×

METRÔ DE SP | Colisão de trens na Linha 15 do Metrô-SP é fruto da política de privatização do governo

São Paulo amanheceu com um grave acidente entre as estações Jardim Planalto e Sapobemba do Metrô, Linha 15 Prata Monotrilho. Dois trens colidiram, devido à ausência de um sistema de proteção eficaz e de falha grave no sistema de comunicação via rádio.

quarta-feira 8 de março de 2023 | Edição do dia

Trabalhadores do metrô e a população novamente correm risco de vida diante da política de privatização e terceirização do governo de SP e da direção do Metrô.

Nesta quarta-feira, dia 08/03, mais uma vez, se mostraram os graves riscos da política de privatização e terceirização do governo de SP no Metrô. A falta de investimento no Metrô público nas décadas de governo tucano, e agora com Tarcísio, somada à terceirização dos setores da manutenção e ânsia de privatização para gerar lucros aos empresários, promoveu mais um acidente no Monotrilho.

A colisão dos trens entre as estações Jardim Planalto e Sapopemba é mais uma das muitas que já ocorreram na Linha 15-Monotrilho como demonstra essa reportagem de Adamo Bazami.

A primeira conclusão é que não é a primeira e nem será a última vez que acontecerá acidentes gravíssimos como esse se essa política não for revertida.

Diante dos fatos, os trabalhadores e o sindicato exigiram imediatamente segurança para poder trabalhar e não assumiram nenhum outro trem enquanto não fosse afastado o risco a suas vidas e da população, ou seja, até que a Direção do Metrô fornecesse uma garantia e se responsabilizasse pela segurança do sistema operacional.

O Sindicato dos Metroviários em nota se posicionou reivindicando sua atuação junto com os trabalhadores, impedindo que a população fosse vítima da irresponsabilidade do Governo e da direção da empresa.

A FENAMETRO também soltou posicionamento denunciando o acidente como uma tragédia anunciada, devido às diversas irregularidades encontradas nesses anos de operação do monotrilho. Veja nota da FENAMETRO no final deste artigo.

A direção do Metrô quis desviar do tema da precarização operacional do Monotrilho, para tentar individualizar a responsabilidade para os operadores de trens e responsabilizar o sindicato pela paralisação do sistema. Aliás, como sempre faz, tentando camuflar e esconder os problemas gerados pela privatização e sua responsabilidade sobre o incidente e todas as suas consequências.

Os trabalhadores e o sindicato não são os responsáveis pelos transtornos enfrentados pela população hoje de manhã. Pelo contrário, são os responsáveis por evitar uma tragédia ainda maior, que colocasse em risco a vida da população, por garantir que o sistema voltasse a operar apenas em condições seguras. Atitude essa que a empresa não teve. Os trabalhadores e o sindicato deixaram claro que não aceitarão nenhuma ameaça de responsabilização individual dos trabalhadores.

Se mostrou o risco gravíssimo gerado pelas decisões do Metrô, pela implementação de um sistema sem medidas de segurança suficientes na Linha 15, pela precarização que se expressa em falhas na iluminação e no sistema de comunicação nessa linha. Além disso, o Metrô veio tomando medidas no ano passado para retirar os operadores de trem dessa linha, que são uma camada fundamental de segurança para a população - o que foi enfrentado com a mobilização dos trabalhadores, em defesa da segurança para a população, que mostrou seu apoio. Também os operadores de trem do Monotrilho Linha 15 exigem corretamente a colocação de cabines nos trens para aumento da segurança operacional no Monotrilho imediatamente.

É necessário que qualquer investigação que seja realizada seja feita a partir das CIPAs e de comissões dos trabalhadores e do sindicato, independentes da empresa e de seu interesse em camuflar os riscos gerados por sua política de precarização. Para que o centro do problema seja abordado, ou seja, os impactos negativos da terceirização e privatização em nome do lucro dos grandes empresários.

A única saída de fundo para esse problema é o fim das terceirizações, com mais contratações e a efetivação de todos os trabalhadores que estão trabalhando atualmente sob péssimas condições de trabalho, e com menos salários e direitos. Um Metrô seguro, livre da corrupção empresarial, e 100% estatal como seu caráter público, só será garantido com a estatização de todas as linhas sob controle dos trabalhadores e da população.

NOTA DA FENAMETRO:

No final do ano passado (29/10), houve queda do sistema RATP região 1 no final da tarde (das 16:05h às 17:05h). Como ao mesmo tempo houve outra ocorrência de sistema, gerou IN 111.

Foi aberta falha urgente número 000200124451. Houve uma outra falha urgente aberta e outra ocorrência, mais especificamente sobre o RATP (sem dados até o momento).

Houve queda desse sistema também na região 1, ficando inoperante das 04:25h do dia 29 até às 02h do dia 30/10.

RATP é um dos sistemas da IHM. Existe outro chamado RATO.

E o sistema que mostra a bolha do trem é o CFMS. Esse caiu durante o IN mencionado (mas não incluíram os dados no relato do Incidente Notável).

O RATO é o que geralmente cai ou dá umas piscadas, mas a consequência é que o CCO da L15 perde os comandos sobre os trens, AMVs, sinaleiros etc.

