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Estados Unidos | Eleições de meio mandato nos Estados Unidos e a disputa pela classe trabalhadora

A direita reunida no Partido Republicano se radicaliza e, longe de separar o "político" do "econômico" como fazem os Democratas, disputa a classe operária. Nós, socialistas, temos o desafio de contar com o setor mais avançado da classe trabalhadora, encarnado na Geração U, para atacar a direita e sua base com uma perspectiva independente.

segunda-feira 7 de novembro de 2022 | Edição do dia

[De Nova York] Essas eleições de meio mandato encontram o regime bipartidário em um deslocamento para a direita em relação às eleições de 2018. O Partido Republicano, por sua vez, que vem crescendo eleitoralmente e promete um grande desempenho eleitoral, alcançou resultados políticos fundamentais para chegar fortalecido a esta eleição.

Os republicanos avançaram superestruturalmente em vários estados com leis ultrarreacionárias que vão desde duros ataques à comunidade trans, retiradas do direito ao voto, até proibições legais para que os professores da educação pública não ensinem a história do racismo na América do Norte ou o que a extrema-direita estadunidense chama de “ideologia de raça”.

Os republicanos conseguiram cerrar fileiras – pelo menos até a próxima eleição – entre sua ala trumpista, com ampla base social organizada atrás da figura de Donald Trump, as organizações de extrema-direita de tipo “milícia” e a ala chefiada por Ron DeSantis como representante de uma direita mais bonapartista, mais pró-estatal, que se escora na retórica trumpista “pró classe trabalhadora” e a funde numa bizarra simbiose de nova ideologia de “guerra cultural”, sempre ligada à ideologia do Partido Republicano, mas que ganhou um novo impulso após a cooptação do Black Lives Matter pelos democratas. É incerto se essa frágil unidade republicana prosperará além das intermediárias, pois colide com a agenda de longo prazo do establishment republicano, que tem que conter Trump sem atacá-lo diretamente devido ao custo político eleitoral que isso teria, inclusive visando as eleições presidenciais de 2024.

E talvez a vitória mais importante do GOP [Grand Old Party/Republicanos] nos meses anteriores tenha sido a revogação do Roe vs. Wade pelas mãos da Suprema Corte, que liquidou em um dia a proteção federal ao direito ao aborto nos Estados Unidos.

Embora a retórica ultraconservadora e anti-direitos tenha um papel importante na recomposição do Partido Republicano, no coração do trumpismo e nas aspirações da base social republicana, sobrevive com força o crescente ódio de um setor muito amplo da classe trabalhadora estadunidense com o Partido Democrata e isso, longe de ter mudado em relação às eleições presidenciais de 2016 e às eleições de meio mandato de 2018, aprofundou-se e se complexificou. Como disse Thomas B. Edsall, do New York Times:

Embora as pressões econômicas que levaram milhões de eleitores brancos da classe trabalhadora à direita estejam diminuindo, a hostilidade que esse segmento chave do eleitorado sente em relação ao Partido Democrata se aprofundou e é cada vez menos suscetível a mudança.

De acordo com um relatório do American Enterprise Institute intitulado “Eleições e demografia: os democratas perdem terreno e precisam de forte virada”:

A distância entre brancos com formação universitária e não universitários continua a crescer. Pela primeira vez neste ciclo, a diferença de margem entre os dois ultrapassou impressionantes 40 pontos, bem acima da diferença de 33 pontos da corrida presidencial de 2020. Os republicanos estão para trás entre eleitores universitários brancos por 13,6 pontos, mas lideram nos brancos não-universitários por mais de 27 pontos. Os democratas parecem estancados nos 30 e poucos entre os brancos não-universitários – nenhuma pesquisa deste mês mostra eles acima de 34 por cento – motivo pelo qual uma repetição da marca de 37 por cento de Biden parece improvável.

O mesmo relatório conclui que uma parcela muito grande da classe trabalhadora continua a identificar o Partido Democrata como o partido da globalização e da associação comercial com a China, e que esses milhões de trabalhadores vêem a globalização como uma ameaça constante às suas condições de vida. Esse sentimento, inscrito na política estadunidense desde que Donald Trump surpreendeu o mundo ao vencer as eleições presidenciais de 2016, longe de se dissipar, se fortaleceu e complexificou no calor de uma crise econômica que, embora ainda não tenha se tornado um crack econômico, está se expressando em uma inflação crescente que se soma a toda uma série de problemas estruturais que a economia norte-americana vem sofrendo desde a Grande Recessão de 2008 e agravados pela pandemia.

O aumento dos preços a níveis históricos, acompanhado do aumento da gasolina e do aumento das taxas de juros, estão de fato ampliando a base republicana (entre os trabalhadores latinos, por exemplo, mas não só) e distanciando ainda mais importantes setores da classe trabalhadora do Partido Democrata.

Já nas eleições de 2016, o grande protagonista foi a classe trabalhadora esquecida pelo neoliberalismo e ignorada pelo Partido Democrata, no cerne da retórica trumpista, pela direita, e da agenda de Bernie Sanders, pela esquerda. Mas esta eleição tem a classe trabalhadora no centro da agenda e do programa dos dois grandes partidos do capital, incluindo o establishment democrata, os meios de comunicação e até o FED, preocupados com que os salários dos trabalhadores não aumentem e em controlar a inflação com uma combinação de altas taxas de juros, tetos salariais e um potencial desemprego crônico de 5% da força de trabalho.

Ao contrário das campanhas eleitorais anteriores a 2016 e em função das condições criadas pela pandemia, os políticos burgueses não podem mais esconder a classe trabalhadora atrás da quimera da “classe média americana”. Isso é assim não só como produto do Trumpismo, ou produto do Sanderismo: ambos os fenômenos políticos expressam profundas mudanças na consciência das massas. Nada sacudiu mais o ânimo das massas trabalhadoras nos Estados Unidos do que Black Lives Matter, por um lado, e a Pandemia, por outro. O fenômeno político sindical que expressa essa mudança de consciência está encarnado na Geração U.

A “trumpização” do Partido Democrata

O giro à direita nessas eleições de meio mandato também se expressa em um deslocamento para a direita no Partido Democrata. Embora a defesa do direito ao aborto tenha colorido a campanha eleitoral democrata nos meses anteriores, conseguindo – segundo as pesquisas – incentivar uma parcela do eleitorado a ir às urnas para votar azul, isso evidentemente não é suficiente para os democratas terem um desempenho eleitoral decente.

John Fetterman, o favorito no estado da Pensilvânia para disputar uma cadeira no Senado, talvez seja o exemplo mais brilhante dessa mudança à direita. Fetterman, que é nominalmente parte da ala democrata progressista e já defendeu o Green New Deal, tem feito campanha pela defesa do fracking, em uma tentativa de conquistar a classe trabalhadora branca do estado que desconfia profundamente dos democratas e do “Green New Deal”, porque o enxergam como uma ameaça direta aos seus empregos e modos de vida. Ao mesmo tempo, Fetterman tem um discurso raivosamente anti-China que também se conecta com a base social da classe trabalhadora que ele está tentando disputar.

Os democratas esperavam poder aproveitar a onda de raiva e medo desencadeada pela revogação do Roe vs. Wade para obter um resultado de meio mandato que não seja tão desfavorável. Isso pareceu funcionar momentaneamente, apesar da inflação e da queda nas condições de vida das massas, mas todas as pesquisas (que já preveem uma onda vermelha nestas eleições) estão indicando que a classe trabalhadora, não apenas os setores brancos atingidos pelo neoliberalismo, vão votar pensando no bolso e não nos direitos democráticos que se encontram em risco pelo avanço da direita e pela bonapartização da direita republicana.

