Felipe Guarnieri, metroviário e delegado sindical da Estação Santa Cruz, direto de Porto Alegre entrevistou rodoviários demitidos da empresa Carris por conta de uma paralisação na segunda (03/08), em meio as mobilizações do funcionalismo público contra os planos de ajustes do Governo Sartori no Rio Grande do Sul.
quarta-feira 12 de agosto de 2015 | 01:17
Esquerda Diário: Há quanto tempo você trabalha na Carris, Emerson, e como foi essa luta que vocês fizeram na segunda-feira? Foi a primeira vez que você participou de manifestações?
Emerson: Eu estou na empresa completam 5 anos agora em dezembro e não é a primeira vez que eu participo de manifestações. Já houveram outras em que eu não estava na linha de frente, mas eu sempre apoiei porque eu acho toda luta justa eu acredito que todo mundo tenha o direito de lutar pelo seu bem estar e pelo bem estar dos outros. Aqui em Porto Alegre vem acontecendo uma série de assaltos a transportes coletivos, e eu soube de colega que tomou um tiro na mão, outro tomou uma tijolada na cara, um outro colega motorista de microônibus foi esfaqueado e veio a óbito... isso consequentemente fez com que a gente fosse trabalhando com medo. Eu, como motorista de ônibus, pego às 5 horas da manhã o pessoal que sai pra trabalhar ou o pessoal que tá chegando, e nós estávamos trabalhando com medo. Tentava-se fazer alguma coisa, buscar alguma coisa junto à empresa com o pessoal da segurança e nada foi resolvido, foi só passando e passando até que a polícia soltou uma nota dizendo que ela ia parar e que era pra população não sair de casa. E esse foi o estopim: "- Pessoal, é a minha vida, é tua vida, o que a gente vai fazer se quando tinha polícia já não tava seguro?"
No mês de julho foram 27 assaltos e o que é que vai acontecer agora? Eu tenho família! E aí, a minha vida vale um dia de trabalho? Então vamos nos solidarizar com os servidores que pararam, pessoal dos bancos também parou... então por falta de segurança a gente resolveu parar. Mas a gente não proibiu ninguém de sair; o pessoal achou que era perigoso mesmo, que não tinha segurança. Tanto que teve um carro da PM às quatro e meia quando cheguei na garagem e vieram conversar conosco ali, e o policial passou pro comandante dele que ninguém tava trancando o portão:"Ah, olha, comandante, ninguém tá trancando o portão. O pessoal tá com medo de sair pra rua."
E realmente, não tem viatura, não tem segurança.... o pessoal decidiu por não sair.
ED: Como voce enxerga essa retaliação da empresa demitindo os cinco companheiros e abrindo processos administrativos em mais dois numa situação em que vocês estavam protegendo a vida de vocês, a vida dos trabalhadores?
Emerson: Olha, meu amigo, eu te digo que não é a primeira vez, porque esse presidente costuma ser rígido nas decisões dele assim, e quando estamos em um movimento, ele nao tem acordo:- "Ah, vamos tratar de ganhar o dia, o ticket..."
ED: Quais são as medidas que vocês trabalhadores pretendem tomar a partir de agora depois dessas demissões?
Emerson: Cara, os nossos colegas acreditam que até que não foi feita muita coisa ainda porque o pessoal se sente intimidado porque já conhece a direção. Já sabe a direção que tem. Sabe que inclusive se fizer um grupo fechado no WhatsApp... soube-se que o setor jurídico tinha conversas, tinha alguém entregando todas as nossas conversas pra eles. Então o pessoal tá devagar nesse ponto ainda por medo. Mas nós estamos buscando o nosso direito: fomos no Ministério Público, agora vamos pra Justiça, agora tem já um movimento de colegas que estão entendendo que se tiver que perder, perde todo mundo... Então a gente vai continuar buscando, vamos fazer manifestação, vamos lutar por esse direito porque esse direito é de todos. É nosso e é de todos, então não adianta alguém que está ali decidir que é assim e pronto. Inclusive na minha cartinha de demissão veio que eu tô com uma associação criminosa. Eu nunca foi criminoso, nunca tive passagem pela polícia, como eu disse eu curso direito, tranquei a faculdade agora, entrei pela porta da frente, sou um patrimônio da empresa e eu não vou aceitar ser demitido assim. Posso sair da empresa futuramente porque eu quero seguir adiante e melhorar de vida mas eu não vou aceitar e tenho certeza que é o pensamento de todos e nós vamos até o final. Vamos lutar, vamos brigar, vamos manifestar, vamos buscar em outras esferas. Eu acredito também que a nossa mobilização cada vez mais vai trazer pessoas pro nosso lado porque eu vejo muito o pessoal falar, que você tá indignado, você tá triste, você tá decepcionado, falando mal... e a tendência é que essa luta [perdure um pouco mas ela vai ser contínua sim]
ED: Pra finalizar, dê uma mensagem para outros trabalhadores para poderem apoiar a luta dos trabalhadores da Carris contra essa demissão.
Emerson: Olha, o que eu tenho a dizer aos colegas é que quando tinha manifestação, quando eu peguei o microfone pra falar, eu falei abertamente, falei dos meus sentimentos, não menti, não forcei nada, só falei o que eu sentia. Da mesma forma eu sou realista pra dizer que eu entendo a situação de alguns colegas que na hora da decisão entraram pra dentro da empresa e nos deixaram na mão. Cada um sabe onde aperta o calo, né? Talvez tenha um filho com problema, uma esposa, uma família... Todos sabem de si, então não posso julgar os colegas. Mas o que eu tenho a dizer aos colegas é o seguinte: cara, não tenham medo de lutar. Lutem pelos seus direitos, porque nós estamos amparados e a união faz a força. Quanto mais gente vier para o nosso lado, eu tenho certeza que essa quadra vai ficar cada vez mais forte e mais firme, porque quem erra, quem oprime, quem não age com a lei, com certeza mais cedo ou mais tarde vai ser punido. Então a nossa ideia é nós irmos até o final, e os colegas não tenham medo de abraçar essa causa, assim como nós também não temos medo de abraçar a causa, e dessa forma eu também me solidarizo com todos os amigos e os colegas que foram demitidos dessa forma. E no que precisar pode contar com a gente. Mas eu digo aos colegas que não tenham medo, porque essa luta é de todos e é para todos.