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Juventude | Plenária nacional da Faísca debateu as lições da luta nos EUA e Argentina, a greve nas federais e a solidariedade ao RS

No último sábado, centenas de estudantes de universidades federais e também secundaristas de institutos federais se reuniram presencialmente e online na plenária aberta da Faísca Revolucionária no sábado, dia 4 de maio. A plenária debateu o desafio de massificar a greve e derrubar o arcabouço fiscal do governo Lula-Alckmin, impulsionando também uma forte campanha nacional de solidariedade ao RS, e buscando tirar as lições estratégicas do movimento estudantil nos Estados Unidos, que vem protagonizando acampamentos históricos contra o genocídio na Palestina e da Argentina, onde começa a recuperar sua tradição de luta contra Milei.

sexta-feira 10 de maio | Edição do dia

Mafe Macedo, mestranda de Psicologia da UFMG e Val Bandeira, estudante de Ciências Sociais da UFPE mediaram a plenária, que começou com uma homenagem ao aniversário de Karl Marx e destacando a importância da presença de todes. Logo no início Giovana Pozzi, estudante de história na UFRGS, fez um forte informe sobre a terrível tragédia capitalista que atravessa hoje o estado gaúcho. Com mais de 130 mil pessoas desabrigadas, dezenas de mortos e desaparecidos, denunciou a responsabilidade do governo de Eduardo Leite (PSDB), Melo, mas também do governo federal da Frente Ampla de Lula-Alckmin e do Estado capitalista na situação vivida com as enchentes pela população, que havia sido alertada inclusive por pesquisadores da UFRGS. Giovanna denunciou o completo descaso dos governos, com gastos irrisórios como de Melo e toda a garantia dos lucros do agronegócio e das imobiliárias, colocando a centralidade da juventude “não aceitar um futuro de precarização e destruição que os capitalistas querem nos enfiar goela abaixo”, apontando também os acontecimentos nacionais e internacionais que aprofundam a crise climática. Já expressando como parte das propostas era cercar de solidariedade a população do Rio Grande do Sul diante dessa tragédia capitalista.

Em seguida tivemos as saudações de Leandro, técnico-administrativo em greve da UFPE, que relatou sobre a precarização vivida pelos trabalhadores na universidade, da conexão da reivindicação de superar o reajuste 0% com a defesa das universidades e da educação e da importância da solidariedade estudantil, em particular do papel da Faísca Revolucionária em batalhar para politizar a greve que enfrenta as consequências do Arcabouço Fiscal de Lula Alckmin. Lorelia, estudante da Sórbonne e militante da juventude francesa Le Poing Levé (Punho Erguido), organização irmã da Faísca Revolucionária, relatou sobre a força da luta estudantil contra o genocídio na Palestina, como parte da geração que acampa em universidades ao redor do mundo pela ruptura das relações das suas universidades com empresas e o Estado sionista de Israel. E Flávia Telles, conselheira regional da Apeoesp Campinas e militante do movimento Nossa Classe Educação, contando sobre as batalhas dos professores da rede estadual de São Paulo, que protagonizaram uma forte paralisação contra Tarcísio de Freitas e tiveram que enfrentar a burocracia do seu sindicato que fez de tudo para impedir a aprovação de uma greve de professores nesse momento.

Em seguida iniciaram as apaixonantes contribuições de Tatiana Cozzarelli, professora da Universidade da Cidade de Nova Iorque e militante do Left Voice, Brenda Hamilton, estudante da UBA e dirigente da Juventude do PTS, e Odete Assis, fundadora da Faísca Revolucionária e organizadora do livro Mulheres Negras e Marxismo.

Tatiana relatou a experiência da juventude estadounidense e seu enfrentamento às Reitorias que lançaram mão da polícia para reprimir os acampamentos, explicando o quanto essa geração carrega no DNA as lições da luta anti racista do Black Lives Matter e muitos são parte da geração que funda sindicatos em gigantes como a Amazon ou a Starbucks. Tatiana desenvolveu a centralidade de dotar o movimento de uma estratégia de auto organização e independência política. Por um lado, pelo próprio papel de genocide Joe, como os manifestantes se referem a Biden, por outro, porque é necessário tomar o rumo da mobilização democraticamente nas mãos, com assembleias de base em que cada um possa debater e decidir, e conformar um comando nacional de delegados dos acampamentos que possam dar unidade a este importante processo que enfrenta uma repressão atroz. Tatiana destacou a necessidade de uma perspectiva anticapitalista e socialista na luta anti imperialista, e a urgência da construção de um partido revolucionário de fato, independente do Partido Democrata, nos Estados Unidos.

