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Oriente Médio | Invasão de Rafah: uma nova etapa no genocídio palestino

Estados Unidos e Egito tem dado sua aprovação parcial. Os Estados árabes olham para outro lado. A invasão em Rafah pode começar.

quarta-feira 24 de abril | Edição do dia

Após se alinhar com as exigências estadunidenses e responder de forma limitada os ataques iranianos de 13 de abril, Netanyahu conseguiu negociar amparado desta “moderação” e obter a aprovação dos Estados Unidos para a tomada da cidade de Rafah (ao sul da Faixa de Gaza e fronteira com Egito).

Enquanto o congresso estadunidense acaba de votar um novo pacote de ajuda de 26 milhões de dólares para Israel, Netanyahu retorna a sua guerra colonial e se prepara para tomar a cidade de Rafah, o que já começou com uma série de bombardeios que já matou cerca de trinta pessoas em dois dias e duas noites de horror.

Lembremos que a cidade de Rafah tem refugiado mais de um milhão e meio de palestinos, que foram expulsos do norte e centro da Faixa de Gaza pelo próprio Exército de Israel, obrigados a viver em campos de refugiados ou tendas em acampamentos precários e condições de superlotação. Ou seja, uma campanha de bombardeios e uma posterior invasão por parte de Israel sobre Rafah teria efeitos apocalípticos, levando inclusive a que centenas de milhares de palestinos sejam expulsos para o Egito, concretizando o plano de limpeza étnica que vem sendo levado adiante.

Al-Sisi, presidente do Egito, parece ter aceitado as exigências de Israel e está disposto a acolher os refugiados palestinos que serão empurrados a cruzar a fronteira devido aos ataques e à ocupação. Serão enviados a uma nova prisão a céu aberto, construída às pressas no deserto de Sinai, enquanto que Israel tem fortificado a estrada 749, dividindo a Faixa de Gaza para evitar que os palestinos regressem para o norte.

O ataque ao Irã havia proporcionado a Netanyahu uma moeda de troca para alcançar seus objetivos bélicos, trocando uma resposta moderada que evitou por agora o risco de uma guerra regional por um sinal verde dos Estados Unidos para invadir Rafah.

Um sórdido acordo: Rafah ou Irã

O objetivo de Israel ao atacar o anexo do consulado iraniano em Damasco (Síria) era duplo. Em primeiro lugar, o Estado colonial queria prosseguir sua campanha de vingança contra o alto comando do chamado Eixo de Resistência. Após a eliminação ao início do ano de Razi Moussavi, em Damasco e de Saleh Al-Arouri em Beirute, o assassinato de Mohamed Reza, general das forças Al Quds da Guarda Revolucionária e o oficial irianiano de mais alto cargo morto desde o assassinato de Soleimani em 2020 pelos Estados Unidos, formava parte desta “tática de inflamar a situação”. Em segundo lugar, o objetivo de Netanyahu era reativar parcialmente o inimigo iraniano para obrigar os Estados Unidos, cada vez mais críticos a ele, a deixar de lado seus questionamentos e unir-se a Israel para lutar contra seu inimigo histórico no Oriente Médio.

Ameaçados pela deserção de parte de seu eleitorado, Biden e os democratas têm intensificado suas críticas a Israel em uma intenção de frear sua erosão. Ainda que as minorias racializadas e os jovens são uma importante fonte de manobra para os democratas, que exploram o medo gerado pela provável volta ao poder de Donald Trump, o apoio incondicional dos Estados Unidos ao esforço bélico às Forças de Defesa de Israel (IDF) distanciou parte do voto democrata, abrindo uma fenda no bipartidarismo à esquerda da ala mais progressista do partido. Enquanto a direção democrata pedia ao governo israelense que convocasse novas eleições, o presidente Biden lançava operações humanitárias por lançamento aéreo na Faixa Gaza e anunciou a construção de um porto provisório próximo à costa da cidade de Gaza para contornar a negativa de Israel em permitir a entrada de ajuda humanitária.

Por outro lado, desde a presidência de Barack Obama, os Estados Unidos tem redefinido suas áreas de compromisso e recalibrado sua estratégia para projetar seu poder econômico e militar para o Indo-Pacífico, na tentativa de cercar a China mediante a construção de um cinturão de contenção desde as Filipinas ao Japão, o aventureirismo de Netanyahu e o espectro de uma guerra regional com o Líbano correm o risco de obrigar os Estados Unidos a retornar em massa a uma região que traz más lembranças ao imperialismo, depois do atoleiro iraque e da catástrofe afegã.

Alinhando-se com os Estados Unidos, que havia anunciado que não participaria, nem apoiaria um ataque direto contra o Irã, Israel optou por responder de forma limitada, golpeando na noite do dia 18 para o 19 de abril, aos arredores de Isfahan, próximo de uma base nuclear iraniana, sem apontar diretamente ao local. Utilizando drones lançados desde o território iraniano por infiltrados, Israel não reivindicou a autoria do ataque. Irã, por sua vez, negou a existência do incidente, primeiro enviando jornalistas para que mostrassem aos habitantes mais um dia comum e emitindo vários comunicados da imprensa nos quais negavam qualquer ocorrência de ataque.

A resposta comedida de Israel o permitiu conservar as inegáveis conquistas táticas que o ataque iraniano lhe permitiu acumular. Relativamente isolado na cena internacional, Israel tem conseguido se beneficiar do apoio das potências imperialistas, que têm cerrado fileiras em torno dele. Conseguiu recuperar parte de sua imagem como “país agredido” e voltar a jogar com a retórica da “ameaça existencial” que o proporciona um escudo midiático propício para o seguimento de suas operações coloniais. Além disso, o ataque iraniano tem permitido a Netanyahu se reafirmar como líder diante da opinião pública israelense, após o fiasco de segurança de 7 de Outubro, e suspendeu progressivamente o movimento de mobilizações que havia alcançado proporções sem precedentes no início de abril. Por último, marca uma etapa decisiva no processo de normalização das relações diplomáticas entre Israel e seus reacionários regimes vizinhos.

Os temores dos Estados Unidos diante uma escalada regional ofereceram a Netanyahu a oportunidade de negociar sua moderação e, em troca de uma resposta comedida, obter dos Estados Unidos sinal verde para a invasão em Rafah.

A invasão de Rafah pode começar

Dia 20 de abril, a Câmara de Representantes aprovou um novo pacote de ajuda de 26 milhões de dólares para Israel por 366 votos a favor e 58 contra. Em uma mensagem publicada no X, o Primeiro Ministro agradeceu pelo “poderoso e bipartidário apoio dos Estados Unidos a Israel e a civilização ocidental”, agradecendo a seus “amigos” estadunidenses por sua colaboração.

Sexta-feira, 19 de abril, as forças israelenses levaram a cabo bombardeios indiscriminados sobre Rafah, matando uma dezena de palestinos em uma noite de horror. Segundo o informe do hospital al-Najjar, entre os mortos haviam seis crianças e duas mulheres. Na virada da noite de 20 a 21 de abril, poucas horas depois da votação dos deputados norte americanos, as IDF voltaram a bombardear o último refúgio de palestinos expulsos para o sul e matou dezesseis pessoas, entre elas uma mulher grávida e nove crianças.

O início de uma campanha de bombardeios massivos anuncia o pior, agora que tres brigadas estão estacionadas na fronteira, prontas a intervir caso necessário. O protocolo genocída executado metodicamente pelas IDF nas demais cidades da Faixa de Gaza ameaça ser aplicado novamente: bombardeios massivos que preparam a entrada de tropas terrestres; que se espalharão bairro a bairro e os esvaziaram de seus habitantes; depois, os comandos destruirão os edifícios e arrasarão sistematicamente as casas.

Reorientando toda sua potência de fogo para Rafah, as IDF parecem dispostas a tomar a cidade apesar das consequências apocalípticas de uma possível invasão. Em um momento em que a vida de 350 mil crianças estão ameaçadas pela fome e 80 mil palestinos poderíam morrer pelos efeitos indiretos da guerra daqui até agosto, uma invasão em Rafah mataria dezenas de milhares de pessoas e enviaria ao exílio centenas de milhares de palestinos.

Depois de mostrar relutância, o presidente egípcio Al-Sisi aceitou agora as condições de Israel e, segundo alguns meios egípcios, aceitou acolher uma parte dos refugiados palestinos em troca de que Israel assuma reembolso parcial de sua dívida soberana. Depois de ter construído uma prisão fortificada no Sinai capaz de acolher cerca de 100 mil refugiados e ter firmado acordos com a União Européia para conter possíveis exilados em seu próprio território e impedir de cruzarem o Mediterrâneo, Al-Sisi está assumindo agora as catastróficas consequências de uma invasão e está terminando seus preparativos: Isolando os refugiados em uma prisão ao ar livre, quer isolar uma “nova Gaza” do resto do mundo para impedir que os palestinos expulsos se mesclem com a população egípcia, aceitando sem pestanejar o papel de guarda do campo de refugiados delegado por Israel.

Estados Unidos se conforma em ter evitado uma guerra regional e dá sinal verde ao projeto genocida de Israel. Al-Sisi traiu seu próprio povo e, pechinchando o destino do povo palestino, tem cedido aos ditames do Estado colonial. As novas prisões para o povo palestino estão postos no Sinai, ao sul, e ao centro da Faixa, abaixo da estrada 749. Os Estados árabes olham para o outro lado, enquanto as potências imperialistas assentem com a cabeça. Tudo está pronto. A invasão de Rafah pode começar.

Só há uma força capaz de modificar o curso da situação: a mobilização massiva dos povos árabes e o ascenso de movimentos de apoio à causa palestina que sacodem o coração das metrópoles imperialistas dos Estados Unidos e Europa. Seguindo o exemplo das mobilizações do povo jordano, as ações dos estudantes nas universidades estadunidenses, que se levantam e resistem a repressão, e dos militantes e sindicalistas franceses, como Anasse Kazib, ameaçado pelo Estado e pela polícia antiterrorista, que seguem denunciando o genocídio dos palestinos, o movimento pela Palestina pode desempenhar um papel decisivo na situação e por fim ao cruso fanático decidido por Israel.




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