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Privatizações | Governo Lula e as privatizações: muito discurso porém muita continuidade com Bolsonaro e Temer

Milhões de trabalhadores esperavam (ou ainda esperam) que Lula parasse as privatizações. Cada discurso de Lula contra privatizações feitas por Bolsonaro ou Temer é muito criticado na grande mídia e comemorado na mídia petista. A verdade é que além de uma ou outra frase as privatizações seguem acontecendo e muito. As estatais seguem sendo máquinas de dinheiro para os acionistas. Nesse artigo procuramos mostrar essa realidade por trás do jogo das aparências.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 14 de maio de 2023 | Edição do dia

Discursos de Lula como o feito em Salvador, chamando a privatização da Eletrobras de “sacanagem” ganham grande repercussão crítica na grande mídia e de seus especialistas em “mercado”, e louvor na mídia petista. A tentativa de mudança no marco do saneamento – sem questionar o que já foi entregue – como a carioca CEDAE, sofreram a mesma cobertura jornalística idêntica nos fatos e divergente nos adjetivos. Outro exemplo desse tipo são os discursos do presidente da Petrobras Jean Paul Prates quando critica os dividendos, a privatização da BR Distribuidora ou os preços de combustíveis.

Porém, apesar dos discursos, a realidade é muito diferente. Em um dos seus primeiros atos de governo Lula retirou a EBC, Correios e Petrobras de sua privatização total rompendo com o projeto de entreguismo desenfreado de Bolsonaro e Guedes. Mas o que foi mantido de pé é uma continuidade de um privatismo repaginado em relação ao de Bolsonaro.

A Petrobras como um todo não será privatizada, mas todos os ativos do Norte Capixaba foram privatizados a poucas semanas, e daqui a poucos dias todos os ativos do RN – estado natal de Prates – serão entregues. Não se trata nem mesmo da reversão de privatizações passadas mas continuidade acontecendo meses adentro da nova gestão. Seguindo viagem de Lula à China houve parada nos Emirados Árabes Unidos, onde o fundo soberano Mubadala, novo dono da refinaria privatizada da Bahia anunciou investimentos para consolidar a privatização, o que foi comemorado em parte da mídia petista como “o Brasil voltou” sob críticas até mesmo da Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT).

E, para além das privatizações, a Petrobras está sendo administrada para gerar imensos lucros a seus acionistas privados, em clara continuidade com o privatismo bolsonarismo. Mesmo com novo presidente e novo conselho de administração escolhido por Lula e Alckmin, a empresa vai entregar R$24 bilhões aos acionistas só pelo resultado dos três primeiros meses deste ano. Esses recursos gigantescos são extraídos das riquezas de nosso petróleo, do suor do trabalhadores efetivos e terceirizados e dos preços abusivos dos combustíveis que cada brasileiro paga.O Observatório Social da Petrobras (vinculado a Federação Nacional dos Petroleiros – FNP) demonstra que a Petrobras está praticando preços mais altos que as refinarias privatizadas da Bahia e do Amazonas e bem acima do preço internacional. Diversos analistas preveem uma redução do preço nessa próxima semana, mas possivelmente os novos preços ainda ficarão acima das privatizadas, escancarando a mentira do discurso de “abrasileirar” os preços que Lula tanto falou na campanha.

Na Eletrobras, o governo se limitou a entrar com uma ação para que seu peso acionário seja correspondido no Conselho de Administração. Nas empresas de transporte público a continuidade das privatizações é ainda mais gritante. O metrô de Belo Horizonte (federal) foi privatizado logo no início do governo Lula mediante continuidade de acordo com aval de Alckmin ainda no governo de transição. Hoje, os trabalhadores que fizeram greve contra essa criminosa privatização sofrem perseguição e corte de salário. Os metrôs de Recife e Porto Alegre (também federais) estão com sua privatização em iminência de acontecer e tem ocorrido mobilizações e greves contra essa medida do governo Lula.

A burocracia sindical do PT e seus articulistas políticos em suas mídias costumam justificar esse tipo de ação privatista como necessidade da “correlação de forças” e uma “sabedoria” de como atuar aos poucos, institucionalizando nossas lutas para evitar qualquer forma de radicalidade. Essa “sabedoria” da espera passiva e da conciliação é a que nunca inclui o momento da “ação”. É a construção da passividade, quando muito em nome de dar combate no futuro, mas esse futuro nunca chega, e nem pode chegar para eles pois é parte da política de usar sindicatos e centrais no máximo como instrumentos de pressão e de exigências ao governo. E não como instrumento de luta e organização desde a base de trabalhadores. Essa reflexão de correlação de forças construída pela política reformista, a qual a esquerda em geral se adapta diretamente ou através de não questionar a burcoracia sindical, ainda é aceita por muitos trabalhadores, omite da correlação de forças justamente o que faz o governo junto a monopólios capitalistas nacionais e internacionais, e omite também o potencial de organização desde a base. O que torna portanto as direções sindicais e as centrais sindicais partes componentes da correlação de forças. É um fatalismo, onde a correlação de forças está sempre dada e não há possibilidade de buscar alterá-la. Com essa lógica há sempre motivo para conciliar e ceder, já que as ações dos trabalhadores têm efeito nulo (salvo no voto diriam), só há passividade e espera. Assim, por “necessidade” sempre é necessário ceder mais e mais. Esse filme já vimos antes e redundou no fortalecimento de cada força política e social que foi crucial ao golpe institucional de 2016 e sua continuidade.

Essa breve passada em revista das ações do governo Lula-Alckmin diante das privatizações mostra uma expressiva continuidade com as privatizações mesmo que o modelo seja menos selvagem e acelerado que o de Temer e Bolsonaro. A contradição entre expectativa e discurso de um lado, e realidade, por outro, não poderia ser maior, que o digam os metroviários da CBTU e Trensurb.

Cinco meses de governo deixam claras essas lições e apontam a necessidade da organização desde a base para lutar contra as privatizações e pela revogação de cada privatização e ataques efetuados nos últimos anos, começando pelos implementadas pelo governo Lula/Alckmin como a privatização do metrô de BH e o corte de salário de seus trabalhadores. É urgente o desenvolvimento de um polo de independência política dos trabalhadores perante os governos e empresários, para exigir das grandes centrais um plano de lutas com base a exemplos de organização de base desde de sindicatos e locais de trabalho, de estudo, ocupações e de territórios, que levem a frente uma política de independência de classe e de todos os governos, por uma estratégia para vencer.




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