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Análise | Um Bolsonaro eleitoralista à busca de votos nos atos do 7 de setembro

Com manifestações expressivas em Brasília e Copacabana, Bolsonaro fez um discurso eleitoral voltado para sua base de extrema direita, mirando também em atingir setores evangélicos e reverter a popularidade débil entre as mulheres.

quinta-feira 8 de setembro de 2022 | Edição do dia

Em uma simbiose entre culto evangélico e micaretas de extrema direita, as manifestações bolsonaristas expressaram, num contexto de domesticação pelo regime e desvantagem em todas as pesquisas, a base social que o governo ainda consegue manter coesa ao redor de si. Com o financiamento do agronegócio, a presença de setores militares e coro de palavras de ordem como “imbrochável”, Bolsonaro destilou todo seu reacionarismo misógino e a defesa de ataques aos trabalhadores e à esquerda.

No marco da correlação de forças desfavorável para Bolsonaro, que aparece atrás de Lula em todas as pesquisas, em geral as manifestações foram positivas para a campanha eleitoral bolsonarista, pois foram parecidas com as do 7 de Setembro do ano passado em termos de tamanho. Mas, o conteúdo foi diferente. Se no ano passado Bolsonaro tencionava contra o STF e buscava alargar os limites do regime com seu discurso golpista, o que se viu dessa vez foi um Bolsonaro mais preocupado com votos.

Adotando a sugestão de sua equipe de campanha, Bolsonaro assumiu um discurso disciplinado à pressão do regime político, moderando o tom e sem fazer ameaças diretas às instituições, com quem compartilha a unidade nos ataques econômicos aos trabalhadores, mas com quem tem atritos políticos. Combinado a isso, apostou na estratégia ultraconservadora de 2018, com seus rompantes anticomunistas, cinicamente contra a corrupção, e antipetista.

A mudança no discurso de Bolsonaro se explica por um lado porque o governo veio sendo disciplinado pelo regime político, mas por outro porque ele busca disputar voto a voto com Lula nas eleições. Para isso, mirou fortemente no discurso fundamentalista e fez demagogia pela via da primeira dama, uma vez que coloca Michelle à frente como símbolo da tão exaltada família tradicional e referência às mulheres evangélicas. Em resumo, ainda que profundamente reacionários de diferentes formas, o discurso ofensivo do 7 de Setembro passado deu lugar a um discurso eleitoreiro.

Ao passo que a extrema direita fez o seu “desfile de tropas”, a linha do PT e de Lula foi de pacificação total, orientando que os trabalhadores e a juventude ficassem em casa e evitassem todo e qualquer embate com o bolsonarismo. Deixaram as ruas de bandeja para Bolsonaro fazer seu desfile reacionário sem qualquer empecilho no caminho. As burocracias sindicais ligadas ao PT querem paz social para a eleição da chapa Lula-Alckmin. Inclusive essa linha de pacificação foi adotada pelo PSOL, chegando ao absurdo de uma de suas correntes, a Resistência, disseminar o medo contra o suposto golpe - que já não aparece mais nem mesmo no discurso de Bolsonaro -, e se recusar a compor os atos da esquerda neste 7/9, prestando-se a apenas divulgar os atos eleitorais que o petismo fará no próximo dia 10. Sem qualquer exigência às centrais sindicais para lutar contra Bolsonaro e as reformas contra os trabalhadores, o PSOL tem atuado ativamente para eleger a chapa Lula-Alckmin, apostando na conciliação com a direita como solução para a crise.

Apesar de mudar sua linha, com as manifestações de hoje, Bolsonaro conseguiu provar que consegue manter coesa ao redor de si uma base massiva de extrema direita com influência em dezenas de milhões de trabalhadores. Trata-se de uma base social que não dá sinais de que irá se dissipar no ar após as eleições, mas sim que irá se manter atuante. Por isso é fundamental o enfrentamento à extrema direita na luta de classes, com os métodos da classe trabalhadora, sem conciliação com representantes da direita, como é Geraldo Alckmin, e nem com patrões que hoje estão com Lula e já planejam um governo de ataques aos trabalhadores.

Contra Bolsonaro, nenhuma aliança com a direita e os patrões: unifiquemos os trabalhadores para enfrentar na luta o governo, os militares e todas reformas ultraliberais.

Como dissemos nessa análise, é necessário combater a extrema direita com a mais ampla independência de classe, e um programa anticapitalista para que não sejam os trabalhadores e o povo pobre que arquem os custos dessa crise. É necessário defender a revogação de todas as privatizações e reformas, em primeiro lugar da reforma trabalhista, abolindo qualquer tipo de flexibilização laboral e lutando por plenos direitos trabalhistas. Isso deve estar ligado à construção de uma grande batalha pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, com 30 horas semanais para enfrentar a precarização e o desemprego, na perspectiva da divisão das horas de trabalho entre empregados e desempregados, e da sua unificação. Trabalho digno para todos: basta de naturalização da precarização do trabalho, devemos atacar o fundamento dos lucros dos capitalistas.




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