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Análise | Com o episódio da embaixada, Bolsonaro pode ser preso?

Dos dias 12 a 14 de fevereiro, após 4 dias de ter seu passaporte apreendido, Bolsonaro passou duas noites na embaixada da Hungria. É provável que temia ser preso e preventivamente se refugiou na embaixada de seu ultra reacionário aliado, Viktor Orbán. Isso pode levar a que ele seja preso?

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

segunda-feira 25 de março | Edição do dia

Se os termos em questão fossem estritamente jurídicos, ainda mais sob o comando autoritário de Alexandre de Moraes, não haveria dúvida que sim. No entanto, é preciso ver quais serão os cálculos políticos do poder judiciário e de Alexandre de Moraes.

Isso se daria a partir da consideração que a temporada na embaixada húngara se configura como uma clara tentativa de escapar de uma eventual prisão. Alexandre de Moraes teria um argumento jurídico clássico em seu favor para decretar uma prisão preventiva, já que estaria configurada as intenções de fugir da justiça.

No entanto, é pura ideologia a crença de que a justiça é técnica. Isso também envolve cálculos políticos. Muitas coisas serão consideradas. A recente manifestação em seu apoio não foi diminuta e o ex-presidente reserva ainda um importante nicho social em seu apoio.

Contudo, não é previsto como essa base reagiria se seu capitão fosse preso. Nesse cenário, não podemos descartar que uma prisão tivesse um efeito contraditório, renovando sua roupagem de vítima, o que poderia lhe favorecer em médio prazo. Ainda sim, teria que contar com outros diversos fatores, o que incluiria a vitória de Trump nas eleições de fim de ano.

A propósito, é sugestiva que as imagens “vazadas” da estadia de Bolsonaro tenham sido vazadas pelo New York Times. Não é segredo para ninguém que o jornal americano é um franco opositor a Donald Trump, e por óbvio, tem interesses em debilitar seus aliados pelo mundo. Entretanto, não necessariamente esse debilitamento tenha que chegar ao ponto de uma prisão que possa colocar Bolsonaro como vítima, como apontamos acima.

Ainda assim, apesar destas contradições, é inegável que este novo fato trazido à tona aumenta as possibilidades de sua prisão em relação ao momento anterior.

Se fosse possível calcular estatisticamente, poderíamos dizer que o gráfico sobre a possibilidade da prisão de Bolsonaro nunca oscilou tanto como nos últimos dias. Toda a ofensiva do judiciário apontava para um caminho na qual a prisão seria uma questão de tempo. Depois, os áudios “vazados” de Cid - na qual ele declara que foi coagido a fazer sua delação - lançaram várias interrogantes. Agora, o “míssil” lançado pelo NYT, e talvez pelo próprio Partido Democrata, novamente adiciona pontos favoráveis ao possível destino carcerário.

Nunca é demais lembrar que o mesmo judiciário que prendeu Lula e contribuiu com a ascensão de Bolsonaro, hoje está em seu campo opositor. Isso porque Bolsonaro se mostrou um fator de desestabilização permanente, e para preservar as contra-reformas aprovadas desde a ascensão de Temer, era necessário conter Bolsonaro e seus aliados.

O judiciário sempre atuou politicamente e nos últimos anos quer se alçar cada vez mais como o “poder moderador” no regime político brasileiro.

Vejamos os próximos passos desse xadrez político.




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