Há segundo turno em 57 das 97 cidades com mais de 200 mil eleitores, ficam de fora Brasília que não vota para prefeito e Macapá que graças ao apagão da privatização de Bolsonaro e do PDT não teve votação ainda. Essa disputa em segundo turno traz claro sinais do fortalecimento da direita golpista não bolsonarista, um traço marcante do primeiro turno.
Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi
domingo 29 de novembro de 2020 | Edição do dia
No primeiro turno analisamos o fortalecimento do setor golpista não bolsonarista, o que chamamos de bonapartismo institucional. Também analisamos como dentro dos ganhadores do “centrão” se destacam os herdeiros da ARENA da ditadura (DEM, PP e PSD). Já os resultados da esquerda (ainda que não muito diferentes de 2016 em votos absolutos) se deu em sinais bem opostos: há locais onde a votação de 2020 superou até mesmo 2012, auge do lulismo, como em Porto Alegre e Recife; e em outros onde segue caindo, como no Rio de Janeiro.
Dos 57 segundos turnos (listados no final da matéria) há 26 pleitos onde estão presentes representantes da direita que compõe o “centrão”, com destaque para DEM, PP e PSD. Sendo destes, 7 pleitos onde os eleitores estão encurralados entre “centrão” vs “centrão”. Há 6 destes 27 pleitos onde o confronto é entre centrão e algum partido da esquerda da conciliação de classes (PT e PCdoB). Estas cidades são Anapólis (GO), Cariacia (ES), Contagem (MG), Diadema (SP), Guarulhos (SP), Santarém (PA). Trata-se de cidades importantes, mas nenhuma capital.
Além do centrão, o golpismo não bolsonarista está representado no segundo turno por pilares do moribundo regime de 88, o PSDB e o MDB. Os partidos de FHC, Covas e Doria e Temer estão representados em 22 segundos turnos. Entre eles, há 6 municípios onde há disputa entre pilares burgueses do regime de 88 (mas que foram participes ativos do golpe) contra a esquerda. Esses pleitos são os de São Paulo, Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas (RS), Feira de Santana e Vitória da Conquista (BA).
Esse conjunto de forças golpistas não bolsonaristas estão presentes em 49 dos 57 pleitos.
Há ainda 3 pleitos de esquerda contra extrema-direita bolsonarista, em Belém, São Gonçalo e Vitória e 3 pleitos de disputa de PT e PSB, ou seja de “esquerda” e “centro esquerda”. Esses pleitos acontecem em Juiz de Fora (MG), Mauá (SP) e Recife. A esquerda (PT, PCdoB, PSOL) está presente em 18 pleitos. A centro esquerda de PSB, PDT e Rede está representada ao todo em 12 pleitos.
Já o bolsonarismo duro de Republicanos, PSL, PRTB, PSC está presente em 11 segundos-turnos.
Das 18 cidades onde haverá esquerda no segundo turno, há uma concentração daqueles municípios onde a esquerda recuperou terreno em relação ao abismo de 2016 e está a menos de 5% dos recordes de votação no auge do lulismo em 2012. Das 18 cidades onde a esquerda está presente no segundo turno, há 5 cidades com recuperação (mas ainda ligeiramente inferior a 2012), em especial a importantíssima capital paulista, onde o somatório dos candidatos de esquerda de 2020 no primeiro turno ficou a somente 1,17% do pleito de 2012. Há ainda 8 cidades onde o resultado de 2020 não somente recuperou a queda de 2016 como suplantou o resultado de 2012, entre elas Porto Alegre e Recife. Há cidades de resultados mistos e somente um segundo turno com participação da esquerda onde o resultado é inferior aos maus resultados de 2016, que é o caso de Anapólis (GO).
Essa visão global dos pleitos em jogo não esgota as características específicas das votações em cada um dos municípios, e nem detalha como debaixo do guarda-chuva “centrão” há candidatos que apoiam abertamente Bolsonaro. Porém a ocorrência de 11 segundos turnos com defensores explícitos do reacionário presidente, número comparável aos 12 da centro-esquerda, mostra como, longe de varrido a extrema-direita bolsonarista, é parte constitutiva do regime do golpe.
Essa análise separando esquerda e centro-esquerda também não dá conta do caminho de conciliação com empresários, partidos burgueses e golpistas adotado pela esquerda neste segundo turno, onde há formações de "frentes amplas" que vão do PSOL à Rede de Marina Silva, como pontuamos criticamente em relação a Boulos no segundo turno paulista. Para armar a luta da classe trabalhadora é necessário se enfrentar com todo o regime do golpe e lutar por uma esquerda da independência de classe frente a todas variantes patronais.
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Veja a lista completa das cidades com segundo turno e quais partidos disputam:
CIDADE UF PARTIDO 1 PARTIDO 2
ANAPOLIS GO PP PT
ARACAJU SE PDT CIDADANIA
BAURU SP PATRIOTA DEM
BELEM PA PSOL PATRIOTA
BLUMENAU SC PODEMOS DEM
BOA VISTA RR MDB SOLIDARIEDADE
CAMPINAS SP REPUBLICANOS PL
CAMPOS RJ PSD PDT
CANOAS RS PSD PTB
CARIACICA ES DEM PT
CAUCAIA CE PSD PROS
CAXIAS RS PT PSDB
CONTAGEM MG PT DEM
CUIABÁ MT MDB PODEMOS
DIADEMA SP PT PSD
FEIRA DE SANT.BA PT MDB
FORTALEZA CE PDT PROS
FRANCA SP PSD MDB
GOIANIA GO MDB PSD
GOV. VALAD. MG PSDB PSC
GUARULHOS SP PSD PT
JOÃO PESSOA PB PP MDB
JOINVILLE SC PSD NOVO
JUIZ DE FORA MG PT PSB
LIMEIRA SP PSD PODEMOS
MACEIÓ AL MDB PSB
MANAUS AM PODEMOS AVANTE
MAUÁ SP PSB PT
MOGI DAS CR. SP PSDB PODEMOS
PAULISTA PE MDB PSB
PELOTAS RS PSDB PT
PETROPOLIS RJ PSB PL
PIRACICABA SP PSDB DEM
PONTA GROSS. PR PSC PSD
PORTO VELHO RO PSDB PP
PORTO ALEGRE RS MDB PCDOB
PRAIA GRANDE SP PSDB PSL
RECIFE PE PT PSB
RIBEIRAO PRET. SP PSDB PSB
RIO BRANCO AC PSB PP
RIO DE JANEI. RJ REPUBLICANOS DEM
SANTA MARIA RS PP PSDB
SANTAREM PA DEM PT
SAO GONÇALO RJ PT AVANTE
SAO JOAO MER. RJ DEM PSC
SAO LUIS MA PODEMOS REPUBLICANOS
SÃO PAULO SP PSDB PSOL
SAO VICENTE SP PSDB PODEMOS
SERRA ES PDT REDE
SOROCABA SP REPUBLICANOS PSL
TABOAO DA S. SP PSDB PODEMOS
TAUBATÉ SP MDB CIDADANIA
TERESINA PI MDB PSDB
UBERABA MG SOLIDARIEDADE PTB
VILA VELHA ES PODEMOS PSDB
VITÓRIA ES REPUBLICANOS PT
VITÓRiA DA C. BA PT MDB
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