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8M em Pernambuco | Raquel Lyra não é uma de nós: organizar a luta de forma independente dos governos

Escrevemos esta nota para expressar nosso repúdio ao fato de Raquel Lyra (PSDB) ter tido espaço para fala no ato do 8 de março em Recife a partir da entrega de pauta de reivindicações realizada por um setor da organização do movimento. Repetimos o que salientamos na nossa fala no ato: Raquel Lyra é inimiga das mulheres e nossas demandas só serão conquistadas com a nossa luta independente de todos os governos e desde as bases.

domingo 12 de março de 2023 | 22:26

A mobilização do 8 de março no Recife reuniu diversas organizações e sindicatos a partir do lema “Mulheres nas ruas: contra o racismo, feminicídio, transfeminicídio, encarceramento em massa, pela legalização do aborto, por democracia popular, sem anistia para golpistas”. Demandas que apontam um sentido oposto do que representa figuras da direita, como a governadora do estado, Raquel Lyra (PSDB), eleita com o apoio das forças bolsonaristas. A oposição à Lyra foi unânime na construção do ato do 8 de março, oposição com a qual concordamos e agregamos a necessidade da independência de todos os governos, estadual e federal.

O lema fechado em conjunto pela maioria das organizações que compunha o ato deveria ser suficiente para entender que mesmo estas pautas ultra democráticas estão longe de serem conquistadas em acordos e negociatas com figuras como Raquel Lyra, que teve sua candidatura apoiada pela extrema direita de Pernambuco, direita que, inclusive, esteve presente no coro que chamou de assassina uma criança de 10 anos que precisou recorrer ao procedimento do aborto no estado. Lyra inclusive sancionou a proposta do pastor Cleiton Collins à reforma administrativa, legalizando comunidades terapêuticas no estado e tendo uma bolsonarista na secretaria de educação indicada pela família Ferreira. Ela também é entusiasta de políticas repressivas, tendo como seu carro chefe a defesa das polícias em um dos estados onde a brutalidade racista da polícia leva a que 97% dos assassinatos cometidos por ela seja de jovens negros.

Raquel Lyra é um nítido exemplo de como representatividade vazia não significa nada para os setores oprimidos. O fato de ser mulher não faz dela “uma de nós”. O que une as que lutamos pelos direitos das mulheres vai no sentido oposto dos interesses de figuras de direita como Lyra.

Nós do Pão e Rosas também não temos acordo com setores que defenderam a entrega de uma pauta de reivindicações para esse governo de direita, pois isso dá a idéia de que nossas pautas poderiam ser atendidas e negociadas por Lyra, além de sugerir que existe dentro dos nossos movimentos confiança em governos, inclusive da direita tucana. Ou seja, cria ilusões em uma figura de direita que utiliza de uma suposta representatividade de ser mulher para fazer demagogia, o que não serve para fortalecer nossa luta, como ficou nítido na noite do 8 de março. Raquel, de forma hipócrita e oportunista, aproveitou a deixa criada por um setor do ato, para fazer sua demagogia ridícula e aparecer falsamente como uma figura que quer dialogar com a das demandas das mulheres. Não nos iludamos: nossas demandas só serão arrancadas, derrotando Raquel Lyra no cenário estadual, mediante a nossa luta construída pela base, sem confiança e com total independência política de todos e quaisquer governos.

Nós do Pão e Rosas marchamos defendendo que é fundamental marcar uma forte posição de independência do governo Lula-Alckmin, que está junto com banqueiros, empresários e setores ligados às igrejas e agronegócio que são inimigos históricos da classe trabalhadora e das mulheres, setores com os quais é impossível ser consequente com a defesa da revogação integral das reformas trabalhista e da previdência, ou de lutar pelo direito ao aborto.

O PT vem aprofundando seu projeto de tentar por cima mostrar uma imagem de “unificação nacional”, incorporando setores golpistas, centrão, tucanos e liberais, como Simone Tebet (MDB), ministros da União Brasil, partido que elegeu Bolsonaro, chegando ao nível de vermos fotos onde o vice-presidente do PT aparece sorridente junto ao general Eduardo Pazuello, bolsonarista responsável direto por centenas de milhares de mortes na pandemia durante sua gestão no ministério da saúde. Ao que parece, a política de conciliação que mostra por cima se adentra também por baixo, via burocratização dos movimentos sociais, e a permissão para que Raquel Lyra fizesse sua demagogia nefasta no 8 de março é um nítido exemplo disso.

Tão pouco concordamos que nossa oposição pode ser feita com a ilusória aliança entre setores de esquerda junto ao PSB na bancada parlamentar na ALEPE, que vem sendo encabeçada por Dani Portela do PSOL. O PSB representa uma oligarquia política do estado, responsável pela situação de fome, desemprego e informalidade de Pernambuco, pelas mortes e desabrigados das chuvas no estado que ano após ano se intensificam e vitimam uma maioria precária e negra, setores jogados para as encostas dos morros e palafitas. O PSOL, ao conformar alianças como estas oligarquias, está depositando ilusões em um partido burguês responsável por grande parte das mazelas que atinge a classe trabalhadora e o povo pobre no nosso estado, reproduzindo à nível regional a adaptação à política de frente ampla.

Esses fatos deixam bastante em evidência o que viemos enfatizando desde o primeiro momento durante toda a construção desse 8 de março: a necessidade de construir um movimento independente de todos os governos, única maneira de ser consequente com as demandas das mulheres, da classe trabalhadora e todos os setores oprimidos, arrancar nossas reivindicações com a força da nossa luta e derrotar a direita e a extrema direita na luta de classes.




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