Distintas organizações denunciam entre 17 e 31 mortes devido à repressão da Polícia. Os protestos após o assassinato da jovem Mahsa Amini se espalharam por todo o Irã. Interrupções de Internet foram relatadas.
sexta-feira 23 de setembro de 2022 | Edição do dia
Pelo menos 17 pessoas morreram nos protestos que abalam o Irã há seis dias pela morte de Mahsa Amin após ser detida e espancada pela Polícia Moral por "usar mal o véu".
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Os dados foram divulgados pela televisão pública iraniana, mas várias organizações denunciam até 31 mortes devido à repressão policial aos protestos.
Na quarta-feira, a Anistia Internacional havia relatado “a morte de 6 homens, 1 mulher e 1 criança durante os protestos de 19 e 20 de setembro nas províncias do Curdistão (4), Kermanshah (2) e Azerbaijão Ocidental (2). Destes, pelo menos 4 morreram devido a ferimentos sofridos por forças de segurança que dispararam balas de metal a curta distância".
Pelo menos dois manifestantes perderam a visão em um ou ambos os olhos, enquanto centenas de outros, incluindo crianças, sofreram ferimentos dolorosos "equivalentes a tortura ou outros maus-tratos devido ao uso ilegal de chumbinhos e outras munições contra eles", acrescentou a Anistia em seu informe.
World leaders must support calls for an independent international investigative and accountability mechanism to address the crisis of impunity in Iran. The urgent need for action was demonstrated recently by the death in custody of Mahsa (Zhina) Amini... https://t.co/3bOdw3mgYj pic.twitter.com/k96qAQ8Ntf
— Amnesty Iran (@AmnestyIran) September 21, 2022
Por sua vez, a ONG iraniana de Direitos Humanos (IHR), com sede em Oslo, denunciou pelo menos 31 mortes até agora e apontou que "as forças repressivas da República Islâmica estão atirando nos manifestantes com balas de guerra e chumbinhos". Também afirmam que foram publicados diversos informes de detenções massivas de manifestantes.
نیروهای سرکوبگر جمهوری اسلامی با گلولههای جنگی و ساچمهای به معترضان شلیک میکنند. @iranhr، مدیر سازمان حقوق بشر ایران: «محکومیت و ابراز نگرانی از سوی جامعه جهانی کافی نیست. جامعه جهانی و همه کسانی که به حقوق بشر پایبندند باید اکنون از مطالبات مردم ایران حمایت کنند» #مهسا_امینی pic.twitter.com/YJkO6gtDYy
— Iran Human Rights (IHR NGO) (@IHRights) September 22, 2022
Cortes de internet
Várias organizações denunciam também a gravidade dos cortes na Internet por parte do Governo, que não só impede que a situação seja conhecida e os manifestantes subir denúncias nas redes sociais, como provoca um apagão de informação com o objetivo de desencorajar os protestos, embora sem sucesso.
⚠️ #Iran is now subject to the most severe internet restrictions since the November 2019 massacre.
▶️ Mobile networks largely shut down (MCI, Rightel, Irancell - partial)
▶️ Regional disruptions observed during protests
▶️ Instagram, WhatsApp restrictedhttps://t.co/8cCHIJA2Oi— NetBlocks (@netblocks) September 21, 2022
Na noite de quarta-feira, o governo bloqueou quase completamente a internet móvel e limitou aplicativos como Whatsapp e Instagram. O estado das comunicações melhorou pela manhã, mas na tarde de quinta-feira começou a falhar novamente.
As redes sociais, especialmente o Twitter, estão desempenhando um papel importante, com manifestantes postando centenas de vídeos nelas.
Diante dessa situação, a Guarda Revolucionária Iraniana descreveu na quinta-feira os protestos como "sedição" e pediu ao Judiciário que processe aqueles que "espalham boatos e mentiras" nas redes sociais e nas ruas.
Uma petição à qual se juntou o jornal ultraconservador "Kayhan", cujo diretor é escolhido pelo líder supremo do Irã, Ali Khamenei, que criticou o Judiciário por aparentemente não condenar ninguém pelos protestos.
"Não mostre piedade a esses criminosos", pediu o jornal.
A Guarda Revolucionária, cujo papel histórico tem sido garantir e consolidar o poder do regime islâmico com métodos de policiamento político interno e controle sobre a população, ganha cada vez mais força, controlando atualmente pelo menos dois terços do PIB do Irã. Eles estão cientes de que as manifestações pedindo "abaixo o regime" também irão contra eles e por isso exigem o aumento da repressão e bloqueiam a internet para causar um apagão de informações.
September 22 - Tehran, #Iran
Locals continue the nationwide protests against the regime on the 7th day of the uprising.
"[Khamenei] is a disgrace!" referring to regime dictator Ali Khamenei.#IranProtests #MahsaAmini#مهسا_امینی pic.twitter.com/sUGR76A9jc— People's Mojahedin Organization of Iran (PMOI/MEK) (@Mojahedineng) September 22, 2022
Crescem os protestos
No entanto, os cortes de internet, os apelos à repressão e as mortes e detenções não conseguiram travar as mobilizações que esta sexta-feira entraram no seu sétimo dia e que já se alastraram a pelo menos 86 cidades em 28 províncias do país.
Em Teerã, uma grande multidão se reuniu na Keshavarz Blvd e gritou: "O Líder Supremo é uma vergonha" em referência ao Líder Supremo do regime, Ali Khamenei.
As cidades de Sari, Hamedan, Zanjan, Khorramabad, Qom, Ardabil, Qazvin e Sabzevar são apenas algumas da longa lista de cidades onde as pessoas foram às ruas para expressar seus protestos e rejeição ao regime.
Um vídeo de um homem descendo de sua moto para bater em uma mulher que estava com a roupa errada ou sem véu viralizou nas redes sociais. Então, um grupo de pessoas se aproxima dele para confrontá-lo e deixar claro que as coisas estão mudando.
Este hombre en Irán se bajó de su moto y como "es costumbre" golpeó a una mujer que no llevaba puesto el velo. Varias personas presentes se acercaron y le dejaron en claro que "las costumbres" están cambiando.#MahsaAmini
— Juan Andrés Gallardo (@juanagallardo1) September 23, 2022
Em vários locais, manifestantes supostamente assumiram o controle de escritórios do governo, incendiaram delegacias de polícia e carros de patrulha, e derrubaram ou incendiaram cartazes de propaganda de Khamenei e do regime.
Algunas "modas" están cambiando en Irán. En estos días se ha hecho muy popular dar vuelta los patrulleros.
pic.twitter.com/ysaanhxwy9— Juan Andrés Gallardo (@juanagallardo1) September 23, 2022
O presidente do Irã, Ebrahim Raisí, retornará amanhã a Teerã vindo de Nova York, onde fez um discurso perante a Assembleia Geral da ONU, em meio a uma crise que se aprofunda dia a dia.