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Dia do estudante | 11 de Agosto: Por que não tivemos atos massivos em meio a tantos ataques?

Hoje se realiza o 11 de agosto, dia do estudante, com atos em diversas capitais do país chamados pela UNE (União Nacional dos Estudantes), em vista disso é importante que vejamos qual o cenário nacional no qual está inserido este dia e qual a política para o movimento estudantil que leva a nossa entidade nacional e vermos quais os desafios que temos pela frente.

Julia CardosoEstudante de Ciências Sociais da USP

sexta-feira 11 de agosto de 2023 | 23:41

Neste momento, ataques à juventude é um elemento que não falta. A começar pelas chacinas que aconteceram no RJ, BA e SP, em que punem a juventude negra com a própria vida, e no caso do Rio punem uma criança de 13 anos, o menino Thiago. Para além destes crimes de ódio do Estado, o dia do estudante está acontecendo em meio à agenda neoliberal sendo posta em prática pelo governo de frente ampla Lula-Alckmin, para além das reformas anteriores que seguem sem revogação, como o Novo Ensino Médio e reformas trabalhista e da previdência, que apenas estão colocados para inflar o bolso de lucros dos capitalistas e dos tubarões do ensino, enquanto esvazia o ensino de sentido, tornando, o ensino e trabalho precarizados. No entanto, o governo Lula-alckmin também se coloca para fazer ataques próprios como é o próprio arcabouço fiscal, um novo teto de gastos que irá significar mais ajustes, e logo, mais precariedade para a juventude e trabalhadores, e ainda na última semana, o presidente aprovou um corte orçamentário de R$ 452 milhões a menos para a saúde e R$ 333 milhões de cortes na educação.

Assim, vemos que com isso, o que reserva esse regime político e a frente ampla para a juventude, quando não a morte nas chacinas, é um presente e futuro precarizado, a começar pelas escolas com a reforma do ensino médio, que serve apenas para formar os estudantes com um interesse mercadológico para encher os lucros capitalistas, esvaziando o ensino de sentido, e ainda mais precarizado no caso de SP com a retirada dos materiais didáticos. Depois disso, a juventude se depara com um filtro racista e elitista que é o vestibular para conseguir adentrar nas universidades. E quando consegue furar esse filtro, se depara com universidades que mesmo com o discurso de serem de excelência estão sob diretos ataques e ameaças de desmonte, seja pelos corte milionários pelo governo federal, seja pelas gestões das reitorias que também movidas por interesses elitistas não garantem nem o mínimo: professores para todos os cursos e permanência.

Em vista disso tudo, vemos que é mais que urgente que nos organizemos e lutemos para pôr abaixo cada uma dessas reformas que coloca nosso ensino e o trabalho dos professores no terreno da precarização e colocar fim ao vestibular, que serve apenas para manter as universidades elitizadas de portas fechadas aos filhos da classe trabalhadora e a serviço dos lucros dos capitalistas. E que a organização do movimento estudantil passe também por apoiar todas as greves dos trabalhadores, como é o caso no momento da greve da Enfermagem do RJ que tem seu piso salarial atacado pelo ministro do STF Luiz Barroso, a greve dos professores e funcionários das ETECs e FATECs de SP, a greve das trabalhadoras terceirizadas da UFRN e a possível greve prevista para o dia 15 dos metroviários de SP.

Mas em que momento se encontra o Movimento Estudantil?

Como no ano passado, o 11 de agosto, dia do estudante, foi convocado em meio a não ter sido construído desde as bases em cada universidade, como já tínhamos colocado que era necessário (https://www.esquerdadiario.com.br/11A-abaixo-os-cortes-de-Lula-Alckmin-por-um-plano-de-lutas-contra-o-NEM-e-o-Arcabouco-Fiscal), o que resultou em atos de vanguarda e não massivos. A convocação de atos formais se dá porque a UNE segue em sua política de paralisia e de subordinação ao governo de frente ampla e seus interesses.

