcísio representa mais ataques para a classe trabalhadora, as mulheres, negros, indígenas, LGBTQIAP+ e a juventude - fechando um ciclo de décadas de governo tucanos no estado. Mas também é certo, que a conciliação com capitalistas e golpistas não permite derrotá-lo e tão pouco os demais governos de direita e extrema-direita empossados hoje. Pelo contrário, só fortalece nossos inimigos de classe, responsáveis pela crise hoje descarregada em nossas costas. Para derrotar a extrema-direita que o governador de São Paulo representa, em todo seu fortalecimento, precisamos construir uma força política a partir da base, que organize os setores explorados e oprimidos de forma independente de qualquer ala da burguesia, inclusive do novo governo Lula-Alckmin, exigindo que as Centrais rompam sua política interessada ao governo e organizem um plano de lutas para derrotar e revogar todas as reformas e os braços desses ataques no governo estadual.

 
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