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Editorial do MRT | Há 83 anos de seu assassinato, León Trótski vive nas batalhas por uma alternativa revolucionária no Brasil e no mundo

No dia 21 de Agosto de 1940, era assassinado quem, nas palavras de Winston Churchill, foi “o ogro da subversão internacional”. León Trótski faleceu odiado e temido não somente pelo stalinismo, que o assassinou, mas por todos os governos capitalistas, do fascismo às democracias imperialistas. Para aqueles que se atreveram contra esse sistema, Trótski entrou para a história como dirigente, junto a Lênin, da grandiosa Revolução de Outubro na Rússia, a maior obra revolucionária da história da classe trabalhadora internacional, e como símbolo dos que não se venderam ou sucumbiram, dos inconciliáveis, dos que batalharam pela continuidade do marxismo revolucionário mesmo diante de algumas das mais profundas derrotas da luta de classes mundial após a Revolução. Por isso, até os dias de hoje, para a burguesia, o diabo se chama Trótski, e, mais do que nunca, homenageá-lo no mês de seu assassinato exige retomar sua teoria a serviço de um programa e estratégia para vencer no século XXI.

quinta-feira 10 de agosto de 2023 | Edição do dia

Há mais de uma década da crise de 2008, com uma guerra em curso na Europa envolvendo as principais potências mundiais, o capitalismo demonstra mais uma vez sua completa decadência. Se podemos dizer que a época imperialista descrita por Lênin como época de “crises, guerras e revoluções” se reatualiza, precisamos dizer que ser trotskista no século XXI, nessas condições, não se trata de um problema de “nome” ou de somente resgatar as brilhantes citações do grande revolucionário russo, tão necessárias. Trata-se de reivindicar e buscar estar à altura de aplicar na prática sua teoria, que, com bases científicas, fundamenta um programa e uma estratégia para que os explorados e oprimidos possam vencer, possam expropriar os expropriadores, derrotando uma burguesia decadente que com sua polícia assassina crianças e seus sonhos, para construir uma sociedade imensamente superior, o comunismo.

Por isso, quando recentemente uma juventude revolucionária e comunista protestou contra um ministro do STF em um Congresso nacional de Estudantes, algo que poderia ser elementar para qualquer setor da esquerda diante de uma figura asquerosa como Barroso, que atacou a enfermagem, a linha de frente da pandemia, e articulou o golpe institucional de 2016, boa parte da grande mídia não hesitou em nomeá-la pelo que ela é. Foi uma ação de um grupo de trotskistas, remarcaram, uma “deselegância trotskista”, da extrema esquerda. Mas por que isso expressa o que é ser trotskista no Brasil da frente ampla de Lula-Alckmin e do autoritarismo judiciário? Porque significa resgatar, como ponto de partida, um dos princípios mais basilares da Teoria da Revolução Permanente de Trótski, um de nossos guias para a ação: a necessidade inegociável da independência política da classe trabalhadora e da juventude frente à burguesia, seu Estado e suas instituições, premissa tão elementar, mas tão rifada e renegada pela esquerda brasileira. Significa não abaixar a cabeça para nenhum dos nossos algozes e batalhar para que a classe trabalhadora, com as mulheres, negros, LGBTQIAP+ e indígenas à frente, possa emergir como sujeito revolucionário para dar uma saída de fundo aos problemas do país.

Afinal, o mito da burguesia nacional progressista, desmascarado por Trótski e pelos bolcheviques há mais de um século, já demonstrou sua catástrofe na história recente da América Latina, quando, mantendo intocados os problemas estruturais do capitalismo neste continente (e em todo o mundo), o ciclo dos chamados governos pós-neoliberais abriu espaço para a direita e a extrema direita com a conciliação de classes. No Brasil, essa burguesia demonstrou sua sanha violenta quando endossou o projeto de Bolsonaro, como forma de avançar contra a classe trabalhadora aprofundando os traços mais selvagens do capitalismo brasileiro. Apoiou-se no agronegócio herdeiro do latifúndio escravagista, nas forças repressivas do Estado que mais uma vez fazem suas chacinas pelo país, na cúpula das Igrejas e na maior subordinação ao imperialismo, como sua sócia menor. Ao mesmo tempo, é essa burguesia que, aderindo em grande parte à frente ampla de Lula-Alckmin, em um novo pacto da conciliação de classes na crise, reorganizou o regime político para que seus interesses sejam preservados: para manter as reformas anti-operárias dos últimos anos em nome de seus lucros, para satisfazer o Centrão com cargos e privilégios, para avançar com mecanismos como o Arcabouço Fiscal em prol dos grandes bancos e com bloqueios bilionários na saúde e educação, e para seguir oprimindo os povos originários, a juventude negra e as massas trabalhadoras.

Não à toa, quando se colocou a furiosa luta dos mais oprimidos dentre os explorados na revolta peruana, Lula e o PT atuaram para fortalecer a reação da burguesia racista desse país, prestando serviços aos Estados Unidos e legitimando a golpista Dina Boluarte, com suas mãos sujas de sangue indígena. Lula posou novamente a seu lado agora, na Cúpula da Amazônia, onde, em meio a muita demagogia, quer o aval para a extração de petróleo na foz do Amazonas, contra os povos indígenas da região e sua rica biodiversidade. Além disso, a Bahia governada pelo PT é a campeã em letalidade policial em números absolutos no país. É isso o que a conciliação de classes tem a oferecer, abrindo espaço para a extrema direita, e materializada não apenas no governo, mas também nas burocracias que existem no interior do movimento de massas para dividir e frear nossa luta. A burocracia sindical, estudantil e nos movimentos sociais são os que mais trabalham em favor da resignação, desmoralização e apatia entre os de baixo agindo como correia de transmissão dos interesses da burguesia dentro dos movimentos e impedindo que a classe trabalhadora possa emergir como sujeito hegemônico independente. Trata-se de um gigante obstáculo para que revoltas populares que possam surgir e demonstrar o mais profundo do ódio acumulado das massas se transformem em revoluções triunfantes. Pelo contrário, como elaborou Trótski, para a revolução, é preciso um partido que batalhe pela unidade da classe trabalhadora, atualmente fragmentada entre efetivos, terceirizados, informais uberizados, e que impulsione seus organismos de auto-organização, recuperando as melhores lições da democracia soviética. Assim, essa classe pode ser capaz de hegemonizar os interesses de todos os oprimidos, na cidade e no campo, munida de um programa para que os capitalistas paguem pela crise.

Por isso, chamamos a homenagear León Trótski no mês do aniversário de seu assassinato conhecendo sua teoria. As edições Iskra, com sua Coleção Trótski, estão lançando novas publicações, como o livro “A Revolução Traída”, que é uma verdadeira arma para explicar a degeneração burocrática da União Soviética e o papel contrarrevolucionário do stalinismo na história, e o “Programa de Transição”, que, nas palavras de Trótski, parte das condições e da consciência de amplas camadas da classe operária de seu tempo e busca conduzir a apenas uma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado. Munidos dessas ideias, nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) impulsionaremos uma série de iniciativas, a partir do Esquerda Diário, do Podcast Espectro do Comunismo e do Suplemento teórico Ideias de Esquerda, em homenagem a León Trótski neste mês, participando de mesas de debate e buscando fazer seu legado conhecido e vivo.

Mas, mais do que isso, para levar essas ideias até o final, chamamos cada jovem e trabalhador que se enoja com esse sistema a batalhar para construir uma alternativa revolucionária que supere pela esquerda a conciliação de classes do PT no Brasil. Essa tarefa é mais do que atual, quando o PSOL é parte do governo, possuindo correntes que reivindicam o trotskismo, mas são da tradição do argentino Nahuel Moreno, e estão abraçando a frente ampla, e quando o stalinismo veio buscando se revitalizar por distintas vias, seja pela UP, seja pelas alas que se mostram na crise atual do PCB, sempre significando conciliação de classes. Por isso, a serviço de construir essa alternativa, chamamos toda a juventude que se inspira pela ideia, mesmo difusa, do comunismo, a se organizar nas Assembleias Comunistas da Faísca Revolucionária, que estamos impulsionando em dezenas de universidades pelo país. Nessas Assembleias, queremos chamar cada jovem a conhecer e construir a juventude trotskista Faísca Revolucionária, que escorraçou Barroso em defesa da enfermagem e que batalha por um plano de lutas junto aos trabalhadores para derrotar todos os ataques. Nosso objetivo final é uma sociedade sem classes nem Estado, sem exploração e opressão, na qual os sonhos das crianças como Thiago não sejam ceifados pelas balas da polícia assassina e possamos restabelecer uma relação harmônica no metabolismo comum entre ser humano e natureza.

Mas, acima de tudo, essa alternativa exige construir um verdadeiro partido revolucionário e internacionalista no Brasil que seja parte da batalha pela reconstrução da IV Internacional, fundada em 1938 por Trótski sob imensa perseguição. É a serviço dessa batalha que construímos a Fração Trotskista em 14 países, impulsionando uma Rede Internacional de Diários digitais que está a serviço das lutas e demandas dos explorados e oprimidos. Neste momento, na Argentina, o PTS de Myriam Bregman e Nicolás Del Caño faz uma grande campanha como porta-voz da exemplar luta do povo de Jujuy, com um programa anti-imperialista contra o saque do FMI e pela redução e divisão das horas de trabalho sem redução salarial unificando empregados e desempregados.

Parafraseando o que escreveu Trótski sobre seu filho, também assassinado pelo stalinismo, a todes que trabalham, sofrem e lutam por um mundo melhor, o comunismo, aceitem de nós a homenagem a León Trótski e deixem que, a partir de agora, ele participe invisível dessas batalhas, sempre com uma confiança inabalável no futuro comunista da humanidade.




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