×

Rio de Janeiro | A ação de “justiceiros” reacionários no Rio e como enfrentar o racismo e a degradação social carioca?

Na última semana, o noticiário carioca e em parte nacional foi tomado pelas cenas de violência de um assalto no bairro de Copacabana e a seguinte resposta reacionária de moradores do bairro de “fazer justiça pelas próprias mãos”. O resultado já se expressou: um vendedor de bala negro foi agredido e acusado de ladrão no bairro da Zona Sul.

Calvin de OliveiraEstudante de Geografia da UFF - Niterói

terça-feira 12 de dezembro de 2023 | 00:26

A criminalidade urbana sempre foi um tema dos noticiários burgueses, sempre buscando alentar mais repressão policial - isso em um estado que protagoniza recordes de chacinas à juventude negra. Nunca apresentam alguma saída de fundo para as causas da violência urbana, que são os problemas sociais e econômicos.

Recentemente, a cidade também teve a milícia paralisando a Zona Oeste em disputa com a polícia, o que é outra expressão do nível de decomposição estatal carioca e do peso que ganharam essas forças reacionárias policiais no Estado, o que aumenta mais a cada nova onda de militarização como resposta aos problemas sociais.

Os acontecimentos dessa última semana são expressão de uma degradação social que há muito tempo existe na capital fluminense, que tem como governador Cláudio Castro eleito pelo bolsonarismo e com denúncias de relação com a milícia e ex-vice de Witzel, o governador que mandava atirar na “cabecinha”.

A aparição de grupos “justiceiros” da zona sul, também não é surpresa na história carioca, tendo protagonizado episódio, como de anos atrás de um jovem negro que foi amarrado à um poste por supostamente ter participado de um assalto. São a expressão de um reacionarismo racista, à qual todo negro e favelado é bandido, ou um bandido em potencial, enquanto defendem as políticas empresariais e do governo que mantém a maioria da população negra em condições de vida miseráveis. Esses grupos de choque são também ligados com academias e representantes reacionários, ligados ao bolsonarismo.

O ataque destes bandos é funcional a uma campanha para aumentar repressão na orla da cidade, preparar ela a eventos não só do calendário turístico, como também ao G20, promover políticas racistas de excluir os pobres das zonas turísticas, vale lembrar que até bem pouco tempo atrás os ônibus não cruzavam o túnel Rebouças. O resultado já tem sido uma militarização da Zona Sul, e os que vão sentir isso é o povo pobre e negro. Vale lembrar, além disso, que o próprio prefeito Eduardo Paes propõe realizar a internação compulsória para usuários de drogas em situação de rua, uma política higienista e racista defendida desde o próprio estado.

A população negra é a que no país tem mais chances de ser assassinada, de acordo com dados do Atlas da Violência, e em casos de violência e assassinato policial são mais de 80% dos mortos, isso junto de maiores índices de insegurança alimentar grave. As condições de vida que impõe esse sistema a negros são de miséria e repressão, e a ação dos justiceiros é uma outra via política para um setor da burguesia para que se aumente a repressão à essa população. São também os que são jogados no sistema prisional de forma absolutamente desumana, precária e muitos sem direito sequer a julgamento.

É preciso no Rio de Janeiro, uma outra alternativa política, que discuta os problemas de fundo da cidade, como acesso à moradia, emprego, educação e saúde digna e de qualidade, o que só pode se dar a partir de uma perspectiva socialista e revolucionária, em ruptura com esse sistema de miséria. E não confiando no Estado, no governo federal e nas polícias, como expressou, por exemplo, Marcelo Freixo em vídeo sobre os acontecimentos recentes mas também nas políticas atuais políticas de Dino e Lula, que apostam no aumento do aparato repressivo e carcerário de Castro e dão suporte para a ocupação na Maré.

Tampouco, foram outra alternativa política os anos de lulismo, com a instalação das UPP’s e tanques da Marinha na Maré ou em 2014 quando um jovem foi amarrado a um poste por outro grupo de 30 “justiceiros” reacionários, que tem a impunidade garantida. Ao contrário, essas medidas fortaleceram o aparato reacionário policial, as milícias, o bolsonarismo e não resolveram em nada o problema da violência urbana. Naquele momento, cidade da Copa e Olímpica, nesse Capital do G20, eventos para promover projetos burgueses? No Rio de Janeiro precisam passar pela repressão à negros. Neste ano, já tivemos o anúncio de mais investimentos em prisões, equipamento repressivo e a morte de ao menos 3 crianças pelas mãos da polícia carioca. Uma delas, Thiago Menezes, teve sua família detida nesta última quinta-feira (7) enquanto se manifestava por justiça pela sua morte.

Mas também é um erro acreditar que uma polícia mais bem equipada, com “inteligência”, ou uma “polícia de proximidade”, defendida pelo PSOL, resolveria o problema. Como disse Chico Alencar em entrevista publicada em sua página, que o problema da violência dos milicianos de Copacabana se basearia no descrédito das instituições públicas, como se o problema das polícias fosse estar mal equipada ou mal treinada. O PSOL adota um programa de reforma das polícias, uma utopia reacionária que ignora que o papel dessa instituição é a manutenção da propriedade privada dos capitalistas, que tem como raiz em sua fundação o dever de perseguir pessoas negras que eram escravizadas quantos estas fugiam da senzala.

Para combater a degradação econômica e social, a violência urbana, o reacionarismo das milícias (mas também do tráfico) e do bolsonarismo (e seus grupos de ataque), faz falta uma alternativa política da classe trabalhadora que confie nas próprias forças e organizações. Somente a classe trabalhadora, com um programa operário e popular de saída para a crise, e com os métodos da luta de classes (como se expressou na organização dos metroviários de São Paulo no último dia 28 contra as políticas de privatização de Tarcísio), pode barrar os ataques, garantir conquistas e parar esses grupos reacionários. Em uma batalha pela unidade a classe trabalhadora e os negros, com os sindicatos cumprindo um papel importante. É a unidade dos setores oprimidos e explorados que pode dar uma resposta real a estes problemas. Luta esta que deve se dar na perspectiva de ruptura com o capitalismo pois a necessidade de uma do socialismo se mostra ainda mais urgente com essas expressões de degradação social




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias