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Islamofobia | Macron proíbe o uso de abaya nas escolas francesas

O início do novo ano letivo na segunda-feira foi marcado pela proibição dos abayas, um tipo de vestido islâmico. Uma medida islamofóbica para a qual o governo francês mobilizou a polícia.

quarta-feira 6 de setembro de 2023 | Edição do dia

Esta semana, o início do novo ano letivo francês foi transformado numa operação de comunicação governamental sobre a introdução da proibição racista das abayas. A medida, anunciada na semana passada, consagra por lei os ataques que são travados há vários anos contra estudantes muçulmanas que usam esse tipo de vestido longo. Foi iniciada a mobilização de prefeitos e “equipes de valores da República”, bem como o convite aos jornalistas para cobrirem as escolas “enfrentadas com o problema”.

Por outro lado, os serviços de inteligência do governo e os agentes policiais da MPCE ("Missão de Prévention, de Contact et d’Écoute" da Polícia Nacional) foram mobilizados para garantir a medida no início do novo ano letivo.

Conforme anunciado, representantes das equipes de “Valores da República” também foram destacados às entradas de algumas escolas para fiscalizar o cumprimento da proibição. “Na nossa escola nenhuma menina veio vestida de abaya, mas um inspetor da equipe “Valores da República” esteve presente durante toda a manhã para vigiá-las”, explica uma assistente educacional de uma escola em Saint- Denis, perto de Paris.

Eles estavam lá para impedir que as poucas alunas que vinham vestidas com abayas entrassem em suas escolas. “Tivemos uma aluna que veio com um abaya e eles a separaram do resto dos alunos, exporam ela e, obviamente, mandaram para casa imediatamente”, explicam de outra escola secundária da região de Paris. Uma ofensiva que não se deteve nos abayas, como seria de esperar.

O perfil racial pesou fortemente na atmosfera no início do novo ano letivo. “Eles se sentem tensos e estressados ​​e têm a impressão de que vão passar na verificação de roupas ao entrar na escola”, afirmam professores do ensino médio. “É bastante chocante, fica-se com a impressão de que os estudantes têm de ser controlados como se fossem suspeitos de terrorismo, como se estivéssemos à entrada do aeroporto”.

A oposição à medida foi expressa em reuniões de pessoal e em sessões de “formação para a laicidade” organizadas por alguns diretores de escolas. “Entre os colegas da vida escolar, há uma rejeição quase unânime da proibição dos abayas; muitos de nós não apoiamos o que o governo está introduzindo”.

Da mesma forma, enquanto os dirigentes sindicais da educação respaldaram a proibição do uso de abayas e qamis, criticando a medida apenas como uma "distração" dos "problemas reais" que a educação nacional enfrenta, foram ouvidas críticas a esta posição, como a do CGT Educação 31, que manifesta a sua oposição a “uma medida racista e sexista que devemos combater”.

É uma ofensiva que visa diretamente os estudantes muçulmanos, que estarão sujeitos a uma perfilação racista reforçada e a medidas de exclusão, mas alguns professores começam a fazer ouvir a sua voz. É o caso do instituto Mauric Utrillo de Stains (93) , onde o pessoal reunido na "AG de lutte" do centro anunciou em comunicado que entrará em greve na quarta-feira.

Em seu comunicado, a equipe do centro “se dissocia da política governamental”: “Para nós, todos os alunos deveriam ser bem-vindos no Instituto Maurice Utrillo e não temos por que cuidar de suas roupas. Nos negamos a estigmatizar as alunas que usam abayas ou qamis".

Diante da atual ofensiva islamofóbica, os funcionários da Escola Secundária Utrillo em Stains convocam uma greve nesta quarta-feira e convidam estudantes, funcionários e famílias a se manifestarem contra o ataque islamofóbico e a falta de recursos.

Apelam à solidariedade e participarão num comício fora do centro às 12h00 de quarta-feira "para dizer NÃO à política islamofóbica do governo e exigir os recursos pedagógicos e educativos de que necessitamos para trabalhar corretamente em Maurice Utrillo".

Esta é a primeira mobilização deste tipo e poderá ser um ponto de encontro num momento em que é urgente que os trabalhadores franceses da educação, que se recusam a ser o porta-voz deste último ataque governamental, façam ouvir a sua voz.

Em um momento atravessado por diversas crises externas e internas para o imperialismo francês, em que o governo pretende “restaurar a autoridade” num contexto de profundo questionamento das suas instituições por parte dos jovens, os sindicatos, as organizações políticas e as associações devem unir-se em torno de um programa que combine a retirada desta nova proibição e todas as medidas islamofóbicas e racistas do governo, em exigência de recursos massivos para os serviços públicos, aumento dos salários e a sua indexação à inflação. Um programa capaz de lançar uma luta por condições dignas de trabalho e estudo para todos.

Este artigo foi escrito com base em informações e relatos do Révolution Permanente, parte da Rede Internacional do Esquerda Diário.




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