O Partido Democrata está buscando falar com a classe trabalhadora em “termos trumpianos”, em estados com uma forte base trumpista, dirigindo-se aos perdedores da globalização, que contavam com sindicatos e foram removidos de seus empregos para se tornarem parte do imenso precariado estadunidense, com salários baixíssimos e que enfrentam as consequências de uma economia chinesa forte.

Quando o ar que elevou o ânimo dos progressistas no Partido Democrata após Biden aprovar a lei contra a inflação começou a se dissipar em meio à percepção de que o imperialismo norte-americano não podia se permitir nenhum tipo de aventura “de esquerda”, o centro do partido ganhou força.

Mas mesmo além do resultado da eleição de meio mandato que prevê um cenário perigoso para os dois anos restantes do governo Biden, o que está em crise é a agenda democrata – uma vez que o BLM foi passivado e aprovado um pacote de leis que envolvia concessões às massas no pós-pandemia – “organizar a passividade” impondo uma relação de forças favorável aos capitalistas em tempos de crise.

Em certo sentido e seguindo a lógica de Gramsci ao pensar o problema da hegemonia burguesa na América, o que está em crise é a hegemonia do regime sobre a classe trabalhadora, pois a capacidade de consumo das massas proletárias está diminuindo drasticamente, especialmente a de setores mais altos do proletariado, que passam a sofrer as vicissitudes do precariado devido ao aumento dos preços e à redução do crédito.

A hegemonia burguesa também está em crise porque o Partido Democrata, principal liderança política do movimento de massas através da burocracia sindical e dos movimentos sociais, tem que navegar permanentemente entre ser o "partido de contenção", pronto para expropriar as bandeiras dos movimentos sociais, remover seu radicalismo e impedir que essa radicalidade contamine o movimento operário, e ser o "partido da lei e da ordem" quando for necessário reprimir brutalmente a vanguarda.

O partido de Joe Biden está no centro da brutal repressão aos ativistas do BLM desde 2020 e da renovada legitimação da polícia. É sob administrações democratas como a do prefeito de Nova York, Eric Adams, que os departamentos de polícia locais e estaduais receberam somas históricas dos orçamentos locais.

Outro exemplo da “trumpização” do partido é Tim Ryan, o senador favorito do Partido Democrata em Ohio, um catavento político que já comparou o sistema de justiça penal norte-americano a Jim Crow. Hoje sua campanha tem como slogan central "Refinanciar a polícia", em clara alusão ao BLM, e está sendo apoiado eleitoralmente pelo sindicato da polícia estadual, filiado à AFL-CIO.

A disputa pela classe trabalhadora

Nesta tentativa desesperada de vencer as ilusões da classe trabalhadora estadunidense, o establishment e o centro do Partido Democrata deram um giro há algumas semanas na condução da eleição. Isso teve como consequência o lançamento de uma política que tem o objetivo de separar as questões “políticas” das “econômicas”, a fim de arrancar das mãos dos republicanos aqueles setores da classe trabalhadora desencantados com o Partido Democrata.

É Barack Obama, o líder moral do Partido Democrata, que expressa essa ideia de uma forma muito mais sofisticada. De uma maneira muito inteligente, como fez antes de seu governo, Obama levantou algumas semanas atrás no Pod Save America que a política americana precisa ser reconfigurada e deixar de ser categorizada em termos de raça, para ir mais longe. Confrontando diretamente com a ideologia democrata e, ao mesmo tempo, reivindicando o BLM em geral, ele argumenta que as mudanças culturais na linguagem (linguagem inclusiva, antirracista etc.) não significam nada para o “cidadão a pé” e as “pessoas boas que estão preocupadas com o bem-estar de suas famílias”.

Essa conclusão decorre da consciência que tem um setor do Partido Democrata de que o "politicamente correto" repele a classe trabalhadora e coloca o partido em situação defensiva, principalmente em estados como, por exemplo, os do chamado "cinturão da ferrugem" [rust belt]. Para justificar isso, se apoia, por um lado, na caricatura que a extrema-direita faz do progressismo e sua obsessão pelos "pronomes" como polícia da linguagem, e no fato de que essa era a linguagem política do progressismo neoliberal (hoje em falência), que baseou sua hegemonia sobre os movimentos sociais em assenhorar-se de sua representação política, expressa na política identitária e apagando as divisões de classe, para deixar intactas as condições estruturais da exploração e opressão capitalista, jogando com a mímica da “representatividade”.

