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CONVITE | Diana Assunção do MRT convida para atividade neste sábado com Nicolás del Caño

Esquerda diário entrevistou Diana Assunção, dirigente nacional do MRT, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP, e autora do prólogo de "Mulher, Estado e Revolução" de Wendy Goldman e da publicação "A precarização tem rosto de mulher"

sábado 28 de novembro de 2015 | 00:00

Como você vê a importância desta atividade no atual contexto brasileiro e latino-americano?

Acho que em primeiro lugar a vinda do companheiro Nicolas é uma grande oportunidade para tentar ver numa perspectiva mais ampla os desafios dos trabalhadores e da esquerda na região como um todo. Enquanto na Argentina a crise do "fim de ciclo" de Cristina Kirchner foi capitalizada pela direita burguesa de Maurício Macri, no Brasil é o governo do PT que aplica os mesmos ataques e ajustes que Macri "promete" para o país vizinho. Então fica claro que não podemos ter nenhuma ilusão em nenhum dos blocos que buscam administrar o capitalismo em nossos países. A tarefa de erguer uma esquerda de verdade, com completa independência de qualquer setor burguês, está mais viva do que nunca, e acho que Nicolas representa isso na Argentina.

Já de cara a experiência na Argentina mostra que frente à crise política que se aprofunda no país, com a prisão de Delcídio do Amaral, líder do PT no Senado e de André Esteves, importante banqueiro, é preciso levantar um programa que ataque os privilégios dos políticos e questione esta casta que enriquece sob às custas dos trabalhadores. Nicolas Del Caño ganha o salário de uma professora e doa o restante para as lutas em curso. Mais que isso, acreditamos que está colocado em nosso país debater a necessidade de uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela força das massas para rediscutir os rumos do país e não deixar nas mãos dos corruptos e dos partidos da direita e do governo resolverem qual a melhor forma de descarregar a crise econômica sobre nós.

Mas no Brasil não existem partidos à esquerda do PT? Em que sentido a experiência argentina traz de fato algo novo para nós?

É claro que temos sempre que lembrar que cada país tem algo muito próprio na sua experiência política, e não dá para transplantar diretamente o que se faz num país para o outro. Mas tem um grande número de questões que se colocam de maneira semelhante, e na verdade acho que toda a história de luta da classe trabalhadora está marcada por essa troca de experiências e de ideias entre os trabalhadores dos distintos países. Isso é ainda mais importante quando num determinado país a esquerda marxista e os trabalhadores conseguem confluir numa experiência de setores de massas. Acho que é algo nesse sentido que vem se desenvolvendo na Argentina, mesmo que ainda numa escala inicial, e creio que isso tem um potencial fantástico.

Bom, se formos pensar em partidos como o PC do B, nem dá pra falar muito, já que eles se colocam como "mais realistas que o rei", ou no caso específico, "mais governistas que o PT". Mas pensando nos partidos que de fato estão mais à esquerda, acho que com suas diferenças, nem o PSOL nem o PSTU estão se mostrando à altura dos desafios atuais. O PSOL está na verdade num caminho oposto ao que a situação exige: ao invés de buscar uma posição independente, esse partido renunciou a todo gesto de independência, aliás abandonou sequer toda crítica ao governo Dilma e está fazendo parte de uma frente com entidades e inclusive com os partidos da base de apoio do governo e de setores mais moderados da oposição burguesa como a Rede de Marina Silva etc. Tudo isso, é claro, de costas para a luta de classes. O PSTU, por sua vez, se mantém alheio aos debates nacionais mais importantes, e parece pretender se preservar buscando manter-se de alguma forma nas lutas sem cumprir nenhum papel de destaque capaz de apontar uma verdadeira alternativa. Continua bastante adaptado às direções oficiais da CUT e demais centrais burocráticas, e ali onde dirigem como na GM de São José dos Campos, se recusam a organizar uma verdadeira batalha de classe contra os ataques patronais, que pudesse ser um grande exemplo para a reorganização da classe trabalhadora em nível nacional.

Frente a esta situação, qual caminho pra construir uma esquerda verdadeiramente independente e de combate no Brasil?

Nós do MRT temos uma confiança inesgotável na capacidade de lutar, e nos momentos decisivos, na energia revolucionária da classe trabalhadora. Estamos acompanhando com muito entusiasmo a enorme resistência que os trabalhadores do país, desde as montadoras do ABC, passando pelas pequenas fábricas "anônimas", o funcionalismo público ou categorias organizadas como os professores, bancários e sobretudo agora petroleiros. E ainda mais vendo o processo dos estudantes das escolas públicas de São Paulo ocupando suas escolas contra Alckmin, temos todo esse processo como uma grande mostra das reservas que a nossa classe possui e a grande questão realmente é como construir no nosso país uma esquerda que esteja à altura desse desafio.

Estamos em importantes estados do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul entre outros, e buscando construir a partir de nossa presença nas fábricas, entre professores, metroviários, trabalhadores de universidades, bancários, trabalhadores dos correios e outras categorias um novo tipo de tradição no movimento operário, e por isso nossa atuação como parte do Sindicato dos Trabalhadores da USP, como parte da direção da APEOESP a partir da Oposição de Esquerda, com nossos delegados sindicais no Metrô de São Paulo, na Caixa Econômica Federal e em Correios, e com nossa participação na CSP-Conlutas está a serviço de enfrentar os planos de ajuste do governo na luta de classes. Da mesma forma, nossa presença nos centros acadêmicos é pra batalhar por entidades militantes, defendendo o programa da educação pública, gratuita e de qualidade e atuando lado a lado dos trabalhadores, como fazemos no Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ, no Centro Acadêmico de Filosofia de UFMG, como fizemos nos últimos dois anos no Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp e como agora vamos fazer no Centro Acadêmico de Educação da USP e no Centro Acadêmico de Letras da USP, o maior do país onde vencemos com quase 60% dos votos, derrotando a chapa governista.

Apostamos na confluência com estes setores que lutam contra os ajustes do governo, buscando as vias de se ligas a essas lutas sendo com uma militância ativa que cerque de solidariedade cada processo de resistência pra que possa vencer, seja com instrumentos como o Esquerda Diário impresso que estamos imprimindo aos milhares pra ser uma voz ativa de toda esta vanguarda que resiste contra os ataques do governo e da direita. Como uma organização revolucionária que tem peso importante na América Latina, principalmente na Argentina, apostando neste internacionalismo prático para avançar nas tarefas de nossa classe, junto com a juventude, e batalhar para ampliar nossa militância em vários estados do país, conquistando espaço nos sindicatos e centros acadêmicos para defender uma política independe, classista e revolucionária para preparar a vanguarda brasileira no enfrentamento aos ajustes e na luta por sua própria ferramenta revolucionária contra este sistema capitalista.




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