Basta nós retornarmos ao 11 de agosto do ano passado em que foi pautado pela assinatura da ‘Carta às brasileiras e aos brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito’, que serviu para pautar o dia do estudante como um dia de fortalecimento do Judiciário e Instituições burguesas e da conformação com o governo de frente ampla que estava por vir, e logo, abaixar as aspirações do movimento estudantil. Essa Carta, que foi lida na Faculdade de Direito da USP no início do dia do estudante de 2022, foi assinada por ex-ministros do STF, representantes dos grandes bancos como FIESP e FEBRABAN, uma série de direitistas que foram responsáveis por articular o processo golpista de impeachment da Dilma, a prisão arbitrário de Lula e o golpe institucional de 2016 - o qual colocou o Temer no poder de forma a ser responsável pela aplicação de todas as reformas que elencamos acima.

Esses mesmos setores que articularam o crescimento da extrema direita no país e as reformas que precarizam a nossa vida, ano passado, tentavam sob um discurso demagógico, defender a democracia burguesa que sabemos que nada tem de democrático e está a serviço apenas de descontar a crise capitalista nas costas da juventude e dos trabalhadores. E ainda mais, a leitura dessa carta na faculdade de Direito vangloriava o ex-integralista, Goffredo da Silva Telles Junior, como o responsável pelo fim da Ditadura Militar. Ou seja, cumpria um papel de tentar apagar a rica história de luta da classe trabalhadora e dos setores oprimidos do Brasil, como do gigantesco ascenso operário de 78-80 e do movimento estudantil, desviando o protagonismo da luta contra a ditadura para setores da burguesia como o judiciário e o empresariado brasileiro que, historicamente, não são senão seus algozes.

Assim, sob o discurso de unidade para derrotar o bolsonarismo e a absoluta confiança no governo de frente ampla Lula-alckmin que hoje aplica todas as reformas e ataques neoliberais, a oposição de esquerda rebaixou suas aspirações e programa para se juntar à burguesia, patrões e direita no dia do estudante ano passado, afogando qualquer perspectiva de independência de classe, a qual deve ser primordial para um movimento estudantil que queira derrotar cada reforma, o Novo ensino médio, o arcabouço fiscal e o vestibular.

Foi por isso que nós, do MRT e Faísca Revolucionária, não compusemos os atos do 11 agosto de 2022, e sim, batalhamos em cada local de estudo e trabalho, nos espaços de assembleia e em diálogo com os estudantes, e também indo ao ato não para compor, mas para dialogar e debater com os estudantes presentes que, para nós, a classe trabalhadora auto-organizada, com assembleias e reuniões de base, aliada à juventude, é quem pode ser a protagonista do combate ao bolsonarismo, e não os capitalistas, seus políticos burgueses, através da conciliação de classes. E também, por entendermos que a Ditadura foi derrubada por uma forte luta dos estudantes aliados aos trabalhadores nas fortes greves da década de 70, e não pela leitura de uma carta por um ex-integralista e muito menos por uma instituição burguesa como é o Judiciário.

Teve mudança na política da UNE nesse ano?

A política de subordinar a luta estudantil ao governo que vimos ano passado não teve grandes mudanças. O dia do estudante que vimos hoje também foi convocado sem ter sido construído nos locais de estudo e trabalho, a ainda mais, está acontecendo após o 59º Congresso da UNE, em que a direção majoritária (UJS, PT e Levante Popular da Juventude) tornaram este congresso em uma grande festa da frente ampla, com a presença, para além do presidente Lula, de figuras asquerosas como o atual presidente do STF e golpista de 2016, Luiz Barroso, e ministro da Justiça, o qual inclusive liberou material repressivo para reprimir a juventude negra no RJ, Flávio Dino.

Nós da Faísca Revolucionária, acabamos estragando um tanto essa festa, a começar por repudiar enfaticamente a presença do golpista Luiz Barroso na mesa de abertura do Congresso, o que levou a repercussões em toda a imprensa do país nos dias posteriores, com analistas e jornalistas políticos comentarem o ocorrido e direitosos dizerem que nossa ação foi uma “deselegância trotskista”. Pois bem, ao longo de todo o Congresso demonstramos como a conciliação de classes abre espaço para a extrema direita, fazendo um chamado aos setores que compunham a Oposição de Esquerda a defender a independência do movimento estudantil dos governos e reitorias, e chamando todes estudantes e organizações que querem ser uma alternativa real à burocracia da majoritária a construirmos uma nova oposição independente e antiburocrática.

O congresso também se encerrou sem nenhum debate sobre os ataques que estão colocados para a juventude e os trabalhadores, e o mais grave, sem nenhum plano de lutas para derrotar cada reforma e ataque. Ou seja, o congresso foi marcado pela morte da oposição de esquerda enquanto oposição real que levanta a bandeira pela independência de classe, dos governos e das reitorias. Isso se escancarou com o fato de que a presença do golpista Barroso só não passou impune em virtude da atuação de nós, Faísca Revolucionária, uma juventude trotskista, que rechaçamos o direitista que ataca o piso salarial da Enfermagem.

Quanto às organizações que por vezes se embandeira da consigna de independência e do comunismo, como é o caso da Unidade Popular (UP) que é a oposição que o governo gosta ao tirar fotos com o presidente e ministro golpista do STF, sem tecer grandes críticas aos ataques do governo; e União da Juventude Comunista (UJC/PCB), que não teve atuação de destaque no Congresso e ainda é marcado por ter feito palanque para o presidente Lula e ministro da Educação, Camilo Santana, enquanto nós fazíamos um ato independente para rechaçar a conciliação de classes, o Arcabouço Fiscal e Novo Ensino Médio. E ainda, ambas organizações carregam o legado de terem assinado a carta pelo estado democrático de direito ano passado junto dos patrões e banqueiros, e no caso da USP, junto do reitor de direita que em sua gestão reprimiu estudantes e cortou bolsas permanência! O que aconteceu então com a suposta “independência e o comunismo” da UP e do PCB?

Se formos falar do PSOL, a situação se agrava ainda mais. A organização que surgiu em 2004 para se propor a ser a oposição ao governo, teve sua juventude Afronte/Resistência votando as resoluções de conjuntura na plenária final do congresso junto da majoritária da burocrática UJS. E o restante da juventude do partido, não tiveram posições destacadas e se contentam com a política de pressionar o governo ‘pela esquerda’, o que significa na prática se diluir na política de frente ampla e depositar crédito no governo.

Quais as tarefas de hoje para o Movimento Estudantil?

É chacina, Novo Ensino Médio, reforma trabalhista e da previdência, Arcabouço Fiscal, ataque ao ensino e privatização do metrô, CPTM e Sabesp em SP. Ou seja, como já dito, ataques não faltam. Por isso, em vista da quantidade de ataques que estão colocados, que ameaçam a vida, ensino e profissão da juventude hoje, em especial da juventude negra, e tendo em vista o nível de subordinação que está colocado o movimento estudantil não organizando um plano de lutas que dê uma resposta à altura para combater tais ataques: o que devemos fazer?

Se segue a necessidade urgente de construirmos um plano de lutas para colocarmos abaixo cada um desses ataques e reformas já elencados, assim como defender o fim da polícia que apenas está a serviço de garantir os interesses da burguesia e matar a juventude negra, e o fim o do vestibular que impede que os filhos da classe trabalhadora cheguem na universidade. Esse plano de lutas deve ser organizado e construído junto com cada estudante em todas as universidades do país em espaços de assembleia em que todos os estudantes tenham direito a voz e voto, e também em aliança com os estudantes secundaristas e com os trabalhadores, sendo estes últimos também vítimas diretas dos ataques federais e estaduais, sendo papel do movimento estudantil apoiar e fortalecer cada greve que está curso.