Para Obama, o caminho para o Partido Democrata consertar sua relação com a classe trabalhadora e navegar pelas águas da crise econômica é se distanciar das questões que “dividem”, menosprezando as políticas identitárias e pró-direitos. É uma reação ao fato de que o Partido Democrata não conseguiu virar a balança eleitoral com base na defesa de Roe vs. Wade, não apenas porque os trabalhadores estão pressionados pela crise econômica, mas porque os democratas se recusaram a se mobilizar contra a Suprema Corte e deixaram passar 50 anos sem transformar Roe vs. Wade em lei. A serviço da superação dessa crise está a virada discursiva de focalizar demagogicamente as demandas por "pão com manteiga", como se costuma chamar aqui as demandas por melhores condições de vida, quando na realidade todos concordam com o plano do FED de que os trabalhadores paguem pela crise. Ao evitar falar sobre o slogan central do BLM (“Defund the Police”/”Desfinancie a Polícia”), traído por governos democratas em dezenas de estados, Obama também parece alertar que os aspectos mais disruptivos do BLM não devem contaminar a classe trabalhadora.

O que Barack Obama e a revista Jacobin têm em comum?

Esse discurso que Obama usa para tentar salvar o establishment democrata, no entanto, é incapaz de combater com a ideologia que a revista Jacobin vem desenvolvendo, que compartilha elementos comuns expressos no fato de que, de maneiras diferentes, ambos usaram Fetterman como um exemplo positivo dos ajustes nas campanhas eleitorais que o Partido Democrata tem que fazer, especificamente nos estados com forte base trumpista.

Devemos lembrar que foi Bernie Sanders quem, junto com Trump, mas pela esquerda, trouxe a classe trabalhadora de volta às disputas eleitorais. Desde sua campanha nas primárias democratas em 2014, o senador de Vermont fez da classe trabalhadora e de suas demandas mais sentidas um discurso central.

“Lute pelo 15º! Medicare para Todos! Taxar os ricos!” Eram demandas que rapidamente se tornaram populares entre os jovens, mas depois entre as massas. Isso também ocorre porque a classe trabalhadora já mostra sinais de recomposição subjetiva desde 2016, com exemplos muito significativos como a greve da Verizon naquele mesmo ano, que foi super popular entre a população, pelo menos nas grandes cidades. Bernie Sanders apareceu como o único político que não só falou em favor da classe trabalhadora, como também apoiou as lutas.

Desde então, Sanders deixou claro que, para ele, a chave da política americana estava em falar com a classe trabalhadora e em fazer a democracia americana mais uma vez chegar aos trabalhadores. Que para isso era necessário confrontar os super-ricos em primeiro lugar e evitar falar sobre as questões que dividem a classe trabalhadora, que não são prioritárias para elevar o padrão de vida de todos os trabalhadores, não importando sua identidade. Partiu de uma verdade geral correta de que não pode haver igualdade racial ou de gênero se as condições de vida de toda a classe trabalhadora não mudarem.

A revista Jacobin, que junto com a direção do DSA construiu seu projeto político em diálogo com o sanderismo, esperando que um partido independente pudesse emergir da ala progressista do Partido Democrata ou que a pressão e o fortalecimento da ala progressista pudessem mudar a orientação do partido, rapidamente ecoou essa política e dedicou boa parte de seu arsenal teórico para justificá-la.

No contexto atual das eleições de meio mandato, a radicalização dessa política tem levado escritores da revista Jacobin a dar apoio tácito a candidatos como John Fetterman na Pensilvânia, como é o caso de Branko Marcetic neste artigo.

