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Peru | Comunidade peruana denuncia: empresa brasileira fornece bombas de gás para repressão no Peru

Conforme denúncia do Jornal La República, do Peru, avião da Força Aérea Peruana (FAP) teria vindo ao Brasil, à empresa Condor Indústria Química, para buscar 28.000 bombas de gás lacrimogêneo para reprimir as manifestações populares, que se colocam contra o golpe efetivado contra o presidente eleito Pedro Castillo e enfrentando a presidente golpista Dina Boluarte, legitimada por Lula no final do ano passado. A comunidade peruana no Brasil enviou uma carta ao presidente questionando essa medida.

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

terça-feira 17 de janeiro de 2023 | Edição do dia

As 28.960 bombas foram compradas pela Polícia Nacional de Peru no dia 20 de dezembro de 2022, ao custo de US$ 495.356 (aproximadamente R$2,7 milhões de reais) da empresa brasileira Condór Industria Química, na figura de Luis Montero. Além dessa aquisição, a Polícia Nacional Peruana também adquiriu 2.270 cartuchos de gás lacrimogêneo, 2.355 balas de borracha e 2.270 granadas de fumaça da Fábrica de Munições e Armamentos do Exército Peruano (FAME), totalizando um total de US$196.242 (mais de R$1 milhão de reais) gastos. Essas medidas reforçam a linha e a intenção do governo golpista de Diana Baluarte em seguir e aumentar a repressão contra as manifestações, que já somam cerca de 50 mortos e centenas de feridos.

Em trecho de carta aberta, a comunidade peruana diz: “acabamos de nos informar que uma empresa Brasileira está fornecendo as Bombas com Gás Lacrimogêneo, que atingem na cabeça e nos olhos das pessoas que estão se manifestando, ocasionando feridas graves incluso mortais, pois os Militares atiram pra MATAR no Peru, sei que vocês sabem muito bem disso pois o Brasil conhece os processos próprios e da América Latina, disso não tenho a menor dúvida. É por isso que pedimos ao Companheiro e amigo do Povo, Luís Inácio Lula da Silva, possa interferir e não permita que este conluio entre forças armadas seja realizado, pois os que estão sofrendo com esta ofensiva são justamente esse povo periférico, camponês, indígena e esquecido”.

A situação no Peru tem se escalado com o massacre de quase 20 manifestantes pela Polícia Nacional na ultima semana em Juliaca, distrito de Puno. Como resposta, várias comunidades andinas se manifestaram, e inclusive na capital do Peru, Lima, ocorreram manifestações contra a repressão e pela renúncia de Dina Boluarte. Durante o final de semana, se organizaram caravanas do sul do país com destino a Lima. Na manhã de hoje, segunda-feira, as comunidades de Andahuaylas chegaram a Lima, onde se pretende realizar uma grande manifestação.

As demandas populares exigem o fim da repressão, a renúncia de Dina Boluarte e do Parlamento golpistas e uma Assembleia Constituinte. As comunidades do sul do Peru, estão há anos resistindo contra a exploração das grandes mineradoras internacionais que destroem o meio ambiente, contaminam as águas dos rios causando inúmeros problemas de saúde na população e seguem retirando as riquezas e os lucros exorbitantes para fora do Peru.

Há um enorme questionamento ao Parlamento e aos políticos de conjunto, em um país marcado por 4 ex presidentes presos por corrupção e um que cometeu suicídio para não viver o mesmo destino, este questionamento produziu manifestações massivas da juventude no final de 2021, quando Vizcarra sofreu impeachment e seguiram Merino, Sagasti, em uma semana na qual o Peru teve três presidentes. Este questionamento também se estende parcialmente ao Poder Judiciário que cumpre um papel central na submissão ao imperialismo estadounidense se utilizando de manobras vinculadas a descobertas e revelações da Operação Lava-Jato, que neste país também afetou profundamente a política.

Lula havia saudado o governo Boluarte no final do ano passando, afirmando que "É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional [...] O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática. [...] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social". Não há diálogo nem tolerância democrática, e sim a repressão das Forças Armadas e da polícia aos manifestantes que se opõem ao golpe baseado na repudiada constituição de 1993 arquitetada por Alberto Fujimori, que lançou as bases para uma política neoliberal. Boluarte serve à burguesia peruana e ao imperialismo norte-americano, que para ver prosperar o golpe recorre ao assassinato e à repressão. A posição de Lula, naquele momento, não se distinguiu da do próprio Bolsonaro, que também legitimou Dina Boluarte.

Com a nova medida em questão, o Brasil avança em sua colaboração com o governo golpista peruano, demonstrando ser um sustentáculo da subserviência ao imperialismo na América do Sul, ao permitir a entrada da Força Aérea Peruana para o envio de instrumentos para a repressão.

É necessário cercar de toda a solidariedade internacional o povo peruano, apoiando suas demandas imediatas e buscando avançar para apontar um programa que ataque de fundo os lucros das grandes mineradoras que estão por trás dessa crise, que financiam os parlamentares e querem colocar no poder um governo que seja capacho da manutenção da exploração mineradora predatória que destrói o meio ambiente e as comunidades camponesas e indígenas da região, de joelhos ao imperialismo. É necessário aprofundar a organização e a mobilização do povo até que o governo golpista de Dina Boluarte seja derrubado, contando com o apoio internacional aos protestos das massas peruanas contra o regime golpista, as Forças Armadas e o Estado capitalista do Peru.

Para deter a repressão, é preciso através da mobilização impor aos sindicatos e às organizações sociais um verdadeiro plano de luta pela base. Um plano de luta que deve ser discutido democraticamente nas organizações a nível das regiões, cidades e vilarejos. Este seria um primeiro passo importante para lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, em que o povo trabalhador, os camponeses e os povos originários possam colocar todas as questões - como saúde, educação, os recursos naturais do país - em discussão, e atacar a propriedade privada dos capitalistas, a posse dos recursos naturais e a precarização do trabalho. Esta experiência, por sua vez, permitiria a compreensão de que, para estes interesses e necessidades, é necessário avançar também na auto defesa que garanta a efetivação destas demandas e avançar para lutar por um governo dos trabalhadores e do povo pobre.

Além disso, no Brasil, essa solidariedade internacional passa pelo repúdio às posições de Lula e à conivência do país com a repressão ao povo peruano. É preciso impor com luta o fim do envio dos instrumentos de repressão ao Peru. Nós do Esquerda Diário, no final do ano passado, chamamos a esquerda brasileira e fomos parte de impulsionar, em várias cidades, manifestações de solidariedade à luta dos trabalhadores e do povo pobre do Peru contra a extrema direita e os golpistas, junto à comunidade peruana no Brasil. Novamente, neste domingo, estivemos em ato contra o governo golpista e toda repressão. A luta da classe trabalhadora, em aliança com o campo e toda população oprimida, é o único caminho para o povo peruano, e exige no Brasil uma esquerda independente do governo para enfrentar a extrema direita e o regime dentro e fora do país.




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