Brenda retomou a recente experiência da Marcha Nacional Educativa na Argentina, que ocorreu dia 23 de abril, quando mais de um milhão de pessoas foram às ruas para se enfrentar com o desmonte da educação levado adiante por Milei. Este dia foi uma pequena demonstração do papel que o movimento estudantil pode cumprir, com experiências incipientes de auto organização convocando assembleias com grande adesão, a juventude e também famílias argentinas demonstraram que não aceitam que a educação seja entregue assim. A companheira retomou as lições do Cordobazo em 1969, quando estudantes e operários se enfrentaram contra a Ditadura de Onganía. É este o fantasma que percorre o movimento estudantil argentino e os pesadelos não somente de Milei e da burguesia, mas também das burocracias peronistas que fazem o que podem para impedir com que se desenvolva a luta e batalham para canalizar tudo rumo às eleições do próximo ano. O PTS, principal organização da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, com os deputados nacionais Myriam Bregman, Nico Del Cano, Chipi Castillo e Alejandro Vilca, batalha no parlamento e nos locais de trabalho e estudo para derrotar os planos de Milei e que a classe trabalhadora possa ser a cabeça de uma nova sociedade.

Odete Assis localizou o papel da juventude a partir de reflexões de Trotski na Revolução Espanhola, quando a burguesia não se propõe a resolver as questões da sociedade e o proletariado ainda não entra em cena, enquanto o setor que “ocupa o cenário”, já que internacionalmente o movimento estudantil voltou à cena. Apresentou então uma contribuição do que a greve das federais expressa de fundo sobre a situação do país e quais tarefas estão colocadas aos comunistas em um horizonte estratégico com o objetivo de construir um movimento estudantil que faça a diferença na luta de classes. Retomou como seguem intactos ataques do Golpe Institucional de 2016, aprofundados por Bolsonaro, que resultaram em um regime degradado, com traços bonapartistas do judiciário e dos militares (que seguem tranquilos em sua impunidade). E como a conciliação de classes fortalece a extrema-direita através de concessões, acordos e diretamente ataques como o próprio Arcabouço Fiscal, a PL da Uberização, a manutenção do Novo Ensino Médio e das reformas. Debatendo a partir desses aspectos como as greves expressam uma contradição. Entre um amplo setor das massa estudantil que ainda é pressionado pela ideologia individualista difundida pela burguesia de que diante da precarização da vida e da educação precisam usar sua passagem na universidade para conseguir se formar e ter alguma possibilidade de alcançar melhores condições individuais, um sentimento no qual as correntes que são parte do governo se apoiam para manter a divisão entre os estudantes, não organizando desde a base para massificar e ampliar as greves. Mas esse processo também vem expressando setores de estudantes, em particular des caloures, que estão concluindo como somente pela luta coletiva podem enfrentar as condições precárias da educação. Ainda que muitos deles sigam com ilusões institucionais e no governo de frente ampla, nossa batalha como uma juventude revolucionária é para fortalecer como parte desse processo a consciência de que nossa luta deve ser independente dos governos e reitorias, pois os limites do que podemos alcançar não devem ser colocados por nenhum governo capitalista, mas sim pela força da nossa própria luta, por isso as entidades estudantis precisam ser ferramentas para impulsionar a auto-organização estudantil e devemos nos inspirar nos processos dos EUA e Argentina para ver que podemos nos colocar para disputar grandes ideias na universidade e na sociedade.

Depois das falas da mesa a plenária teve diversas intervenções discutindo distintos temas. Como a localização dada às universidades no começo do governo, em coro com as Reitorias interventoras e não interventoras, que era a de “reconstrução do país”, mas o cotidiano des estudantes é por um lado uma imensa maioria que não consegue sequer acessar as universidades públicas, por outro a precarização da assistência estudantil para quem é estudante, se dividindo entre bicos e salários que não chegam ao fim do mês, a melhoria dos índices econômicos contrasta com a galopante desigualdade social e a sensação de que tudo encarece. Neste sentido, a recuperação de um método histórico de luta da classe trabalhadora, com os técnicos administrativos tomando à frente contra o reajuste de 0% é uma experiência fundamental e que as gerações recentes não viveram. Sobre como longe de fortalecer a extrema-direita, os setores petistas que argumentam isso querem na realidade blindar o governo, que justamente fortalece a extrema-direita pela via da conciliação de ser criticado pela esquerda. E quea adoção deste importante método histórico de luta, que é a greve, permite conectar essa questão, o significado mais profundo do problema salarial num país da precarização do trabalho, com pensar mais de conjunto os problemas da educação e também trouxe em evidência o problema do arcabouço fiscal. Ou seja, como viemos cantando nas poucas, mas expressivas manifestações que ocorreram, tem dinheiro para banqueiro, pela via do arcabouço fiscal que garante o pagamento da dívida pública, mas não tem dinheiro para a educação. Por isso, o apoio que os estudantes expressaram, em diversos cursos e universidades, até mesmo aprovando greves estudantis, é fundamental e um ponto de apoio para um movimento estudantil que queira estar ao lado da classe trabalhadora, mas encontra entraves para se desenvolver que tem responsáveis.