Marcetic está dizendo timidamente que Fetterman, que é um candidato que está defendendo abertamente o fracking e desenvolvendo uma política absolutamente chauvinista quanto à China, onde deixa de mencionar o aborto em todos os momentos, é um candidato que faz sentido apoiar:

Há muitas coisas que se podem criticar sobre Fetterman. Além da mudança de opinião com o fracking, ele tem sido superficial sobre o sistema de saúde de pagador único e assumiu uma posição centrista covarde sobre Israel e Palestina. Se os eleitores decidirem, depois de pesar isso contra as políticas plutocráticas e o histórico de desonestidade de seu oponente, que ainda não podem votar em Fetterman, eles têm todo o direito de tomar essa decisão. Mas a obsessão da mídia com a deficiência de um homem não deveria decidir essa eleição, especialmente quando a imprensa deixou claro que não se importa com o declínio cognitivo em nenhum outro caso.

Neste caso, a divisão entre demandas anti-opressão ou "políticas" e demandas "pão com manteiga" levou a revista Jacobin a apoiar eleitoralmente candidatos democratas de um estado imperialista, fazendo vista gorda para a “política exterior" do sanderismo em questões sensíveis como a Palestina, a Ucrânia ou a China. Essa operação política potencialmente coloca esse setor da liderança do DSA ao lado da forma menos sofisticada de chauvinismo frente ao seu próprio governo imperialista.

Mas este não é o único problema dessa forma de pensar. Essa lógica política, posta em jogo de diferentes ângulos e interesses por Obama, Sanders e Jacobin, vai de encontro às mudanças mais profundas de pensamento que estão ocorrendo na classe trabalhadora norte-americana encarnadas pela Geração U. Porque a geração U é filha do BLM e da Pandemia.

Sim, precisamos de um partido da classe trabalhadora com um programa socialista

Um aglomerado de jovens de múltiplas raças, filhos das classes médias empobrecidas e filhos de famílias trabalhadoras brancas, negras e imigrantes. Estudantes e trabalhadores. Ambos em muitos casos. Alguns politizados pelo BLM. Alguns politizados pela pandemia, quando os primeiros sintomas de descontentamento começaram a aparecer nos armazéns da Amazon, quando o número de mortos disparou e a classe trabalhadora estava na linha de frente. Alguns se politizaram porque sofrem discriminação como pessoas trans, queer ou não-binárias. Alguns se organizam com o DSA e se mudam para quilômetros de distância porque querem ir à Amazon organizar um sindicato. Outros se organizam em seus locais de trabalho, nos cafés da Starbucks, e organizam greves pelos direitos de seus camaradas – muitos se autodenominam camaradas - trans ou muçulmanos. Muitos têm simpatia por Sanders, mas uma profunda desconfiança do Partido Democrata. Mas talvez o mais perturbador seja que eles não querem dividir as demandas contra a opressão das demandas por melhorias em suas condições de trabalho, eles querem o pão mas também querem as rosas! É por isso que nos piquetes cantam "Direito ao aborto é direito trabalhista!" É por isso que nas manifestações contra a revogação de Roe vs. Wade, encontramos trabalhadores da Amazon, Chipotle, Starbucks, etc.

O DSA e o conjunto das organizações de esquerda nos Estados Unidos, principalmente aquelas que estão pensando apaixonadamente em como construir uma organização da classe trabalhadora independente politicamente, como nós, temos que nos fazer a seguinte pergunta: vamos pedir menos do que a Geração U? Vamos nos adaptar à agenda reformista da ala progressista do Partido Democrata? Ou vamos aproveitar o fato de que há uma sede de reformas entre a classe trabalhadora para incentivar a luta de classes e construir instituições independentes de trabalhadores e jovens, não apenas sindicatos, e até nosso próprio partido?

Um caminho para a esquerda, um caminho para a Geração U

Se a luta de classes se desenvolver e houver atividade da classe trabalhadora e dos oprimidos no próximo período, como promete o desenvolvimento da crise econômica e política, nós, socialistas revolucionários, temos uma grande oportunidade de propor uma alternativa à Geração U que possa ser ampliada para a classe trabalhadora como um todo.

