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UFPE | As Eleições de DCE na UFPE e os rumos do movimento estudantil

A partir de amanhã se inicia as eleições do DCE da UFPE. Veja aqui a posição da Faísca Revolucionária.

segunda-feira 18 de setembro de 2023 | Edição do dia

Nos últimos dias deste período, ocorrerá na UFPE as eleições para o DCE, gestão 2023/2024. Após um período de 10 anos sem DCE, entre 2009 e 2019, o que poderia ser um grande ponto de partida para rearticulação do movimento estudantil na maior universidade do Norte/Nordeste, na verdade tem sido, no mínimo, decepcionante.

A gestão, “Eu defendo a UFPE”, composta por Correnteza, UJC, PSOL e correntes do PT, eleita em 2019, praticamente abandonou o DCE. No retorno ao ensino presencial em 2022, se realizaram novas eleições. Se aproveitando do abandono do DCE pela gestão anterior, o movimento Todas as Vozes, composto por Levante, UJS, PDT e PSB – mesmas correntes que estão na majoritária da UNE - venceu as eleições em 2022.

Como era de se esperar de correntes que integram o governo de frente ampla e de colaboração com a burguesia parasitária do Lula-Alckmin, que recentemente cortou mais de 30 milhões da educação, tal gestão não representou nada de melhor para o movimento estudantil da UFPE. Só o absurdo de ter um partido representante da reacionária oligarquia estadual, o PSB, integrando a gestão, já bastaria para explicar tudo. Como ter um movimento estudantil forte junto aos responsáveis por inúmeros ataques aos trabalhadores pernambucanos, tanto no governo do estado do então governador Paulo Câmara (PSB), como na prefeitura de João Campos (PSB)? Em 2021, quando os trabalhadores e estudantes se mobilizaram contra Bolsonaro, foi o governo do PSB, com Paulo Câmara à frente, que reprimiu as manifestações e cegou 2 trabalhadores. Foi o mesmo governo do PSB que também reprimiu as ocupações de escolas ocorridas em 2016, assim como reprimiu as diversas greves de professores e outras categorias, como a luta pelo piso da enfermagem, tanto a nível estadual quanto municipal.

Mas não pára aí. Assim como na UNE, em que submetem o movimento estudantil à defesa da frente ampla burguesa, não fazem nada frente aos ataques do governo. No dia 11 de agosto, dia do estudante, enquanto o governo aplicava ataques como os cortes na educação, a reacionária ofensiva contra os povos originários representada pelo Marco Temporal, o Arcabouço Fiscal e o Novo Ensino Médio, dia que deveria ter servido para organizar nossa luta, com assembleias e articulação do movimento estudantil nacionalmente, o DCE dirigido pelo Todas as Vozes se limitou a chamar um festival despolitizado. Mas e as assembleias para os estudantes se organizarem democraticamente contra os ataques? Esse ano, nenhuma. As únicas assembleias convocadas foram para falar do tema da segurança, onde colocaram como solução mais TKs e policiamento no entorno da UFPE, instituições racistas que garantem que a juventude negra não esteja ocupando o espaço da universidade. Evidentemente, o tema da segurança é importante, mas não pode servir de pretexto para abrir espaço para medidas policialescas, repressoras e racistas, que só servirão para cercear ainda mais a UFPE do resto da cidade, aumentar os casos de violência policial contra estudantes negres e a própria repressão ao movimento estudantil. Frente à greve dos transportes, que paralisou a cidade por dias e contou com grande apoio popular, o DCE nada fez para mobilizar os estudantes em apoio e solidariedade.

Além de atuarem como serviçais do governo, também eram porta-vozes da reitoria. O baixo número de assembleias e mobilização dos estudantes contrasta com o alto número de reuniões com o reitor e as instituições burocráticas da universidade. Não à toa, quando os estudantes conquistam a reabertura do RU, e este é entregue em condições extremamente precárias, gestionado por uma empresa terceirizada, com enorme precarização do trabalho, os casos de estudantes intoxicados já apareciam nas redes sociais, e a então gestão do Todas as Vozes nada fazia além de parabenizar o reitor Alfredo. Alguns meses depois, mais de mil estudantes intoxicados, um escândalo estadual, e o Todas as Vozes, no dia seguinte, já estava, mais uma vez, reunido com a reitoria para auxiliar na sua política de controle da crise, contrastando com os estudantes que buscavam se organizar, chamando atos e mobilização, como os que foram chamados pela Casa dos Estudantes.

Entretanto, as duas chapas concorrendo junto com o Todas as Vozes não são oposições reais. A Chapa 1, Construção Coletiva, é formada pelo UP/Correnteza, conhecidos nacionalmente por serem contra a legalização das drogas. Além disso, no dia da visibilidade trans deste ano, fizeram um texto completamente transfóbico colocando a transexualidade como uma “condição” que precisava de tratamento. Ademais, são os responsáveis diretos pelo abandono do DCE na gestão anterior à Todas as Vozes, assim como o de outras entidades estudantis como o DACS. Ainda por cima, atualmente estão à frente de DA’s e também da UEP (União dos Estudantes de Pernambuco), cujo os métodos são muito semelhantes ao Todas as Vozes, não dando nenhum exemplo de qualquer oposição verdadeira. Embora em seus programas falem de “assembleias e de aliança com os trabalhadores”, na prática em nenhum dos DA’s que dirigem eles têm a tradição de fazer assembleias massivas e de se aliarem aos trabalhadores, não sendo um contraponto à política da antiga gestão do DCE; prova cabal disso é o fato não terem convocado assembleias e mobilizado para o dia 11 de agosto, o dia do estudante, e não terem apoiado a greve dos transportes. A própria UEP – que teoricamente é a principal entidade estudantil do estado – é conhecida, no máximo, por fazer carteirinha de estudante. Para além disso, falam de “autonomia do governo e das reitorias”, uma formulação que serve para mascarar sua prática de adaptação justamente ao governo e às REItorias. Cabe lembrar que UP/Correnteza compõe o gabinete da Deputada Federal petista Natália Bonavides, do RN, que votou a favor do Arcabouço Fiscal, um brutal ataque aos trabalhadores e ao povo pobre, além de terem feito parte do governo de transição. Isso demonstra o real caráter dessa corrente.

Já a Chapa 3 – Lutar, Criar, Universidade Popular é composta pela UJC. Além de terem sido, junto com a Correnteza, a gestão que largou o DCE, – por mais que tenham saído antes do DCE ter sido abandonado totalmente, também não foram nenhuma alternativa ao Todas as Vozes; nos DA’s que dirigem, não convocaram nenhuma assembleia para organizar o dia 11 de agosto e não levaram nenhum apoio ativo à greve dos transportes no Recife.

A eleição do DA da Ciências Sociais, que ocorreu neste semestre de 2023, foi um exemplo da prática oportunista dessas correntes, se negando a se colocar como oposição ao DCE em todos os espaços de debate público, assim como não defender a importância de um movimento estudantil independente dos governos e das REItorias. Ao contrário, defenderam o velho método das negociações a portas fechadas com o reitor e a institucionalização das entidades do movimento estudantil.

Cabe dizer que ambas as chapas de oposição fazem parte da tradição stalinista, embora se escondam sob a máscara farsesca de “marxistas-leninistas”. Assim como a UJS que também é stalinista e que compõe o Todas as Vozes, defendendo historicamente os mais variados crimes políticos, concepções burocráticas e colaboração com a burguesia. Isso fica explicitado no posicionamento da UP de aderir ao mandato de Natália Bonavides. No caso da UJC/PCB, é possível ver isso tanto no programa eleitoral de Jones Manoel – que reivindica figuras burguesas como Brizola e o capitalismo policialesco e ultra-explorador chinês – como também nas distintas alas desse partido em sua profunda crise e divisão recente..

Frente a este cenário, nós da Faísca Revolucionária acreditamos ser fundamental construir uma real oposição revolucionária ao Todas as Vozes, não apenas na UFPE, mas nacionalmente no movimento estudantil, visto que as correntes que compõem o Todas as Vozes também estão à frente da UNE e de várias outras universidades com a mesma política. Para isso acreditamos que é necessário construir um movimento estudantil combativo, independente dos governos e das REItorias, que possa lutar contra os ataques do governo Lula-Alckmin, como o corte orçamentário da educação, implementados pela REItoria. Nesse sentido, acreditamos que as conquistas dos estudantes se darão pela luta com os métodos da ação direta coletiva, e não confiando em negociações à portas fechadas e pelas costas dos estudantes com as REItorias. É exemplar a recente mobilização da UERJ, que conseguiu impor com os métodos da ação direta coletiva o pagamento das bolsas que seriam cortadas.-> https://www.instagram.com/p/CxQiJqTrfWL/].

Para isso, é necessário fortalecer uma tradição de auto-organização no movimento estudantil, onde os rumos da luta sejam decididos através de assembleias democráticas e massivas. Ademais, acreditamos que todo potencial do movimento estudantil se expressa quando ele se alia aos trabalhadores!. Defendemos também o fim do trabalho terceirizado na universidade, com a efetivação de todos os atuais trabalhadores terceirizados sem necessidade de concurso! Nessa perspectiva, é necessário questionar profundamente a estrutura universitária atual, que submete a universidade aos interesses da burguesia e deixa grande parte dos filhos da classe trabalhadora fora dela, com o filtro racista e social do vestibular. Por isso, batalhamos pelo fim do vestibular, para que todo mundo que queira possa estudar! Junto a isso, lutamos também para que a universidade esteja a serviço de resolver os grandes problemas da classe trabalhadora e da população pobre! Combatemos abertamente a estrutura de poder da universidade, defendendo o fim da REItoria, com uma Estatuinte Livre e Soberana que implemente uma gestão tripartite de estudantes, técnicos e professores, onde cada cabeça seja igual a um voto.

Recentemente, nós da Faísca estivemos junto com companheires independentes nas eleições do DA de Ciências Sociais levando essas ideias à frente – e também batalhando para que o processo se desse da forma mais democrática possível e envolvendo o maior número de estudantes, com assembleias de bases etc - assim como no recente conflito em relação ao RU. Também levamos apoio ativo à greve dos trabalhadores dos transportes-> https://www.instagram.com/p/CvQu10zNjDH/] e estamos impulsionando um manifesto contra a precarização e a terceirização..

Buscando construir um movimento estudantil munido com essas ideias, a Faísca Revolucionária estará, na quinta-feira, dia 21, realizando uma Assembleia Comunista. Contamos com a presença de todes, às 17h30, no NIATE do CFCH!




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