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"Vocês pagaram por tudo isso aqui" | Jeff Bezos vai ao espaço enquanto seus funcionários são obrigados a defecar em sacolas

Na manhã desta terça-feira (20), o homem mais rico do planeta realizou sua primeira viagem ao espaço. Na terra, seus funcionários da Amazon continuam obrigados a defecar e urinar em sacolas e garrafas para ter tempo de cumprir as metas.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

terça-feira 20 de julho de 2021 | Edição do dia

Blue Origin/Divulgação

Na manhã desta terça-feira (20), o homem mais rico do mundo realizou sua primeira viagem ao espaço. A bordo da nave de sua empresa voltada ao setor aeroespacial, Blue Origin, o bilionário foi acompanhado por outras 3 pessoas: seu irmão, um jovem holandes que pagou pela passagem e uma astronauta.

Com uma cobertura cinematográfica, Jeff Bezos voltou à terra e declarou: “quero agradecer a cada funcionário da Amazon e clientes da Amazon, porque vocês pagaram por tudo isso aqui”. De fato, os cerca de $205 bilhões de dólares acumulados pelo empresário foram todos garantidos com a exploração impiedosa da força de trabalho dos 800 mil trabalhadores da Amazon nos EUA e milhares de outros espalhados pelo mundo.

Bezos desfruta da sua jogada de marketing mundial, numa tentativa de trazer uma nova era de viagens comerciais ao espaço, que serão pagas por milionários, e é tratado como uma estrela Pop Star, uma figura mitológica do sucesso e do espírito empreendedor de risco da burguesia, somente porque se sustenta em toda uma classe de trabalhadores anônimos sendo brutalmente explorada no império logístico da Amazon.

Os funcionários da Amazon são obrigados a defecar e urinar em sacolas e garrafas para pagar pela aventura cósmica-empreendedora do homem mais rico do mundo. É o que o jornalista Ken Klippestein, do The Intercept, revela em reportagem em março deste ano. Uma série de denúncias e documentos internos da gigante Amazon apontam para a prática entre entregadores, tão comum como bater o ponto, de recorrer às sacolas e não ao banheiro, devido às metas abusivas e ganhos por produtividade.

Um e-mail fornecido por um funcionário da empresa, escrito pelo gerente da logística, narra um pouco a situação subumana dos trabalhadores da Amazon que garante o império de Bezos:

““Notamos um recente aumento de todos os tipos de lixo insalubre sendo deixados dentro das sacolas: máscaras usadas, luvas, garrafas de urina”, continua o e-mail. “Ao escanear o código QR na sacola, podemos facilmente identificar o motorista que estava com a sacola por último. Esses comportamentos são inaceitáveis, e no futuro vão resultar em Infrações de Nível 1. Comunique esta mensagem aos seus motoristas. Eu sei que pode parecer óbvio, ou algo que você não deveria precisar ensinar, mas por favor, seja explícito ao comunicar a mensagem de que eles NÃO PODEM fazer cocô ou deixar garrafas de urina dentro das sacolas.”

E-mail enviado por um gerente da área de logística da Amazon em maio de 2020. Documento obtido pelo Intercept

Segundo Halie Marie Brown, que trabalhou como entregadora de Bezos numa empresa terceirizada, a situação é comum pois “ocorre porque somos literal e implicitamente forçados a isso, caso contrário acabamos perdendo nossos empregos devido ao grande número de ‘pacotes não entregues’.”

Tradução | Brutalidade empresarial: Amazon introduziu um algoritmo para explorar trabalhadores com base no uso muscular

É com este ritmo de trabalho alucinante, metas completamente irreais, ganho por produtividade, punições, perseguição sistemática à trabalhadores e o roubo de cada minuto dos funcionários da Amazon, que Jeff Bezos pode acumular o maior capital do planeta, e agora busca a criação de novos terrenos para investir sua riqueza e aumentá-la ainda mais. Por este motivo, uma das principais campanhas políticas da empresa é contra a sindicalização de seus trabalhadores, que pode afetar suas imensas margens de lucro.




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