×

América Latina | Lula apoia o golpe parlamentar no Peru, sustentado pelos Estados Unidos

Depois que o Congresso peruano destituiu Pedro Castillo - sujeitando-o à prisão na quarta-feira dia 7, levando Dina Boluarte a tomar o seu lugar na chefia do Estado peruano, Lula se pronunciou em apoio aos resultados desse golpe parlamentar na América Latina, patrocinado pelos EUA.

domingo 11 de dezembro de 2022 | Edição do dia

O Congresso peruano, dominado pelos partidos da direita, conseguiu em sua terceira tentativa de impeachment remover Pedro Castillo da presidência. Diante da iminência de sua queda, Castillo havia tentado fechar o Congresso em uma medida bonapartista e autoritária.

Este impeachment, um verdadeiro golpe parlamentar no Peru, foi baseado na repudiada constituição de 1993 arquitetada por Alberto Fujimori, que lançou as bases para uma política neoliberal, acompanhada pela implementação destas manobras parlamentares adaptadas aos fatores reais de poder no Peru. Fruto do processo, sua ex-vice-presidente, Dina Boluarte, foi nomeada como nova presidente.

Lula deu o seu aval a esse golpe parlamentar e cumprimentou a nova presidente. Salientando que Castillo foi eleito através de eleições, Lula disse que: "É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional". "O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática, [...] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social", continuou Lula. Alberto Fernández, presidente da Argentina, também deu o seu aval à movimentação golpista do Congresso, concedendo seu apoio "no âmbito do fortalecimento de nossa democracia, das relações bilaterais e das políticas regionais."

A "estrutura constitucional" mencionada por Lula, como dissemos, é o da constituição fujimorista que as maiorias operárias e os povos originários do Peru repudiam. No Brasil, lembremos que a direita parlamentar e judicial, com o imperialismo norte-americano nos bastidores, também expulsou Dilma Rousseff através de um golpe institucional em 2016, que abriu caminho para a extrema direita bolsonarista alcançar o poder em 2018. De nada disso surgiu qualquer ato de "tolerância democrática", e sim a mais ampla degradação autoritária da já deteriodada democracia burguesa no Brasil.

Bolsonaro também saudou a presidente surgido do golpe parlamentar. "O governo brasileiro manifesta sua disposição de seguir mantendo as sólidas relações de amizade e cooperação que unem os dois países e deseja êxito à presidente Dina Boluarte em sua missão como chefe do Estado peruano."

Lula emitiu sua declaração nas redes sociais, seguindo os passos do governo Biden nos Estados Unidos. A propósito, nesta última segunda-feira, o líder do PT recebeu uma delegação de representantes do Partido Democrata, liderada por Jake Sullivan, assessor de segurança nacional de Biden, em que discutiram a região. Biden aposta que o Brasil, como o principal país da América do Sul, será um parceiro confiável sob o governo de Lula. "Recebi hoje do Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan um convite do Presidente Joe Biden para visitá-lo na Casa Branca. Estou ansioso para conversar com o Presidente Biden e aprofundar o relacionamento entre nossos países", twittou Lula após a visita.

Os EUA também se pronunciaram favoráveis ao golpe parlamentar no Peru. "O que eu entendo é que, com a ação do Congresso, agora é o ex-presidente Castillo", sublinhou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, reconhecendo o papel dos deputados da direita.

Essa relação direta com a ala Democrata do imperialismo norte-americano é um sinal da aproximação entre Lula e Biden. Lula deve encontrar o presidente norte-americano pessoalmente após sua diplomação, para estabelecer novas relações com o chefe da principal potência imperialista no globo. A restituição de Lula no tabuleiro político brasileiro, por parte do Judiciário - o mesmo que havia sido o primeiro violino do golpe institucional de 2016 - foi articulado nos bastidores pelos próprios Democratas, que estavam indispostos com a possibilidade de que a maior economia da América Latina fosse presidida por um aliado de Donald Trump.

O vice presidente, o direitista Geraldo Alckmin, esteve com representantes dos EUA essa semana a pedido de Lula. A conversa, em Brasília, foi sobre o cenário das próximas semanas e a possível viagem do ex-presidente Barack Obama como emissário de Joe Biden à posse de Lula. A simples consulta indica o nível de atenção que o imperialismo ianque dedica ao controle da situação brasileira.

Diante do golpe parlamentar, Pedro Castillo procurou o apoio da OEA, uma organização a serviço do imperialismo norte-americano e que já desempenhou um papel golpista na Bolívia. A OEA chamou a "conciliação entre o executivo e o legislativo", acabando assim por favorecer os setores destituintes.

A queda de Pedro Castillo nas mãos do Congresso mostra, mais uma vez, a inviabilidade da estratégia política destinada a buscar mudanças através da administração do estado burguês. Mostra também o fracasso da estratégia de conciliação de classes e unidade nacional com os empresários, estratégia que Castillo, de mãos dadas com a esquerda reformista peruana, tentou implementar desde o primeiro dia de seu mandato, mantendo intactos os pilares do regime de 1993 e atacando o povo junto a figuras da direita fujimorista. Mesmo assim, a burguesia peruana desejava ajustes mais abertos contra o povo, e os abraços de Castillo com Bolsonaro não foram suficientes para ganhar o apreço da classe dominante.

O apoio do governo Lula-Alckmin a essa interferência grosseira dos EUA na América Latina é um sinal da necessidade da mais completa independência política dos trabalhadores e dos setores oprimidos diante do governo eleito. Essa é a única maneira séria de enfrentar o capitalismo, a extrema dirieta bolsonarista e a ingerência imperialista em nosso continente.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias