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Eleições no CABCH - UFABC | Por que precisamos de entidades políticas, combativas e proporcionais para organizar as nossas lutas?

No dia de hoje, inicia-se a votação para a nova gestão do Centro Acadêmico do Bacharelado de Ciências e Humanidades (CABCH) da UFABC e, nas vésperas da aprovação do Arcabouço Fiscal, uma medida neoliberal que sai do seio do Governo Lula-Alckmin e precariza os serviços públicos de conjunto. Chama-se atenção que não há nada nos programas das chapas concorrentes sobre como organizar a luta des estudantes contra esse e os demais ataques que atingem diretamente nossa vida agora ou irão no futuro próximo, quando formos pro mercado de trabalho por exemplo, como é o Novo Ensino Médio. Estarão à altura dos desafios do movimento estudantil?

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Allie TerassiMilitante da Faísca Revolucionária e estudante do BCH/RI na UFABC

EnneEstudante de BCH/Filo/RI na UFABC e militante da Faísca Revolucionária

quinta-feira 6 de julho de 2023 | Edição do dia

Ao invés de se proporem a construir um Centro Acadêmico que funcione como ferramenta para fomentar a auto-organização des alunes em aliança com os trabalhadores, buscando apontar um caminho contrário ao da institucionalização do movimento estudantil, es companheires tanto da chapas 1 - Lélia Gonzales quanto da 2 - Milton Santos (Correnteza e independentes) acabam por apostar nesse caminho. E apesar de possuírem algumas propostas interessantes que nós da Faísca concordamos, elas acabam ficando pelo caminho, uma vez que as diferenças entre as chapas são de “forma”, e não diretamente de conteúdo. Queremos com essa nota seguir o combate que travamos nas eleições do DCE, por ajudar a forjar uma nova tradição no movimento estudantil da UFABC que busque questionar essa concepção burocráticas e administrativa das entidades que é incentivada pela direção majoritária da UNE, que apoia abertamente a Chapa 1, e pelo movimento Correnteza que nas recentes eleições para DCE se mostrou como a chapa da Reitoria.

Que entidade, para que desafios?

O CA BCH foi refundado neste ano, após a antiga gestão (PSOL e PCB) terem abandonado os estudantes durante toda a pandemia e inclusive se recusarem a encaminhar as contas da entidade para que os estudantes possam retomar sua organização. De 2019 - em meio ao governo Bolsonaro - veio a Pandemia e depois uma sequência de ataques aos trabalhadores e à educação, o CA deixou de existir e es estudantes se acostumaram a viver sem sua entidade representativa.

Agora, passados os primeiros meses do Governo Lula-Alckmin, pudemos ter uma primeira experiência com as consequências políticas desastrosas da frente ampla. As alianças com a direita, estampadas na face do reacionário Vice ladrão de merendas, costuradas pelo PT nesta frente amplíssima que compõe o Governo, ao contrário de enfraquecer a extrema-direita, acabam por fortalecê-la. Isso fica evidente quando nos perguntamos se com o Arcabouço Fiscal, ataque neoliberal redigido por Haddad e Lira que prevê cortes nos orçamentos públicos em nome de pagar a fraudulenta dívida pública, e com o Marco Temporal, política reacionária contra os indígenas e o meio ambiente que Lula liberou a base de seu governo para votar a favor, a extrema direita bolsonarista fica fortalecida ou enfraquecida? Os nossos direitos estão assegurados ou escapando entre os dedos?

Bolsonaro elogiou a redação do Arcabouço Fiscal e em seu governo o ódio contra os povos originários e a natureza eram marca registrada. Além disso, vemos figuras diretamente bolsonaristas, como a Dani do Vaguinho, compondo ministério do Governo! A pergunta que é fica é: como combater a extrema-direita mantendo seus ataques (como a Reforma da Previdência, Trabalhista e do Novo Ensino Médio), aplicando novos (como o Arcabouço Fiscal) e convidando-a a participar do Governo?

A ausência do CA de BCH, ou mesmo o papel meramente administrativo que há anos cumpre o DCE na UFABC, dificultam vermos qual o papel de uma entidade estudantil frente a esses ataques. Como podemos na UFABC contribuir para enfrentar ataques que são aprovados em Brasilia? Como podemos agir aqui se não se trata de algo exclusivamente da UFABC?

Em primeiro lugar, enquanto estudantes de Ciências e Humanidades, vemos todos os dias em nossas aulas como a política e a sociedade se entrecruzam nos mais diversos níveis, e o chamado a que nós sejamos mais do que espectadores sobre essa realidade. Desenvolver uma visão crítica a respeito da sociedade e buscar incentivar que os estudantes assumam um papel político é imprescindível para que possamos construir um movimento estudantil que busque fazer a diferença na realidade. A UFABC, como sabemos, não é uma bolha que paira no ar, pelo contrário, é uma Universidade Pública profundamente atravessada pelas disputas externas, atingida pelos cortes consecutivos dos últimos 8 anos e que apesar de toda demagogia da reitoria, é uma universidade de classe que impede com que o conhecimento aqui produzido esteja a serviço de questionar a sociedade de classes.

Se queremos apresentar uma alternativa real aos estudantes que sofrem com as diversas questões de permanência (que vão desde as violências de gênero, problemas psicológicos envolvendo o produtivismo acadêmico, e vão até o alto preço do R.U., baixos valores das bolsas, ausência de moradia, e problemas com o fretado), sendo es estudantes negres, mães e LGBTs aqueles que mais sofrem com tudo isso, é imprescindível ligarmos isso à situação política nacional, ainda mais se tratando de uma Universidade Federal.

Frente aos ataques que estão colocados no país, cada entidade estudantil pode servir para politizar es estudantes, incentivar e fornecer espaços de reflexão e elaboração política e fomentar a auto-organização dos estudantes junto aos trabalhadores de dentro e fora da universidade para apontar um caminho que queira se enfrentar efetivamente com nossos inimigos e os ataque que promovem contra nós. Para construir este caminho que se contrapõem a institucionalização do movimento estudantil, retomar seu caráter subversivo e combativo, é preciso ver o papel essencial das entidades em conectar a base dos cursos à política nacional, mostrando pra cada estudante que ele tem um papel essencial na organização da nossa luta, e especialmente que uma entidade como CA BCH pode ser um contraponto a concepção burocrática do nosso DCE, que apesar de ser dizer “Oposição” dentro da UNE, reproduz os mesmos métodos burocráticos e de subordinação à reitoria e ao governo como faz a direção majoritária.

Esse papel das entidades, de construir esse caminho da auto-organização, deve servir como ponto de apoio na luta porrecuperar uma UNE independente dos governos e das Reitorias, é completamente ignorado pelas chapas em disputa. A contradição da Chapa 1, é que essa chapa não se coloca abertamente contra este papel de conciliação de classes, que contribui para separar o movimento estudantil da crítica aos ataques em curso, o que se reflete em seu programa de gestão sequer citar o Arcabouço Fiscal. Do outro lado, a UP (partido que impulsiona o Movimento Correnteza da Chapa 2) que denunciamos ter um dirigente trabalhando no Gabinete de Natália Bonavides (PT) no Rio Grande do Norte, uma deputada que votou pela aprovação do Arcabouço Fiscal, no conselho estadual da Apeoesp (Sindicato dos Professores de SP), a Unidade Popular ficou em silêncio diante da atuação do PT, PCdoB (UJS) junto a Resistência, MES (PSOL) e PCB que defenderam o Arcabouço Fiscal. Do que adianta fazer uma postura “crítica” ao governo, se na prática, colaboram para a conciliação de classe e onde se poderia organizar as lutas, se propõem a bloquear e freiar esse questionamento?

Entidades administrativas X Ferramentas de Auto-organização

Os programas das Chapas 1 e 2 se constituem por propostas de “coisas concretas que as gestões prometem fazer” se eleitas. Transpondo uma lógica “administrativa” para o Centro Acadêmico, como se ele fosse uma ouvidoria em que a gestão garante o encaminhamento das demandas des estudantes e propõe coisas, dentro de uma relação “moderna e profissional” com a institucionalidade.

A história assim é contada através de atas, documentos, reuniões a portas fechadas, acordos e avanços institucionais, deixando de fora a realidade tal como ela é, decidida sempre em base a luta de classes, a relação de forças entre as classes sociais, ou seja, que sem um plano de lutas sério, o que temos visto é o avanço da extrema direita e dos ataques desde 2016 com o golpe institucional. A necessidade do CA construir em primeiro lugar espaços nos quais es estudantes do BCH possam debater suas demandas e pensar coletivamente como solucioná-las, buscando contribuir para ampliar a capacidade de atuação do ME e forjar uma visão crítica do papel que vem sendo levado a frente as nossas entidades pelas burocracias.

Para nós da Faísca Revolucionária, as eleições recentes do DCE e agora as do CABCH devem nos fazer refletir mais profundamente o papel das nossas entidades estudantil e de como a forma com que elas estão pensadas e dirigidas estão a serviço de impossibilitar com que o movimento estudantil se coloque como um sujeito político nacional, que tem como expressão cabal a falta de criticidade sobre o movimento estudantil nacional, sua relação com a UFABC e quais tarefas um CA de Humanidades numa das regiões marcadas pelo peso da indústria e pela história de lutas contra a ditadura militar nos permite pensar.

Precisamos de ferramentas que fomentem a auto-organização des estudantes, ou seja, que incentivem a participação de cada estudante como sujeito político, através de assembleias regulares e de base, onde ajude a elevar a experiência com cada uma das organizações que atuam no ME, a relação com a burocracia e a reitoria que mantém esse caráter de classe na Universidade e que permita, com todas as garantias democráticas de discussão, que a maioria dos alunos possam ser parte do movimento estudantil e assim garantir a força necessária para enfrentar as reitorias, os governos e os patrões que querem roubar o nosso futuro.

Não há atalhos para forjar um movimento estudantil combativo e independente das reitorias e governos!

Por fim, queremos abrir um debate entre os estudantes sobre qual o papel do Movimento Estudantil e porquê devemos estar na linha de frente em defesa dos seus métodos e não ceder nem um milímetro pro reacionário discurso antipolítica que quer es estudantes passivos e desorganizados.

Em vídeo no Instagram, os companheiros da Chapa 1 produziram um conteúdo no qual dizem que os panfletos são “chatos” e que “ninguém vai ler”. Como solução, propõe a entrega de marca páginas, uma vez que assim teriam alguma “função” utilitária e “sustentável”.

Estamos num curso de Ciência e Humanidades, não podemos assimilar uma discussão tão neoliberal e individualista. É preciso dizer: não, o problema do desequilíbrio ecológico não é dos panfletos que o Movimento Estudantil distribui para tentar alcançar o maior número de pessoas possível com as ideias que acredita e defende, e sim da irracionalidade do sistema capitalista e seus latifundiários do agronegócio que estão na base do Governo Lula-Alckmin. As explosões que ocorreram na Braskem em Santo André, matando dois trabalhadores e deixando dezenas de terceirizados feridos, são parte dos problemas ecológicos que impactam centenas de famílias da região que adoecem por inalar e conviver com produtos químicos. Não é possível combater os efeitos climáticos e os danos ao meio ambiente sem enfrentar a despolitização e as burocracias que controlam as nossas entidades, seja na UFABC ou na UNE, pois são estas burocracias que fomentam a conciliação de classes como único caminho possível, e favorecem com que a ganância capitalista se coloque acima das nossas vidas.

A pandemia do Coronavírus demonstrou de forma emblemática de como em mesmo uma situação completamente preocupante, o capitalismo é incapaz de salvar as vidas devido o seu sentido vital de garantir os seus lucros a qualquer custo. Milhões de pessoas se levantaram nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial, demonstrando que o governo era pior do que o vírus, uma vez que assassina a população com a sua policia e também com a precarização dos hospitais, além de evitar a reconversão da industria ou a quebra das patentes para salvar vidas. O Black Lives Matter demonstrou de forma cabal que a nossa vida, os nossos direitos, não estão garantidos se ficamos parados esperando alguma racionalidade, e por mais que se manifestar em meio a uma pandemia colocasse riscos à contaminação, era a única alternativa de fazer com que os anseios e os direitos das grandes massas fossem garantidos.

Nós da Faísca Revolucionária não apoiamos nenhuma das chapas para o CA de BCH, mas fazemos um chamado a todos es alunes do BCH a refletirem criticamente sobre essas eleições, da experiência que já temos com entidades meramente administrativas e chamamos aqueles que concordam com essas críticas a batalhamos juntes por um Movimento Estudantil independente do Governo Lula-Alckmin e da Reitoria, e que tenha como princípio número 1 a democracia estudantil, defendendo a construção pela base, com assembleias e todos os métodos des estudantes para arrancarem suas demandas, como piquetes, greves e panfletos.




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