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Federais | Seis pontos para construir uma forte greve unificada na UFMG

Como forma de contribuir para que possamos avançar rumo a uma greve unificada dos três setores na UFMG que saia vitoriosa, trazemos 6 pontos para discutir com es estudantes

Samuel FreitasEstudante de Ciências Sociais na UFMG

segunda-feira 22 de abril | Edição do dia

Imagem: Estudantes do curso de Ciências Sociais fazem ação de greve no CAD 2, na UFMG

Na última semana, vimos a UFMG aderindo à greve nacional de professores federais após seus técnico-administrativos terem cruzado os braços há mais de 40 dias. Toda uma geração de estudantes se vê, pela primeira vez, frente a um processo de greve universitária, conhecendo o que é essa ferramenta de luta que visa conquistar demandas a partir de paralisar a produção, no caso, de pesquisas e ensino. Para que possamos avançar rumo a uma greve unificada dos três setores que saia vitoriosa, acreditamos que precisamos refletir sobre alguns pontos:

1- Construir uma forte greve unificada contra a precarização da educação e das nossas vidas: abaixo o Arcabouço Fiscal e os cortes, por permanência para toda demanda!

Numa das cidades mais caras do Brasil, com o transporte público custando R$ 5,25 e o bandejão a R$ 5,60, es universitáries precisam de assistência estudantil que cubra esses custos. Hoje, pelo contrário, a juventude precarizada, de maioria negra, entra na universidade e tem que se desdobrar para conciliá-la com trabalho, ouvindo de alguns professores elitistas que a UFMG não é o seu lugar. Em grande parte das vezes, seus trabalhos são sem direitos trabalhistas, com carga horária exaustiva e sem remuneração adequada, devido às reformas trabalhistas. Além disso, a UFMG usa do produtivismo para sugar até a última gota de energia des estudantes, professores, técnicos administrativos e terceirizados para produzir centenas de artigos e pesquisas para se manter como “a melhor federal do Brasil”.

Toda essa produção se firma em prédios caindo aos pedaços, como a Biblioteca Central ou a Fafich, sob o trabalho precário com terceirizades se desgastando cada vez mais enquanto recebem cada vez menos, e convive com professores pegando matérias a mais do que deveriam, dando aulas em áreas que não são as de seu domínio e com estudantes atrasando a formação pela defasagem no quadro de docentes.

Isso porque ainda estamos tratando daqueles que conseguem ter acesso à universidade, passando pelo filtro elitista que é o vestibular. Todos os anos, o Enem se coloca como uma barreira para: as pessoas trans, muitas vezes expulsas de casa; para a juventude favelada, que é forçada a conviver com a falsa guerra às drogas promovida pelo Estado; para es pobres, que trabalham desde cedo e não tem acesso a uma educação de qualidade; e para as mulheres, que tem que conciliar os estudos com o trabalho doméstico e, muitas vezes, com a criação solitária de filhos.

Temos que construir a greve para nos contrapor a essa realidade de uma universidade voltada para os interesses dos lucros capitalistas, combatendo toda precarização produto dos cortes que começaram desde o segundo governo da Dilma. Levantando demandas como bolsas de um salário mínimo para que possamos permanecer! Por cotas trans rumo ao fim do vestibular! Por contratação de professores! Por reformas estruturais nos prédios! Por passe livre estudantil! Por mais moradia!

Sem falar que não podemos aceitar que o resultado da nossa luta seja a demissão de trabalhadores contratades por empresas terceirizadas. São o setor que mais sofre com a reforma trabalhista e a tercerização irrestrita - mantidas pelo governo de Lula-Alckmin. Sofrem inúmeros assédios e podem ser demitides a qualquer momento sem seus direitos. Somos contra o trabalho precário e terceirizado na universidade, feito por uma maioria de negres, e por isso defendemos a incorporação de todes sem a necessidade de concurso público!

Para avançar em cada uma dessas reivindicações, é fundamental que lutemos abertamente pela revogação completa do Arcabouço Fiscal, tarefa central para conquistarmos mais verbas para educação.

2- A luta deve ser organizada a partir de assembleias de base e sob a luz dos balanços das mobilizações anteriores! Todes à assembleia geral de terça às 17h!

Na última semana estivemos construindo diversas atividades em comum com a greve dos professores e técnicos, mas precisamos ampliar essa articulação com propostas como o aulão que aconteceu na quinta-feira (18) organizado pela professora Carolyne Barros, na qual participamos junto a outros professores, estudantes e trabalhadores, onde pudemos debater alguns processos anteriores de greves. A experiência nos ajuda a ver que nada que temos foi dado, tudo foi conquistado pela força da nossa luta, e quais lições precisamos tirar de nossas derrotas. Por isso, na UFMG, viemos batalhando para que tivéssemos assembleias, espaços soberanos de deliberação e decisão des estudantes.

Como exemplo, es estudantes do curso de Ciências Sociais decidiram, em assembleia autoconvocada, aprovar greve estudantil no curso, se posicionaram pela revogação do Arcabouço Fiscal do governo Lula-Alckmin e decidiram que irão propor, na assembleia geral da UFMG, um comando de greve com representantes eleitos pela base de cada curso em suas assembleias locais.