O RATP é o que teoricamente garante a segurança. Em tese tinha sido a primeira vez que caiu e somente após reestabelecer é que foi percebido que o CFMS também havia caído, inclusive mudaram um procedimento sobre essa questão após essa ocorrência.

Quando o RATP cai, por segurança, quando volta, o sistema volta com MRR imposta em toda a via. Na prática fica com código 0 e algumas seguranças a mais (AMVs travados, por exemplo).

Explicando um pouco o funcionamento:

Quando esses sistemas de segurança caem, na tela da central o trem tem que ficar vermelho, indicando a situação anormal (sem comunicação). Isso faz com que o CCO da L15, ou CC15, adote algumas providências de segurança.

No entanto, nessa ocasião, os trens vindos do pátio ficaram pretos, que significaria condições normais do sistema. Na troca de turno, por acaso, quem assumiu deu alguns comandos que não foram reconhecidos pelos trens, daí então a descoberta da queda do sistema. Ou seja, apesar de na tela aparecer como localizado, os trens na prática não estavam sendo reconhecidos/localizados. No CFMS aparecia sem bolha naqueles trens. Isso significa que se alguém do CC15 enviasse algum trem pras linhas em que os Não localizados estavam estacionados, na prática não seriam detectados e colidiria.

Por sorte era um fim de semana, havia apenas um trem na região, o que evitou que houvesse tal situação trágica. Outra sorte é que como a queda do outro sistema demorou bastante pra normalizar, foi acionado o PAESE e fez com que houvesse a percepção da outra falha, pois se o RATP tivesse apenas piscado e normalizado, o CFMS estaria fora, mas na tela não identificariam nada de anormalidade, a menos que alguém decidisse verificar o funcionamento de outro monitoramento que fica em segundo plano.

Com essa situação, o novo procedimento é que se houver percepção de que o RATP piscou, não deve ser movimentado nenhum trem e deve ser verificada a condição do CFMS. Mas não necessariamente é perceptível a todo o momento essa piscada, então o sistema em si não garante a segurança.

IMPORTANTE OBSERVAÇÃO!

A outra colisão que ocorreu no Monotrilho, teve problema de sistema e na época criticamos que uma implantação de cerca de R$1 Bi dependesse de bilhetinho de troca de turno pra garantir a segurança. No caso dessa ocorrência do final do ano passado, fica demonstrado com a mudança do procedimento, que a garantia da segurança do sistema depende de algo visual para que a pessoa tome as providências. Mas o sistema antigo (ATC), tinha o que chamávamos de falha segura, pois tudo que acontecia que envolvia a segurança do sistema, ele próprio fazia o trem parar até que alguém verificasse o que está ocorrendo.

Remetendo para a colisão de hoje:

O sistema não reconhece automaticamente quando um trem que se movimente sem imposição de MRR (essa imposição é feita por comando). Então o trem que vinha em automático não detectou o outro.

Agravantes:

A comunicação da L15 não funciona. Tanto que os operadores de lá precisam usar seus próprios celulares pra falarem com o CC15, inclusive são cobrados se não estão com celular;

O sistema depende de intervenção humana para que haja a garantia da segurança (no sistema antigo, uma mesma ocorrência não geraria esse acidente, visto que detecta automaticamente um outro vindo em direção contrária). No caso do acidente, o trem que colidiu estava em AM do CBTC e não reconheceu o trem à frente;

Atualmente, por falta de funcionários, os trabalhadores do CC15 e CCO estão assumindo simultaneamente mais de um console. Sendo passageiros e elétrica, ou linha ao mesmo tempo de pátio (com comunicações constantes de manobras, falhas, preparações etc enquanto monitora e atua toda a linha). Esses trabalhadores, que tiveram a periculosidade retirada injustamente, ganharam o processo e o Metrô não cumpriu; a argumentação do perito vai justamente nesse sentido, de que o operador do console monitora e opera sistema que tem que garantir segurança de campo;

Legenda:

Região 1 = Prudente, Oratório e Pátio;

RATP é o sistema que deve garantir a segurança dos trens;

MRR é “reserva de rota manual”, que não é algo automático, é um comando dado pelo CC15 para que os trens fiquem parados e sejam detectados em condições atípicas;

RATO é o sistema que garante os comandos para os equipamentos;

IHM é a interface humano/máquina;

CFMS é o sistema que gera a proteção (bolha) entre trens;

Bolha é uma condição virtual, como se fosse um envelope em volta do trem, onde esse envelope deve encontrar o outro, fazendo o trem parar com distância segura;

AMV é aparelho de movimentação de via;

AM é o automático do CBTC;

CBTC sistema de sinalização e controle da via e dos trens;

Isso tudo é a consequência da tentativa de liberar algo incompleto visando a Privatização. A ALSTOM e Bombardier são as empresas responsáveis. Inclusive, por elas, o Metrô já teria retirado operador de trens de dentro das composições, fazendo com que nessa ocorrência de hoje, por exemplo, se houvesse superlotação de passageiros, estariam sozinhos, sem atendimento imediato e, também haveria um impacto mais grave porque não teria freio de emergência aplicado. Um dos colegas, o que se machucou, poderia estar morto. No caso, seria um passageiro morto. Tudo em busca de lucros.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias