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Em defesa da agitação: a bateria política

Araçá

Em defesa da agitação: a bateria política

Araçá

Passada esta primeira semana após o CONUNE, para além do nível de burocratismo do congresso e a atuação da direção majoritária (UJS/PCdoB, PT, Levante) para submeter completamente a UNE ao governo da frente ampla, as discussões sobre a atuação das correntes giraram também em torno de um ponto central na disputa política: a agitação.

Com elogios à agitação da Faísca Revolucionária vindos de militantes de diversas correntes (da majoritária à “oposição”) um ponto central deve ser esclarecido: a bateria, o cancioneiro, as palavras de ordem, todo o conjunto do que compõe a agitação de um agrupamento revolucionário não devem ser, e em nosso caso jamais são, separados do que é o seu programa.

Quando cantamos

Ai que vergonhoso!
a UJS é a juventude do Barroso!

ou

Ô UNE, tá de sacanagem
Convidou o Barroso que ataca a enfermagem!

ou

Barroso no CONUNE
Eu não aceito não!
Não fecho com golpista
Nem com a terceirização!

Não estamos numa mera picuinha. É uma denuncia concreta da abertura dada pela direção majoritária da UJS (PCdoB), PT e Levante Popular na mesa de abertura a um golpista e inimigo de toda a categoria da enfermagem. Essa palavra de ordem foi citada em muitos dos comentários que recebemos mas justamente como dito, se algo em nossas palavras de ordem chama a atenção, chamamos a atenção de cada um ao programa de suas respectivas organizações. Não há sentido em um militante de alguma organização da “oposição” reinvindicar nossa palavra de ordem denunciando o judiciário como inimigo da classe trabalhadora brasileira, enquanto militantes da Correnteza como Isis Mustafá tiram foto com esse mesmo Barroso, enquanto o PSOL abertamente reivindica diversas ações do STF “em defesa da democracia” (como se o própio STF não fosse responsável também pelo golpe de 2016) e o PCB justamente compõem bloco com esses setores. As canções mais centrais de nossas agitações são pensadas sempre para expressar o que há de mais hierárquico em nossas batalhas políticas nesse congresso burocratizado e subordinado ao governo e atores do regime.

Em outra canção, gritamos:

Ei burocrata vê se fica ligeiro
Chegou os comunista que veio pra lutar
Eu não aceito esse seu arcabouço
E essa frente ampla que vai nos amassar
Eu não me calo contra a extrema-direita
E nem viro aliado de quem quer atacar

Faísca não aceita não
Lutamos contra os ataques
E os governos do patrão
Gritamos por nossos direitos
Contra a terceirização
Por um bloco independente
Contra a conciliação

"Ei, burocrata" é explícita nesse ponto: é necessário construir um movimento estudantil independente dos governos, patrões e reitorias e não há como sem essa independência se opor aos ataques que são herança dos governos golpistas de Temer e Bolsonaro (reforma trabalhista, reforma da previdência, lei da terceirização irrestrita) ou aos ataques que hoje estão sendo levados a frente pelo governo de frente ampla Lula-Alckmin (Novo Ensino Médio, Marco Temporal e, particularmente como produção sua, o Novo Arcabouço Fiscal).

Em outra canção:

Ô burguês eu quero eu quero
É sentir teu desespero
Que a faísca tá chegando
E faísca não tem medo

Pra lutar pela educação
Sem reforma e a agonia
Contra a paralisia
Que a UNE tem na direção!
Contra a precarização!
O ombro a ombro do operário
Aqui é diário!
Aqui é diário
Contra ataques do governo
E contra ataque do patrão!

Cantado como um coco de roda (inspirado em "Brilhantina" de Renata Rosa), essa entre outras músicas de agitação (bem como nossas faixas, poemas, artes de conjunto) é parte também de uma reflexão mais ampla sobre arte, sobre a necessidade de nos embebedarmos de referências artísticas, rítmicas e estéticas pra trazer um sentido ainda mais profundo à nossa agitação: basta das limitações artísticas apregoadas pelo stalinismo! Basta do odor de naftalina e da mancha de sangue que deixaram na história o realismo soviético e o Jdanovismo! Não levamos com nenhuma demagogia ou auto-proclamação quaisquer um dos versos nessas canções. Quando levantamos a essencialidade da aliança operário-estudantil, não o fazemos pela beleza de dizer que “O ombro a ombro do operário aqui é diário”, mas por mesmo após os cinco dias de CONUNE, estarmos presentes em solidariedade às greves da enfermagem como no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte. Quando agitamos contra um inimigo da enfermagem na abertura e correntes como a UJC tentam se apropriar como tendo concebido a manifestação, questionamos aos companheiros: onde estão suas forças nessas greves?

Da mesma forma, quando agitamos

Qual a direfença do Afronte! e do PT?
Um vai mandar, o outro obedecer

Tentam nos colocar como despolitizantes, mesmo que a palavra de ordem seja um apontamento político claro: uma das correntes que se diz oposição à direção majoritária da UNE deu um salto em sua adaptação ao petismo quando abertamente reivindica ter votado junto com a majoritária em uma tese de conjuntura e sair em chapa para direção da UNE junto com o PT, com quem compõe o governo que leva à frente todos os ataques já citados.

Aos questionamentos das palavras de ordem, os sintomas de claro incômodo daqueles a quem as lutas políticas se endereçam se expressam em respostas que se reduzem ao mero ataque pessoal ou à tentativa de questionar nossa política questionando nosso tamanho. Há algo a ser dito sobre isto na história. Em visita a Leon Trotsky durante seu exílio na Noruega, o jovem socialista Fred Zeller relata sua surpresa com o tamanho da fração bolchevique-leninista no país:

Também me surpreendeu saber, durante a votação e a verificação dos mandatos, que os bolcheviques-leninistas eram apenas quatrocentos membros em todo o país. Com todo o barulho que faziam e os ataques diários a que eram submetidos, imaginara que haviam milhares... Trotski achou isso engraçado. Pensei então que essa jovem organização política revolucionária, que tinha tão poucos membros, mas emitia tanta influência e causava tanto medo em seus oponentes, era uma das forças do futuro. E que essa organização tinha que ser apoiada a todo custo, não importava o que acontecesse… [1]

Se nossa agitação atinge quem deve atingir, se (independente do tamanho que nos atribuam) um choque rosa treme as arquibancadas e pernas da burocracia estudantil, não é senão pela nossa mais plena convicção política no futuro pelo qual lutamos. Quando pelos corredores da UNB, pelos arredores do estádio Mané Garrincha, por toda a arena Nilson Nelson se ouviu a Anunciação da Faísca:

Contra a miséria e a opressão que agonia
A nossa luta é sempre internacional
O nosso mundo vai ter pão e poesia
Quando livrarmos a vida do capital

Eu sou, eu sou
Sou comunista até o final

Vou lado a lado com a classe trabalhadora
A unidade que tem força pra vencer
Na luta vamos derrubar a porra toda
Por uma vida que valha de se viver

Eu sou, eu sou
Sou comunista até o final

É a anunciação de uma juventude disposta a lutar por um movimento estudantil realmente combativo, realmente aliado à classe trabalhadora, que a anunciação do futuro que não negociamos e que carregamos em cada punho erguido, em cada grito, em cada tambor. É a anunciação de nossa fé inquebrantável (para citar Trótski) no futuro comunista da humanidade, nossa convicção inabalável na luta contra toda exploração e opressão e um chamado às nossas fileiras para toda a juventude que deseja batalhar por isso. É isso que nossa agitação significa.


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Araçá

Estudante de Letras da UFRN e militante da Faísca Revolucionária
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