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Crise Política | Peru: Dina Boluarte reprime nova onda de protestos com mais criminalização

Como resposta à profunda crise que atravessa seu governo, Dina Boluarte, presidenta que emergiu do golpe parlamentar e que hoje é responsável por cerca de 50 mortes e centenas de feridos, em uma mensagem à nação na última sexta-feira (13), culpabilizou agitadores de esquerda e agentes internacionais pela enorme insatisfação social expressa em fortes protestos que pedem sua renúncia. Assim, deixou claro que a saída do Executivo será de mais repressão e criminalização dos protestos sociais.

quarta-feira 18 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Com quase toda a região sul do país paralisada e milhares de manifestantes pedindo sua renúncia nas ruas e praças, Dina Boluarte, cujo governo teve a recente renúncia de dois ministros justamente por questionar sua política de linha dura contra os protestos, respondeu com uma mensagem à nação, na qual reafirmou a linha repressiva e o discurso de terror e criminalização dos atos - que seu primeiro-ministro, Alberto Otárola, já havia anunciado dias antes. Discurso este que apenas serviu para incendiar ainda mais os ânimos dos povos do interior do país, sobretudo nas regiões mais empobrecidas do sul, que agora agitam a organização de uma grande marcha até a capital Lima, a fim de pressionar pela renúncia da presidenta.

Em sua fala, Boluarte atribuiu a responsabilidade pelas fortes manifestações, que tiveram início após a destituição de Pedro Castillo pelo Congresso, a supostos provocadores e agitadores vinculados a “grupos extremistas de esquerda” e a interesses internacionais da Bolívia, por meio do ex-presidente Evo Morales - a quem, há alguns dias, Boluarte proibiu a entrada no Peru, junto a outros cidadãos bolivianos, sob a acusação de que pretendem desmembrar e anexar partes do território sul peruano. Em dado momento de seu discurso, Boluarte chegou a afirmar que houve a entrada de armas de fogo pelo sul do país (em clara alusão à Bolívia) para, supostamente, promover ações de protesto na região de Puno.

A presidenta também disse que a atual crise política se deve a um suposto machismo exacerbado e profundamente presente na consciência dos manifestantes, já que, segundo Boluarte, estes setores não suportariam o fato de que uma mulher como ela seja a primeira presidenta do país. Este discurso, que não resiste e nem carece de muita análise, desconsidera que muitas das manifestantes que enfrentaram as balas e bombas da repressão ordenada pela presidente são mulheres camponesas, trabalhadoras e parte dos setores populares que não se vêem representadas por Boluarte, precisamente porque enxergam nela a expressão da traição e desprezo pela vida dos mais pobres.

Ainda que, em determinado momento de sua mensagem à nação, tenha se desculpado pelos “prováveis” erros cometidos durante seu mandato, jamais reconheceu responsabilidade alguma pela violenta repressão policial e militar ordenada e autorizada pelo Executivo, que, até o momento, já deixou cerca de 50 mortos e centenas de feridos. Boluarte constantemente deixou clara sua visão de que as mobilizações que hoje comovem o país não representam a vontade da maioria dos peruanos, e de que seriam uma resposta minoritária dos apoiadores de Pedro Castillo que se negam a aceitar sua saída do governo.

Por essa razão, foi enfática ao dizer que não renunciará à presidência da República e que, junto às instituições repressivas, buscará manter o estado de direito e a vigência do atual regime político expresso juridicamente na Constituição de 1993. Também afirmou que serão promovidas investigações e sanções aos que, nas palavras da presidenta, estiverem por trás das ações de protesto. Fica evidente, portanto, que a política de perseguição aos líderes sociais e de criminalização dos protestos serão as armas com as quais o Executivo combaterá o descontentamento massivo e a fúria social contra os poderes do Estado, que levaram ao atual ascenso das mobilizações sobretudo nas regiões do interior do país.

Completamente cega pelo interesse de manter-se no poder pelo maior tempo possível e pela necessidade de agradar a seus aliados no Parlamento, além de todos os setores empresariais e aos comandos militares e policiais, que hoje a sustentam em troca de que lhes permita manter seus privilégios de classe e casta, Baluarte, que chegou à vice presidência do Peru pelas mãos de Castillo e que, em dado momento, chegou a declarar publicamente que renunciaria caso o presidente fosse destituído, agora dá as costas à realidade do país, principalmente à realidade e às demandas daqueles que foram seus eleitores no primeiro turno, os mesmo que agora exigem nas ruas que renuncie a seu cargo na presidência.

Por tudo isto, é provável que o discurso da presidenta, ao contrário de acalmar os ânimos, terminará os convulsionando ainda mais. Para além, portanto, do “diálogo” enganoso apoiado no estado de emergência e na repressão policial e militar que Boluarte hoje oferece ao povo, novas ações de protesto começam a se desenhar adiante.




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