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França | Grande reivindicação do Révolution Permanente no tradicional jornal Libération

Publicamos a seguir um artigo do tradicional jornal francês Libération sobre a situação da chamada extrema esquerda em meio à luta contra a reforma da previdência, no qual se destaca o papel do Révolution Permanente, organização que forma parte da rede internacional Esquerda Diário na França.

quarta-feira 5 de abril de 2023 | Edição do dia

Esta é uma tradução do artigo de Marceau Taburet publicado no último 3 de abril de 2023 na mídia francesa Libération, no qual o autor descreve a situação da extrema esquerda francesa nos protestos contra a reforma previdenciária imposta pelo presidente Emmanuel Macron.

O Novo Partido Anticapitalista (NPA) e a Lutte Ouvrière (LO), em meio a dificuldades tanto eleitorais como de forças militantes, pretendem capitalizar a mobilização contra a reforma da previdência, na qual o jovem movimento Révolution Permanente já conquistou seu nome na extrema esquerda.

Em 21 de janeiro, em Paris, o céu azul e os raios de sol disfarçam as baixas temperaturas. No trajeto entre a Praça da Bastilha e a da Nação, milhares de jovens marcham contra a reforma da previdência, apresentada alguns dias antes. Um caminhão de som abre caminho em meio à multidão. Nele, personalidades da esquerda se revezam no microfone para falar por alguns minutos. O som está ruim e os manifestantes escutam apenas parcialmente. Chega a vez de Olivier Besancenot, figura do Novo Partido Anticapitalista (NPA). Se emociona: “A mobilização das gerações de ontem está agora conosco. Vamos parar a sociedade, vamos parar o país”. Seu tom é seguro, suas frases perfeitamente esculpidas. Em seguida, seu nome é entoado em coro: “Olivier, Olivier!”. “Este aí ressurgiu”, ri uma mulher encolhida num casaco preto. Bastaram-lhe cinco minutos para despertar a multidão. “Algo aconteceu quando Besancenot falou. Quase esquecemos como ele era bom”, admite um deputado do La France Insoumise (LFI).

O ex carteiro coloca todas suas forças na batalha. Sabe que há muito em jogo. Não se trata dele, que sempre se incomodou com a “personalização do poder”, mas da organização que representa, o Novo Partido Anticapitalista (NPA). O partido, herdeiro da Liga Comunista Revolucionária (LCR), está mergulhado em uma crise interna que explodiu em dezembro. Os partidários de uma linha autônoma e revolucionária foram convidados a retirar-se, e o NPA agora adota oficialmente uma linha unitária, junto às demais forças da esquerda, incluindo a LFI de Jean-Luc Mélenchon. Reduzido a proporções muito modestas, o partido conta com a batalha contra a reforma da previdência para recuperar sua vitalidade. Será uma aposta vencedora? De qualquer forma, a amplitude da mobilização contra o projeto governamental dá um novo impulso à esquerda anticapitalista. “O movimento social levantou sua cabeça, e nós também”, confirma Christine Poupin, dirigente do NPA. “É um momento em que tudo muda muito rapidamente, tudo é mais denso e intenso”.

“Parte da geração mais jovem é claramente anticapitalista”

Para os ativistas que preparam, todos os dias, o terreno para a revolução, ver o povo francês em greve e nas ruas é um alívio. A extrema esquerda se sente animada por uma atualidade que não cessa de mobilizar seus sujeitos centrais. Os mesmos que, para alguns, participam de suas primeiras manifestações. “Para eles, trata-se de uma formação política acelerada desde o começo da mobilização”, aponta Christine Poupin. “O papel do Estado, de suas instituições, da polícia… é um curso intensivo”. Um processo tão claramente aberto que “uma parte da geração mais jovem é claramente anticapitalista”, afirma a historiadora Ludivine Bantigny, especialista em revoluções e professora na Universidade de Rouen. “Há, na sociedade, muita reflexão e questionamento ao capitalismo. Voltamos a isto. Na década de 90, isto havia desaparecido por completo. Era considerado um sistema óbvio, o menos pior de todos”. Resta ver se este impulso se traduz em adesões, já que neste momento não há nenhuma garantia de que os opositores à reforma previdenciária decidam, em grandes números, ampliar a mobilização mediante um compromisso partidário.

Na batalha que está sendo travada, uma organização muito jovem está fazendo certo. O Révolution Permanente (RP), cujo nome faz referência a uma tese de Karl Marx retomada por León Trotsky, quer ser uma ferramenta de referência nas lutas sociais. Entre partido político e meio de comunicação, o RP investe suas forças nos piquetes, nas assembleias gerais, nas manifestações… O resultado: o movimento conquistou seu nome nas redes sociais e se beneficia de uma exposição midiática sem precedentes. “É o resultado de um trabalho realizado em vários níveis”, explica Elsa Marcel, advogada e membra do Révolution Permanente. “Em primeiro lugar, seguimos intensamente as lutas o mais próximo possível de seu terreno. Em segundo lugar, nos apoiamos em lugares estratégicos, sobretudo nas universidades, mas também no setor agroalimentício, na SNCF (ferroviário), nas refinarias etc”.

Convidada recentemente aos estúdios de televisão, principalmente nos canais France 5 e BFM TV, Elsa Marcel é uma figura em alta que domina com entusiasmo a arte da oratória. O mesmo ocorre com Ariane Anemoyannis, estudante da universidade Paris-I e figura pública do movimento. Diante da suposta “passividade” de outros partidos como o Lutte Ouvrière
(LO), e o “estancamento” do NPA em suas disputas internas, o RP pretende encarnar uma terceira via e lançar “novos perfis”. “Nas redes sociais, as pessoas dizem que é bom ver jovens mulheres que se reafirmam e se defendem”, diz a advogada.

Impor o “primeiro revés” de Macron

Uma proeza, quando se pensa que a organização, nascida de uma cisão do NPA, foi criada oficialmente em dezembro, em um congresso fundacional em Paris. “Nós sabíamos que a luta pelas aposentadorias seria nosso batismo de fogo”, afirma Elsa Marcel. “Queremos aproveitar a prova da luta de classes”, completou. Um grupo de personalidades públicas vieram apoiar as iniciativas do RP, entre elas, a atriz Adèle Haenel, o filósofo Frédéric Lordon e o rapper Médine. Este último esteve presente na refinaria da Normandia no último 24 de março para contestar as reintegrações ao piquete dos trabalhadores.

O desafio agora é saber se estas organizações poderão influir no curso desta batalha. Christine Poupin está convencida de que a luta contra o governo “não se dará nos mesmos termos de ganhar ou perder”. A Lutte Ouvrière (LO), que evita as reuniões conjuntas da esquerda, diferentemente do NPA que divide regularmente o cenário com outras forças, espera impor o “primeiro revés” a Emmanuel Macron: “Seria um ponto de apoio para novas batalhas por nossos salários e condições de trabalho”, afirma a organização trotskista. No caso do Révolution Permanente, querem capitalizar “as aspirações por uma transformação profunda da sociedade” expressa particularmente pelos jovens, golpeando “um regime que ficou sem fôlego”. “Há uma grande receptividade a nossas ideias”, insiste Elsa Marcel. “Recebemos muitos pedidos para juntar-se a nós”. Ainda não é a “Grande Noite”, mas, como relembra Ludivine Bantigny, “a revolução é uma preparação lenta que passa por movimentos de luta social”.




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