×

ESQUERDA DEBATES | Luciana Genro em Belo Horizonte, discurso à esquerda mas por fora das lutas

Com debates e um ato, quarta-feira foi um dia cheio para a esquerda em Belo Horizonte. O debate com Luciana Genro e Babá (ambos do PSOL) na UFMG reuniu cerca de 400 pessoas. Além disso ocorreu outro debate na UFMG onde participou Maria da Consolação (PSOL). Já o ato, uma das ações do “Outubro de Lutas” convocado pela CSP-Conlutas, com a presença de Zé Maria do PSTU, fechou por três horas as ruas de Belo Horizonte com cerca de 200 manifestantes, entre juventude, trabalhadores e moradores da ocupação William Rosa.

quinta-feira 29 de outubro de 2015 | 19:39

Da redação

No debate da UFMG, Luciana Genro centrou sua crítica sobre Eduardo Cunha, o governo Dilma e o PT. A ex-candidata criticou o governo Dilma, o PT e a política de ajuste fiscal e negociatas políticas, especialmente com o PMDB, que fortalecem ainda mais os setores conservadores como Cunha e a bancada evangélica. Para ela, “quando vem a crise é que a velha esquerda se iguala mais claramente à direita (...) e é isso que está acontecendo com a Dilma hoje”, se referindo à implementação do programa neoliberal pelo governo federal com a ajuda de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

Sem nomear, ela também criticou o papel de sustentação que alguns movimentos sociais tem em relação ao governo federal. Apesar de Boulos ser hoje a principal figura da esquerda que articula uma frente permanente com a CUT, um desses movimentos sociais que cumpre papel de sustentação do governo federal, ela reivindicou o MTST como um importante aliado nas lutas.

Da conjuntura internacional, Luciana disse que a direita e a “velha esquerda” se revezam no poder em todos países. Ela apontou que o único lugar onde ocorreu algo diferente foi na Grécia, onde o “Syriza nasceu da indignação popular” e criou uma terceira via diferente destas duas tradicionais.

Luciana Genro também se referiu à luta das mulheres e como o Congresso Nacional vem tentando atacar direitos das mulheres, como é o caso do PL 5069 e chamou o “Fora Cunha”, assegurando que o PSOL se fortalecerá na disputa das prefeituras em 2016. Para ela, “precisamos fazer um novo junho”, que tenha pautas e direção claras e lute por uma assembléia constituinte onde não haja financiamento das grandes empresas “e o povo ocupe a política”.

Babá (da CST-PSOL) centrou sua fala em uma “descomemoração” do aniversário de Lula e apontou como ele, símbolo do caminho do próprio PT, “deixou de ser um dirigente operário para se tornar um lobista da Odebrecht”, explorando os países africanos e se misturando na corrupção. Babá reivindicou fortemente o papel de Luciana Genro nas eleições presidenciais. Além disso, o vereador fluminense apontou como sua história de renúncia dos privilégios dos políticos – como a doação do salário que sobrava e das aposentadorias como deputado a lutas e greves – é o contrário dos privilégios que Lula e sua família começaram a ter garantidos pela máquina estatal. Para ele também é necessária uma saída à esquerda à crise política, contra o PT e a direita. Ao fim do debate não houve abertura para perguntas ou intervenções das centenas que ouviram o debate, somente 5 falas previamente decididas.

Sobre este dia, ouvimos Flavia Vale, dirigente do MRT

“As atividades do dia expressaram a enorme politização ao redor das alternativas pela esquerda ao governo Dilma e do PT e a oposição de direita. Mas infelizmente se mostrou uma divisão da esquerda em atividades centrais no mesmo horário, que mostra um caminho que não devemos seguir. Por um lado o PSOL atraindo diversos setores para um debate e por outro o PSTU buscando organizar (sem o apoio do PSOL) um ato de rua. Ficou mais claro que nunca como a esquerda não está vendo a importância de unir forças para dar uma resposta no terreno da luta de classes contra o ajuste.

O ato do ‘Outubro de Lutas’ não foi além dos atos rotineiros da CSP-Conlutas regionalmente, servindo pouco ou nada para o fortalecimento das lutas atuais, como a greve dos servidores do município de BH. Os debates tiveram em sua grande maioria a presença de jovens, marcando a sede de uma saída frente ao ajuste petista e de retiradas de direitos dos setores oprimidos ao longo dos 13 anos de governo petista, que abriu espaço para uma direita reacionária, machista e homofóbica em nome de sua governabilidade.

Com tamanha rejeição, o governo petista conta com um braço no seio do movimento de massas, como a CUT e a CTB. A traição da CUT à greve dos bancários não é um fator a mais. É uma mostra de que essa central impede a fusão da esquerda com os trabalhadores, atuando como agente de flexibilização dos direitos dos trabalhadores como a redução da jornada com redução do salário, o chamado PPE. O PSOL deve romper já com a Frente Povo Sem Medo e sair do espectro petista.

A grande marca da esquerda (tanto nos debates do PSOL quanto no ato da Conlutas, hegemonizado pelo PSTU) expressada nessa quarta-feira foi a falta de exemplos de luta dos trabalhadores e da juventude contra o ajuste petista como contra as demissões (que é a triste realidade de um polo industrial como Belo Horizonte e Contagem), contra o PPE e aliando a luta contra o desemprego e por melhores salários às demandas do povo que é atingido cada vez mais com o aumento das contas de luz, água, transporte, pelo direito ao aborto.

Também ficou mais evidente a falta de uma alternativa classista e revolucionária capaz de ser uma referência para trabalhadores e jovens. Um polo classista e anti-governista poderia atuar nas bases das grandes centrais buscando dar exemplos de lutas para fortalecer os trabalhadores e a juventude. Apenas fortalecendo a intervenção da classe trabalhadora como sujeito político é que a esquerda deixará de ter um papel testemunhal ou eleitoral por fora da luta de classes.

Ao Luciana Genro falar que o ‘povo tem que ocupar a política’ oferecendo como instrumentos as eleições de 2016 e uma ‘Frente Povo Sem Medo’ junto a governistas, como principal figura do PSOL não coloca uma perspectiva concreta de como enfrentar o ajuste, que só pode ser em base à luta de classes. Mais ainda, alimenta ilusão de que a burocracia sindical que está traindo as mobilizações, possa através de uma frente permanente cumprir um papel ativo nesse sentido, ao invés de colocar esforços na construção de um polo combativo que unisse as forças da esquerda na solidariedade às lutas concretas.

Ao contrário dessas fórmulas inspiradas em fenômenos como ‘Syriza’ e ‘Podemos’, a fórmula da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) na Argentina mostra um novo exemplo para a esquerda latino-americana em que um milhão de votos foram conquistados nas ultimas eleições numa alternativa política com independência de classes e alçada a partir de lutas dos trabalhadores e da juventude, encabeçada por Nicolás Del Caño, do PTS, partido irmão do MRT na Argentina. Esse exemplo deveria ser um marco para a esquerda brasileira que se mete na política mas pelas velhas portas do sindicalismo ou da conciliação de classes.”




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias