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Pernambuco | O movimento estudantil nacional dá exemplos para reverter precarização alarmante da UFPE

Esse texto tem o objetivo de diaogar com cada estudante que não suporta mais a situação precária do RU e precisa conviver diariamente com a falta de permanência estudantil que coloca em risco a continuidade de seus estudos na UFPE, e por isso quer organizar todo seu ódio por conta dessa situação alarmante e precária.

sábado 28 de outubro de 2023 | 18:13

Não é segredo para ninguém que a ciência e a educação foram dois grandes alvos do governo Bolsonaro. Durante o governo deste odiável foram cortados pelo menos R$113 bilhões só do MEC. O estado das universidades públicas federais, que já vinham no trilho da precarização e privatização, desde os governos do PT, com a implementação do Reuni e a expansão da terceirização, tornou-se ainda mais crítica após o golpe institucional de 2016 e a chegada de Temer. O Novo Ensino Médio encarna em reforma política o ódio da extrema direita ao pensamento crítico nas escolas,além de ser um ataque neoliberal que visa a formação de “empreendedores” que na prática significa a preparação de um batalhão de jovens negros para trabalhar em cima de bicletas pedalando durantes horas por dia

Para muitos o governo de Lula-Alckmin representava uma esperança de reverter este cenário ou pôr, ao menos, um freio na destruição do ensino público. Porém, já no primeiro ano deste governo, nem de longe é isso que estamos vendo. Nenhum corte foi efetivamente revertido, a terceirização e a privatização do ensino público seguem no trilho. O Novo Ensino Médio tampouco foi revertido, e as mudanças propostas por Lula não alteram em nada o essencial desta reforma. E não bastasse a manutenção de todos os ataques de Bolsonaro, o governo de conciliação do PT está cortando mais de R$116 milhões da CAPES, somando aos 33 milhões que já havia cortado no início do ano, colocando em risco os programas de bolsas nas universidades.

Porém, nada disso nos espanta vindo de um governo que tem como vice o tucano Alckmin e que congrega banqueiros da FEBRABAN, os patrões da FIESP, o agronegócio, o centrão e inclusive figuras da extrema direita em seus ministérios. Desde o início da campanha de Lula viemos alertando que este projeto de conciliação com os patrões e com a direita não seria resposta para toda destruição realizada pelo golpe de 2016 e acabaria por voltar a fortalecer a direita, mantendo o plano neoliberal no horizonte. Além das chacinas que aconteceram no Rio de Janeiro e São Paulo, feitas com o dinheiro do Ministério da Justiça liderado por Flávio Dino e na Bahia que teve como responsável o governador petista Gerônimo Rodrigues.
Porém a experiência com o governo de conciliação de classes de Lula está sendo feita, e o movimento estudantil voltou à luta. Na USP, a greve geral dos estudantes por contratação de professores paralisou praticamente todos os cursos e centros da universidade, em greve massiva que colocou a reitoria contra a parede. Na UNICAMP, a greve por cotas trans e PCDs, acessibilidade, permanência estudantil, entre outras demandas, paralisou cerca de 30 cursos e frente a um ataque de um professor bolsonarista contra um estudante negro grevista, resultou na ocupação do prédio da matemática até que o professor fosse afastado. Na UERJ, a mobilização massiva dos estudantes garantiu o pagamento das bolsas atrasadas. Também acompanhamos nas últimas semanas greves na Universidade Estadual do Maranhão com ocupação da reitoria, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Feira de Santana e Unila. Ao que tudo indica, a tendência de mobilização estudantil para reconquistar as condições básicas de estudo que foram sendo arrancadas durante anos pelos governos neoliberais, começa a ascender no cenário nacional.

Na UFPE as condições de ensino, depois de tantos cortes na educação, seguem extremamente precárias. Por muitas vezes, o reitor anunciou não ter verbas para terminar o semestre e vem cortando serviços terceirizados de manutenção da infraestrutura. A deterioração dos prédios é explícita e ainda pior nos cursos de humanas. Enquanto a privatização por grandes empresas multinacionais inundam os centros de tecnologia, implantando catracas para acessar os centros, no CFCH falta água nos corredores, faltam salas com ar-condicionado funcionando, faltam professores e funcionários para dar conta das tarefas mais básicas. Faltam moradias estudantis, as bolsas mal pagam um aluguel e as demandas de permanência estão muito aquém da necessidade frente aos milhares de estudantes que chegam do interior do estado, que não conseguem terminar o curso para o qual estudaram arduamente para furar o filtro elitista e racista do vestibular. Porém, nada foi tão escandaloso, alarmante e gráfico do nível de precarização que a UFPE vem sofrendo, quanto à grave intoxicação alimentar de mais de 1.000 estudantes após comerem no RU.

A abertura do RU é uma conquista dos estudantes, que vinha fechado após a pandemia. Mas a estrutura limitada, contendo apenas uma unidade para toda a universidade, já era evidente desde a abertura. O preço de quase $5,0 para um restaurante público subsidiado, em um país que alimenta quase metade do mundo em um dos estados com maior desigualdades socioeconômicas no Brasil, tampouco é justo. Além de tudo isso, o RU é terceirizado, ou seja, uma empresa privada lucra com um serviço público a partir de um trabalho super precarizado, que tem em sua maioria mulheres negras. A privatização convida as empresas multinacionais que lucram com o conhecimento público produzido pelos pesquisadores e estudantes para entrar pela porta da frente, enquanto obriga milhares de trabalhadores a entrarem pela porta de trás, através do trabalho precário. Este é o cenário que levou à escandalosa intoxicação em massa dos estudantes da UFPE; para poder maximizar seus lucros, a General Goods, atual administradora do RU da UFPE, serve comida estragada para os estudantes, com denúncias diárias de alimentos com larvas, insetos, pregos, etc.

O reitor Alfredo Gomes é um dos principais responsáveis por toda a precarização da universidade, inclusive
pela intoxicação alimentar, junto com a General Goods, que já tinha denúncias de intoxicação alimentar em outras escolas públicas. O descaso e negligência por parte da reitoria frente a esse escândalo é revoltante. Porém o governo de conciliação de Lula-ALckmin é igualmente responsável, não apenas permitindo a expansão da privatização e terceirização nas universidades, mas também precarizando a educação, cortando orçamento e mantendo os ataques de Bolsonaro.

Não é de surpreender que a então gestão do DCE, Todas as Vozes, composta pelo PT, UJS, PSB e Levante, nada fez para questionar a terceirização do RU e muito menos atuar para massificar os atos frente a esse caso grotesco de intoxicação em uma das principais universidade do nordeste, justamente porque faz parte do atual governo federal. Ao contrário, fez o que sempre faz, se reunindo a portas fechadas com a reitoria para colocar panos quentes e conter a mobilização estudantil. Essas mesmas organizações são direção majoritária da UNE que a cada novo corte do governo Lula-Alckmin ficou de braços cruzados e não se movimentou para organizar a luta desde as bases convocando assembleias por todo o país. Porém, é preciso dizer também que tampouco a União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), dirigida pela UP e UJR, fizeram qualquer mobilização séria na UFPE. Enquanto isso, os milhares de estudantes que precisam do RU para se alimentar o fazem com o receio de uma nova intoxicação a cada garfada. Muitos gastam suas economias para se alimentar fora da universidade com medo de adoecerem.

As mobilizações estudantis pelas universidades de todo o país mostram o caminho que precisamos tomar também na UFPE, apenas a luta estudantil, junto com es trabalhadores da universidade, pode colocar um basta à precarização cotidiana que ameaça nossas condições de estudo. Nossa luta precisa ser independente da reitoria e dos governos e por isso precisamos superar as atuais direções do movimento estudantil, para construir uma mobilização pela base, por baixo, através de assembleias, paralisando as aulas e cursos, para reivindicar nossas demandas, até para as mais elementares.

E por isso é preciso dizer também que os inúmeros DAs dirigidos pela UJC e MUP (PCB) não têm feito qualquer movimento nesse sentido. É alarmante que frente ao atual estado de coisas nenhum DA tenha convocado assembleia de curso para dar exemplo de como mobilizar pela base e colocar a reitoria contra a parede. Nem mesmo o DA de Ciências Sociais (composto pela UJC/PCB-RR, Mangue Vermelho e estudantes independentes), que passou por um recente reativação, com grande participação dos estudantes nos debates e no processo eleitoral, se prontificou até este momento a convocar uma assembleia. Neste curso onde as bolsas foram reajustadas, mas até hoje não se paga os valores corrigidos e que tem inúmeros problemas estruturais nos prédios onde temos aula como o CFCH e o Niate, com falta de ar condicionado, rachaduras nas paredes, infiltrações, banheiros sem funcionar, biblioteca com goteiras, etc.

Por isso, a Faísca Revolucionária, que vem participando ativamente das greves nas universidades por todo país, vem atuando para dar exemplos de auto-organização dos estudantes, passando em sala de aula, mobilizando desde a base, chamando atividades e reuniões para ativar o movimento estudantil e cobrar dos DAs, para que convoquem assembleias, para enfrentar a terrível precarização e a terceirização, independentemente dos governos e das reitorias, também na UFPE. Por isso, a partir do curso de Ciências Sociais, estamos fazendo uma forte exigência para que o DACS convoque imediatamente uma assembleia para que es estudantes do curso possam se organizar e debater a luta por nossas demandas. É fundamental que o movimento estudantil se organize para por um RU de qualidade, estatal, com a redução drástica de seu valor e sem trabalho precário; com a incorporação dos trabalhadores sem necessidade de concurso público. Assim como pela reforma e revitalização da estrutura dos prédios, para que haja salas com ar-condicionado, espaços de socialização e convívio, com acessibilidade para PCDs. Também é urgente a luta pelo imediato pagamento reajustado das bolsas, expansão de bolsas, da permanência estudantil e de moradias para toda a demanda, bem como contratação de funcionários e professores.




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