Tanto o Partido Republicano quanto o Partido Democrata têm suas próprias políticas em relação à classe trabalhadora. A política do Partido Republicano é aproveitar a raiva e a frustração de milhões de trabalhadores para impulsionar uma agenda chauvinista e reacionária. A política do Partido Democrata é evitar sua radicalização por meio de concessões parciais, cooptação pela burocracia sindical, pelos movimentos sociais e diretamente a repressão. As concessões parciais que o Partido Democrata pode fazer também são cada vez mais limitadas diante do avanço da direita para milhões, como evidenciado pelo fato de Roe vs. Wade nunca ter sido codificado em lei sob administrações democratas e Biden nem mesmo ter aprovado o Pro Act, uma lei limitada que favorece tentativas de sindicalização.

A direita se radicaliza e longe de separar o "político" do "econômico", unifica-os afirmando que devemos lutar contra a inflação, culpa a crise econômica na migração que vem com a globalização, propõe uma política raivosamente anti-China para que os trabalhadores vejam com desconfiança a classe trabalhadora daquele país, se opõem a favorecer as "minorias raciais" como fazem os democratas e querem parar de reproduzir a "ideologia da raça". Nós, socialistas, temos o desafio de contar com o setor mais avançado da classe trabalhadora, encarnado na Geração U, para atacar a direita e sua base com uma perspectiva independente.

Temos a oportunidade de dialogar com dezenas de milhares com um programa e um discurso que unifica a luta pelas condições de vida da classe trabalhadora e contra a opressão, e que une as fileiras da multiétnica e heterogênea classe trabalhadora estadunidense, que da costa Oeste à Leste está sofrendo com a inflação, o racismo, a falta de direitos democráticos, a falta de direitos trabalhistas, as práticas antissindicais e a opressão de gênero, especialmente no local de trabalho.

A classe trabalhadora unificada é quem pode lutar contra a “amazonificação” das condições de trabalho, que exige o racismo e a opressão de gênero para manter a classe trabalhadora como um todo disciplinada.

Essas eleições seriam muito diferentes se hoje tivéssemos candidatos socialistas que pudessem falar com autoridade para a classe trabalhadora, independente do Partido Democrata, trabalhadores e líderes de movimentos sociais, comunidades orgânicas e locais de trabalho que lutassem por uma saída diferente da crise da globalização neoliberal. Candidatos socialistas, trabalhadores e oprimidos como os ativistas da Amazon e da Starbucks, que não colocam os interesses da classe trabalhadora estadunidense acima dos interesses da classe trabalhadora internacional, como Marx e Engels ensinaram.

Como dizem Kim Moody, Joe Burns e outros intelectuais, como muitos camaradas do DSA colocam, como organizações reunidas na revista Tempest e organizações trotskistas como a Alternativa Socialista, devemos construir um partido da classe trabalhadora. Para nós, esse partido da classe trabalhadora tem que lutar incansavelmente para arrancar das garras do Partido Republicano e do Partido Democrata a consciência da classe trabalhadora poderosa. Temos que construir uma organização que agite uma plataforma que, longe de fragmentar nossas lutas, as unifique política e organizacionalmente, e que abrace uma perspectiva de não aperfeiçoar essa democracia para bilionários baseada na Suprema Corte, no Senado e no Colégio Eleitoral, e sim para enfrentar os dois partidos do capital, a extrema-direita organizada e os patrões.

Para nós, trata-se de construir um partido que desencadeie a criatividade e a organização do movimento operário independente do Estado capitalista e que converta a energia e a combatividade dos movimentos sociais que lutam pelos direitos reprodutivos e pela vida negra em um grande tsunami contra o regime dos dois partidos do capital imperialista. Mas esse partido não pode existir de mãos dadas com nossos exploradores e nossos opressores.




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