O apoio das entidades estudantis a greve da Sociais é fundamental para ampliarmos a mobilização no conjunto da UFMG. Es estudantes grevistas das Sociais podem ser exemplo para a mobilização na UFMG, tendo mostrado que existe disposição estudantil para lutar e agora a principal tarefa é construirmos em unidade um forte calendário de atividades da greve para massificar essa mobilização. Um dia após a assembleia, já estavam se reunindo novamente para pensar como planejar a luta e no último Conselho de entidades da FAFICH, conseguiram aprovar que entidades estudantis declarassem apoio a sua greve.

Para ir além, é preciso construir ativamente a assembleia geral de estudantes da UFMG na terça-feira (23), debatendo com es estudantes nas redes sociais, nos corredores e salas de aula, com panfletagem e cartazes, para convencê-los da importância do comparecimento e de entrarmos em greve agora, sem esperar passar ainda mais tempo, o que pode desgastar os trabalhadores que já estão em greve há mais de um mês.

3- Construir espaços de socialização e ocupação da universidade para aproximar os diferentes setores de estudantes

É decisivo que os setores que já estão convencidos da necessidade de lutar não se descole des demais estudantes, buscando ampliar a participação nas assembleias e construir espaços de socialização, arte e cultura para ocupar os espaços da universidade.

É preciso também que nossa luta saia para fora dos portões da UFMG e tome as ruas para ter repercussão na mídia e para dialogarmos com a população, utilizando nossos métodos de luta como bloqueios de rodovias, atos, buscando a participação massiva des estudantes.

A sociedade capitalista e a Reitoria nos querem pulverizades, separades; sabem que quando construímos nossa luta de forma unitária, em aliança com es trabalhadores, podemos conquistar essas demandas e muito mais.

Para fortalecer e massificar a luta, precisamos de um comitê aberto de mobilização que permita que es estudantes sejam parte da construção das ações concretas de luta, além de debater as formas de coordenação da luta junto com técnicos e professores!

4- Por um comando geral de greve de delegades eleites e revogáveis e de cada curso

Nos apoiando na proposta aprovada na assembleia das Sociais, acreditamos que a assembleia geral da UFMG deve aprovar greve e conformar um comando geral de delegades eleites e revogáveis através de assembleias de base, de forma proporcional ao número de estudantes de cada curso.

Esse é um método histórico de organização da greve, pois é uma forma de coordenação e mobilização no dia a dia. É também um método democrático de direção da luta, visto que, em assembleia, todes estudantes que quiserem podem se candidatar e votar seus representantes para o comando. Assim, ajuda na massificação da greve. Nas greves novos setores que vão além das chapas eleitas para as entidades se colocam em luta e querem fortalecer a construção da mobilização, o comando de delegados é a forma mais democrática de incorporar esses setores para fortalecer a nossa greve construindo a mais ampla unidade atráves de votações democráticas que envolvam o conjunto da base des estudantes.

O número de delegades devem ser proporcionais ao número de estudantes do curso/universidade para que todes sejam representades. Assim, todes em assembleia de curso votam em ume delegade que represente suas posições. Elus podem ser revogáveis, visto que se não cumprem e não representam es estudantes que o elegeram deixa de ser parte do comando e outre estudante é eleite. Nesse sentido, atua como direção de um processo de luta de maneira democrática levando à frente e garantindo que se concretize o que foi decidido por todes em assembleia como atividades e piquetes.

5- Nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin e na Reitoria. Nossa aliança é com os trabalhadores em luta!

As greves que estamos vendo nas universidades vêm após o governo Lula-Alckmin propor ajuste zero para os servidores da educação enquanto dá reajustes de mais de até 60% para polícias federais!

Em 2022-2023, foi votada a PEC de transição, que permitiu ao governo bases materiais para uma precária estabilidade. No entanto, 2024 está marcado pela implementação do Arcabouço Fiscal, reafirmando o compromisso de Lula e Haddad com o neoliberalismo. É um verdadeiro Teto de Gastos 2.0, aprimorando o ataque aplicado pelo golpista Temer em 2016, contra o qual es estudantes da UFMG lutaram bravamente nas ocupações do mesmo ano.

Isso é expressão da lógica de conciliação com a direita e com a extrema-direita, afinal, Lula vem pactuando com os governadores e seus projetos de privatização, como o bolsonarista Tarcísio de Freitas, financiando o projeto de privatização do metrô de São Paulo, depois de ter assinado a venda do metrô de BH em 2023 para um empresário acusado de trabalho escravo.

A lógica da conciliação já era o programa do PT em seus 14 anos de governo e, depois do golpe e dos anos de Bolsonaro, Lula vem junto ao repressor de professores, Geraldo Alckmin, manter toda a obra de reformas trabalhistas, ataques à previdência, privatizações, Novo Ensino Médio e seguir os cortes na educação. Os ministros de Lula visam dividir a nossa luta, dizendo que o governo quer negociar, mas o governo só aceitou negociar depois de deflagrada a greve, e com uma proposta que mantém ajuste zero para 2024!

Por isso, para conquistar nossas demandas, não podemos confiar num governo que concilia com nossos inimigos. Essa conciliação abre espaço e fortalece a extrema-direita e não a combate. As greves e a aliança com os trabalhadores e professores que movem a universidade podem sim combater de fato e construir uma força real e na ruas contra os ataques e a extrema-direita.

Esse debate é o que fazemos com os coletivos que estão na direção do nosso DCE da UFMG (Juntos e Afronte, do PSOL) assim como o movimento Correnteza (UP). Ao invés de subordinar nossa mobilização a “pressionar” o governo federal para “recompor o orçamento”, precisamos que sejam os estudantes junto dos técnicos e professores que decidam os rumos da sua luta, com seus próprios métodos, arrancando nossos direitos com a força da nossa luta.

Com um ajuste fiscal brutal, com uma PL que visa legalizar as jornadas intermitentes e rasgar a CLT com 12 horas de trabalho para motoristas de aplicativo, com os cortes na educação e a manutenção do NEM, fica muito claro que o governo Lula-Alckmin não é “nosso” e sim está à serviço dos grandes tubarões da educação privada, dos banqueiros imperialistas e da contenção da luta de classes.

Esse governo não pode nos representar e nem pode “dar certo” pros trabalhadores e estudantes, já que ele busca dar certo pros banqueiros, empresários, latifundiários, militares. Moraes e o STF estão longe de ser um ponto de apoio para os interesses des trabalhadores e des estudantes. Muito pelo contrário, têm muitos exemplos demonstrando que quando se trata de atacar nossos direitos em favor dos patrões, cumprem seu papel. Por isso, nossa luta tem que ser independente do governo Lula-Alckmin e do judiciário.

6- Nossas entidades estudantis precisam ser ferramentas de luta a serviço de massificar e unificar a greve na UFMG e nacionalmente!

A greve unificada é o caminho para conquistar nossas demandas! A UNE, maior entidade de representação estudantil nacionalmente, com potencial de mobilizar milhões de estudantes, dirigida majoritariamente pelas juventudes do PT e PCdoB, está a maior parte do tempo calada diante das greves nas federais. Nossa batalha precisa ser, desde as bases, impor que essa entidade organize a mobilização unificada nacionalmente.

A UNE deveria estar construindo assembleias em todas as universidades do país para botar de pé uma forte greve. Mas prefere controlar qualquer tipo de mobilização que possa questionar as bases da conciliação de classes de Lula, a aliança com os militares, seu Arcabouço Fiscal e a manutenção dos ataques.

Infelizmente, os coletivos do movimento estudantil que se dizem “oposição de esquerda” na UNE (que hoje dirigem o DCE da UFMG e alguns CAs/DAs) até agora não questionaram nem exigiram mobilização da UNE. Isso acaba ajudando a subordinar a nossa luta aos limites impostos pelo governo. Seria de enorme importância, por exemplo, que es estudantes da UFMG votassem em assembleia uma exigência à UNE por um plano de lutas rumo a um greve nacional unificada.

O DCE da UFMG, dirigido pelas juventudes do PSOL (Afronte e Juntos), que é parte do governo de Frente Ampla, vieram se posicionando, com apoio do Correnteza (UP), em assembleias de alguns cursos em que a base estava mais disposta a lutar, por “Estado de Greve”, dizendo que es estudantes não querem uma greve agora. Essa medida, nesse momento, na maioria dos cursos em que foi aprovada não significou nenhum plano de construção da greve efetivo, o que termina separando as nossas lutas, afinal sentimos a precarização na pele todos os dias, a universidade começa a se esvaziar, e uma greve estudantil seria um sinal político de unidade dentro das universidades.

Nesse sentido, apesar da retórica às vezes aparentemente combativa, essas correntes na prática estão cumprindo um papel de deixar os setores que querem greve isolados sem utilizar o potencial que tem nas entidades estudantis para dar visibilidade às demandas que foram levantadas para aprovação da greve estudantil. Nosso DCE, por exemplo, sequer expressou apoio aes estudantes de Ciências Sociais que entraram em greve, algo essencial para que não fiquem isolades.

Essa política é uma continuidade do que fizeram nos últimos anos, conduzindo a indignação contra os ataques dos governos Temer e Bolsonaro à expectativa eleitoral no governo Lula e na Reitoria da Sandra. Alimentaram ilusões de que Lula, junto a Alckmin, iria recompor orçamento. E não organizaram a luta contra o Arcabouço Fiscal, porque não querem se enfrentar com o governo.

Chamamos todas as correntes de esquerda, entidades estudantis e independentes a reverem essa política adaptada às burocracias estudantis e ao governo, para que possamos atuar ativamente de forma unificada para mobilizar e construir uma forte greve estudantil na UFMG, de forma independente do governo Lula-Alckmin e da Reitoria!




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