É essencial que levantemos um programa que coloque como central a independência política dos governos e reitorias para fundarmos uma nova tradição do movimento estudantil que lute por Justiça por Thiago e todos os mortos nas chacinas do Guarujá, Rio de Janeiro e Bahia, pelo fim do vestibular, fim da polícia, pelo não pagamento da dívida pública que, assim como o novo teto de gastos, o arcabouço fiscal de Haddad e Lula-Alckmin, destina dinheiro pro bolso de banqueiros.

Não é possível que o movimento estudantil aceite que o futuro que está reservado para a juventude é ou a morte em chacinas ou a precarização até a última gota de suor no ensino e no trabalho, que aceite que a cara por trás das universidades de excelência é a terceirização que leva a morte de uma trabalhadora, como foi o caso da UNICAMP ano passado.

Assim, chamamos as demais organizações do movimento estudantil a romperem com a política de subordinação ao governo para construirmos uma luta com independência política e construirmos desde as bases chamados de exigência à direção da UNE por um plano de lutas para derrotarmos cada ataque que está colocado e arrancarmos justiça por Thiago e cada vida negra que é destruída nas favelas pelo país. É a serviço disso que deveria estar o dia do estudante, o dia 11 de agosto.

É preciso um movimento estudantil que aspire mais, que aspire pôr abaixo a ordem burguesa que só existe para explorar e transformar a vida da juventude na mais profunda miséria. Uma juventude que é marcada por carregar com fome uma bag nas costas por 12 ou 16 horas. Uma juventude e uma classe que têm condições de trabalho que lembram os escritos de Marx sobre as condições fabris pós revolução industrial no século XIX.

É outro lado que a juventude tem o papel de reviver os escritos de Karl Marx. O lado de que a tudo nossa classe pertence e que para isso basta por abaixo a ordem burguesa que utiliza das maiores artimanhas para explorar mais e mais dos oprimidos, dos negros, mulheres e LGBTS. Os escritos que diziam que organizados com independência política, a juventude aliada à classe trabalhadora tem tudo para pôr abaixo a classe dominante e livrar todos os países do mundo de toda opressão e exploração. E utilizar de todo o conhecimento produzido para resolver os problemas da classe trabalhadora e não para inflar os lucros dos capitalistas.

E acima de tudo, é necessário um movimento estudantil que não rebaixe suas aspirações para caber em um governo de frente ampla. Um movimento estudantil que levante um programa que questiona profundamente a sociedade de classes, que é fundada com bases que sustentam cada ataque que está colocado para a juventude trabalhadora, sendo um programa que se conecte com a precarização que sentimos na pele no nosso cotidiano. E é em virtude de findar essa precarização que uma juventude trotskista levanta elementos como o não pagamento da dívida pública e fim do vestibular, porque são medidas que enfrentam a raiz das reformas que são aplicadas para juventude. Sendo que a aplicação de tais reformas são necessárias para a sustentação da sociedade de classes que é a estrutura fundante da elitização das universidades e do pagamento da crise capitalista pelos trabalhadores, justamente por isso, que se retira exponencialmente investimento de setores sociais e se torna a vida, do trabalho ao ensino, motores para promover lucros e pagamento da crise capitalista.
Mas é visível que o preço que a juventude e trabalhadores pagam por custear essa crise é a morte e exploração, por isso, é urgente e necessário fundarmos um movimento estudantil que levante um programa que se enfrente com o mais elementar da sociedade de classes e se comprometa a construir uma sociedade sob novas bases.

A partir dessa visão de transformar radicalmente a sociedade e a nossa vida, para que nos ocupemos de outros dilemas que não a preocupação de sobreviver no ciclo exploratório do capitalismo. Comprometidos em levantar um programa que com independência política se enfrente com tudo de mais opressor do capitalismo, que Nós da Faísca Revolucionária, estamos construindo Assembleias Comunistas em cada universidade que estamos, para que possamos debater com cada estudante que também quer pôr abaixo a ordem burguesa e toda exploração e opressão do mundo, para fundarmos uma nova tradição do movimento estudantil!

Conheça a Faísca Revolucionária, juventude trotskista que está em várias universidades pelo país! Entre em contato com a gente e saiba mais sobre as Assembleias Comunistas!




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