Neste sentido, se debateu também sobre como pensar as tarefas colocadas para uma juventude comunista em um sentido estratégico, entendendo que precisamos defender uma estratégia e um programa para que o conflito possa vencer, batalhando para que as melhores conclusões e lições possam ser tiradas dessa experiência, em defesa da auto-organização realmente democrática e de uma universidade à serviço da classe trabalhadora e do povo pobre, para que es estudantes confiem apenas na sua força em luta junto aes trabalhadores e movimentos sociais precisa partir hoje do cenário concreto da greve. A greve estudantil das federais é uma greve de vanguarda, que tem a qualidade de ter se ativado em solidariedade aos trabalhadores, mas a contradição de ter pautas estudantis ainda difusas e participação restrita, apesar da profunda precarização existente nas universidades. Podemos apontar alguns motivos para que isso ocorra, o primeiro deles está na raíz do próprio projeto de universidade da burguesia brasileira, feita para formar seus próprios quadros, que possam gerir o país. Isso abre uma contradição com o acesso “ampliado”, já que o futuro da juventude está destinado à precarização da farsa do empreendedorismo, e se combina com a ilusão de um governo “em disputa”, que gera uma lógica de buscar individualmente se salvar minimamente da precarização frente a um governo em disputa, com gerações de primeiros universitários que obviamente querem conseguir uma formação de qualidade. A questão é que isso é alimentado em particular pelas Reitorias, que administram os cortes nas universidades descarregando a crise sempre em cima dos trabalhadores e bolsistas, e pela majoritária da UNE, dirigida pelo PT, PCdoB e Levante, cuja linha de aposta de caminho pela via das eleições, das instituições e disputa dentro do sistema capitalista, que como viemos vendo só fortalece a extrema-direita. Por isso, convocam assembleias de base somente quando estritamente obrigados, restringem as demandas a uma recomposição orçamentária abstrata e comemoram junto a Nikolas Ferreira mais uma maquiada no Novo Ensino Médio. Isso signifca que se apoiam em uma ideia de que a política se faz por estes caminhos, institucionais e de salvação individual, e não pela luta de classes, por isso, é central a exigência de assembleias de base democráticas onde es estudantes possam definir o rumo da sua greve, fortalecendo esse eixo de atuação da Faísca.

Também foi debatido como é necessário ver o papel dos setores ao menos formalmente favoráveis à greve, por um lado no PSOL, o Afronte se preza à localização de defender o governo; já Juntos, que também é parte do governo, atua na contramão da massificação onde tem responsabilidades, como no DCE da UFRGS ou da UNB, neste último junto à Correnteza, que é a oposição que o governo gosta, aparecem como mais radical, mas na prática são contrários a propostas elementares como um comando de delegados. Esta proposta também é fundamental, não apenas para essa greve, mas para preparar as batalhas que virão. Em um processo de greve, esta ser levada adiante por gestões já votadas de entidades estudantis limita a participação, a democracia de base e a experiência em luta e facilita com que antigas direções manobrem ou enterrem o processo de luta. Por isso, as assembleias de curso e de universidade ou instituto precisam votar comandos de delegados, em proporção definida previamente, a partir dos debates políticos sobre os rumos da greve, para expressar a proporção das posições reais que compõe a greve. Estes delegados precisam ser revogáveis, já que se não levam adiante o que é definido nas assembleias, não devem poder cumprir este papel. Isso é uma medida fundamental para que a greve esteja de fato nas mãos dos estudantes e não na mão de representantes do governo, porque é também o caminho para um comando de greve nacional. A experiência inicial de auto-organização na Argentina e nos Estados Unidos, expressas por Brenda e Tatiana, demonstram isso.A defesa dessas políticas estão profundamente conectadas com a perspectiva de não aceitar o movimento estudantil no “banco do espectador” e sim recuperar seu caráter insubordinado e subversivo, capaz de incendiar a classe trabalhadora, por isso também foi feito um convite a todes es participantes da plenária para se organizarem na Faísca Revolucionária, para construir uma fração revolucionária que dê corpo às grandes ideias pela revolução.As intervenções expressavam a importância do espaço e do debate, desenvolvendo aspectos das batalhas políticas que viemos compartilhando nacionalmente, em defesa des trabalhadores terceirizades, contra a destruição do meio ambiente, contra as opressões no ambiente escolar, sempre em uma perspectiva de independência de classe. Mafe e Val encerraram a plenária propondo resoluções que já viemos levando adiante nacionalmente e podem ser conferidas no post abaixo:




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