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Leia a apresentação de Letícia Parks do novo livro "Mulheres, revolução e socialismo" das Edições Iskra

Letícia Parks

Leia a apresentação de Letícia Parks do novo livro "Mulheres, revolução e socialismo" das Edições Iskra

Letícia Parks

Publicamos a apresentação para a edição em português do livro "Mulheres, revolução e socialismo", lançado simultaneamente na Argentina, Estado Espanhol, México, Chile, Bolívia, Uruguai e Brasil. Um livro com escritos de Karl Marx, Friedrich Engels, Eleonor Marx, Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Inessa Armand, Vladimir Lenin e Leon Trótski. Trata-se da maior compilação de textos clássicos do marxismo sobre a questão da mulher já publicada no Brasil e em língua portuguesa. A apresentação foi escrita por Letícia Parks, militante do Pão e Rosas Brasil.

A atual edição publicada simultaneamente no Brasil, Estado Espanhol, Argentina, México, Chile, Bolívia e Uruguai, reúne escritos sobre mulheres e gênero de Karl Marx, Friedrich Engels, Eleanor Marx, Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Inessa Armand, Vladimir Lênin e Leon Trótski. Esses escritos mostram como a liberdade das mulheres, do gênero e o amor livre sempre fizeram parte da luta teórica e política pelo socialismo e pelo comunismo, como forma final da sociabilidade libertada das classes e da opressão.

A linha do tempo trazida pelas organizadoras revela a permanência do objetivo dessa sonhada liberdade. Nas elaborações pioneiras de Karl Marx, Engels e Zetkin, reunidas sob o título de Trabalhadoras do mundo, uni-vos, a classe trabalhadora é estudada em suas características e desafios e, pela primeira vez, é atribuído à ela e aos socialistas a enorme tarefa da transformação do mundo e, junto disso, a superação da opressão de gênero e da exploração de classe.

No segundo bloco, intitulado Mulheres e socialismo, entram as vozes das pioneiras que veremos serem repetidas por legiões de feministas em todo o mundo. A parcela feminina da classe trabalhadora é colocada em seu lugar de destaque: as mulheres, que não têm nada a perder a não ser seus grilhões, são peça fundamental na luta pelo socialismo. Zetkin, Eleanor Marx, Luxemburgo e Kollontai assumem não apenas a letra e o texto, mas também papéis dirigentes em seus partidos e nos processos de luta de classes dos quais participam.

Quando a classe trabalhadora vence e conquista o primeiro estado operário da história, a partir da Revolução Russa de 1917, coube a essas revolucionárias e revolucionários somarem aos seus textos as lições visíveis e os novos problemas que surgem a partir do momento em que o Estado passa para as mãos da classe trabalhadora. O terceiro e último bloco desta edição, Revolucionar o mundo, transformar a vida, reúne os textos de Zetkin, Armand, Lênin, Trótski e Kollontai, que apresentam os desafios que se tornam possíveis à medida que o céu é o limite.

Legalizar o aborto e garantir o direito à maternidade sem dor e sem fome, libertar as crianças das possíveis violências nos lares, livrar as mulheres do trabalho doméstico, permitir que os lares fossem ressignificados, sem tarefas exaustivas e de exclusividade feminina, fazendo do cuidado do outro uma tarefa coletiva.

A imaginação dos revolucionários sempre esteve adiante do que jamais pôde imaginar a consciência burguesa. Em 1922 foram os comunistas os primeiros a publicar uma carta programática internacional de reivindicações antirracistas. As resoluções do IV Congresso da III Internacional recuperaram premissas que estiveram presentes nas reflexões de Karl Marx – para quem “o trabalho de pele branca não pode ser livre enquanto o de pele negra for marcado a ferro” –, reivindicando o direito à igualdade salarial entre brancos e negros, à sindicalização das massas negras, à liberdade nacional e à autodeterminação dos povos, entre outras demandas que mobilizaram massas negras e colonizadas em luta. A classe trabalhadora – no Brasil, uma maioria negra – segue sofrendo os efeitos do patriarcado e do racismo. Não à toa os trabalhos mais precários têm cara de mulher e pele negra. Enfrentar o patriarcado e o racismo como parte das demandas fundamentais da classe trabalhadora e da luta de conjunto por uma sociedade sem classes e sem exploração nos aproxima historicamente dessas revolucionárias e revolucionários aqui publicados, fazendo com que cada letra sirva de exemplo e inspiração para enfrentar os desafios de nosso tempo, assim como sua audácia e decisão de construir um novo mundo serve para reconstruir em todas nós o horizonte do que temos potencialidade para ser.

É por isso que trazemos também à essa edição ilustrações que buscam representar cada um desses momentos e um novo – o que estaria por vir. A unidade para além das fronteiras foi materializada em uma arte que busca transmitir como, em cores e formas diferentes, por todo o mundo, lutamos em torno de desejos parecidos, de uma vida livre de opressão e exploração, de luta contra a violência capitalista. O papel dessas pioneiras foi representado em uma segunda arte, que homenageia a forma como são permanente fonte de inspiração à qual recorremos para rever nossos passos e extrair novas lições. A terceira arte busca simbolizar as memórias e passos que compõem a nossa luta pela liberdade de gênero, trazendo as imagens que fazem parte da legião de passos de anônimas que transformaram as formas da nossa vida hoje, aqui e agora. Por fim, me coube um desafio que por muitas semanas parecia intransponível: imaginar e trazer ao papel o que seria a vida comunista, livre de opressão e da exploração capitalista.

Buscando suprimir os futurismos abstratos, imaginei o que parece ser o desejo de muites de nós: uma sociedade sem explorados e exploradas; onde se transita pelas ruas com corpos livres, gordos, magros, como forem, inteiramente cobertos ou seminus, como quisermos. O tempo do trabalho é mínimo e com essa rotina leve sobra tempo para dançar, desenhar, cantar, de forma que, a cada olhar pelas ruas, é possível ver que até os tetos de edifícios mais inacessíveis se transformaram em palcos. Nos reconciliamos com a natureza, e paramos de nos afastar do verde e do frescor. Fazemos da natureza nosso local de moradia, transformando o que chamamos de nosso habitat e permitindo que as trepadeiras invadam nossas vidas. Nos medicamos, criamos, produzimos e fabricamos com o objetivo de aumentar nosso tempo de vida e de reconstituir o ecossistema que o sistema capitalista destruiu. Pintamos nossos corpos por inteiro, nos sentamos pela rua para ouvir os contos e lendas de cada povo e nos divertimos com a possibilidade de que cada um possa viver e acreditar no que quiser. Nosso horizonte é a liberdade, a alegria e o desenvolvimento científico para gerar o máximo necessário com o mínimo tempo de trabalho. Como disse Leon Trótski em Literatura e Revolução, "a mulher sairá por fim de seu estado de semiescravidão" e sem nenhuma monotonia e profundo dinamismo, parafraseando o revolucionário, sobre os picos de desenvolvimento dessa nova humanidade, se elevarão novos cumes, sobre os quais, talvez, haja ainda mais dançarinos.

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Letícia Parks

do Quilombo Vermelho
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