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Emergência da dengue revela problemas estruturais do Brasil

Diante do estrondoso número de casos de dengue e doenças respiratórias é necessário um Plano de Emergência para atender a população, assim como uma Reforma Urbana Radical sob controle dos trabalhadores que possibilite haver uma relação harmônica entre o homem e a natureza

Juliane SantosEstudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

quinta-feira 14 de março | Edição do dia

Foto: Raul Santana/ Reprodução Fiocruz

O número estrondoso de casos de dengue no Brasil no ano de 2024 vem chamando atenção, o que se mistura ao chamativo número de doenças respiratórias que também vem acometendo a população.

Para além do discurso de que essa situação está ocorrendo "pela época do ano", "após o carnaval é assim mesmo" e "as pessoas estão deixando água no pratinho das plantas permitindo criadouros de dengue" temos uma situação mais profunda e estrutural que expressa não só a forma como a sociedade capitalista lida com a vida dos trabalhadores e do povo pobre (setores mais afetados pelas doenças, seja por falta de saneamento básico, falta de acesso a testes e vacinas) mas também a própria forma que os atuais governos estão lidando com essa questão de saúde pública.

De acordo com dados do IBGE divulgados em 23 de fevereiro sobre as informações coletadas na edição de 2022 do Censo Demográfico, aproximadamente 49 milhões de pessoas ainda não possuem acesso a uma estrutura adequada de saneamento básico. O saneamento é um aliado no combate a dengue pois a destinação correta do esgoto está entre as ações que podem evitar a proliferação de diversas doenças, inclusive a dengue, e quando a população tem acesso a esses serviços há um aumento na qualidade de vida, diminuição dos gastos com saúde pública e preservação do meio ambiente.

Porém a lógica que vemos ser seguidas pelos governos é outra, em que grande parte de verbas que poderiam ter seus destinos repensados e serem utilizadas para a saúde da população são destinadas para pagar a fraudulenta dívida pública (que em 2023, primeiro ano de governo Lula/Alckmin, subiu para 74,7% do PIB) ou vemos os trabalhadores em situações cada vez mais precárias de vida, em postos mais precários de trabalho, o que ganhou espaço por meio das reformas Trabalhista e da Previdência, além da Lei da Terceirização Irrestrita, aprovadas no governo golpista de Temer ou no governo Bolsonaro que o sucedeu para levar a frente os ataques, mas que ao mesmo tempo o governo de Frente Ampla Lula Alckmin não cogita revogar. Tais dados são importantes pois apesar de um maior número de pessoas estarem trabalhando as suas funções são cada vez mais precárias, o que por sua vez interfere no modo de vida, subsistência e no acesso à saúde do conjunto dos trabalhadores.

Diante de tal situação a reflexão sobre uma Reforma Urbana Radical no país que possibilitaria repensar estruturalmente as regiões para que a tecnologia existente estivesse a serviço do bem estar dos trabalhadores e do povo pobre em uma relação harmônica com a natureza, para que todos tenham o mínimo que seria o acesso adequado a água, esgoto e moradia de qualidade, é algo essencial em um momento em que questões climáticas, viroses e inúmeras doenças acometem cada vez mais a população. Tal Reforma precisaria se dar sob controle dos próprios trabalhadores e moradores de cada região que sabem detalhadamente as necessidades de cada território, seria o único caminho para resolver o problema estrutural que envolve o tema da moradia mas se expande para uma reflexão mais profunda sobre o meio ambiente e a relação de equilíbrio entre o homem e a natureza.

Tal caminho se contrasta com a política levada a frente pelos municípios, governos estaduais e governo federal que diante do aumento do número de casos e mortes por dengue, a persistência de casos de Covid e o aumento de novos casos semanais de Srag (síndrome respiratória aguda grave) não têm apresentado um plano emergencial para atender a população com testes, vacinas, atendimento de qualidade nos hospitais públicos, que vemos que estão cada vez mais sucateados, e tratamento adequado a cada pessoa que esteja doente.

Tal questão só será resolvida por um plano emergencial que seja levado a frente e sob controle dos trabalhadores da área da saúde e população que levem em conta a vida das pessoas e não o lucro dos grandes empresários, como vemos com a disponibilidade de vacinas em clínicas privadas em que a faixa etária de 4 a 60 anos pode se vacinar efetuando o pagamento de R$400,00 por dose, enquanto que na rede pública só há vacina disponível para o público alvo que envolve a faixa etária de 11 a 14 anos com bastante limitações no número de doses que estão sendo efetivamente aplicadas, já que a vacinação contra a dengue começou em 9 de fevereiro e desde então apenas 11% das doses em posse do Ministério da Saúde e repassadas aos Estados e municípios foram aplicadas nesse público-alvo da campanha.

Somente a organização do conjunto dos trabalhadores confiando em suas próprias forças em unidade com os moradores de cada região, dos funcionários da área da saúde e de especialistas ambientais conseguirão lutar por condições dignas de saúde para todos, tratamento adequado em caso de doenças e batalhar por uma outra sociedade que priorize a vida das pessoas e buscando ter, para isso, uma relação equilibrada com a natureza.




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