GREVE | O tempo da luta de classes: crônica sobre a luta dos terceirizados da UFMG

Sentados nos últimos lugares do ônibus, depois de um longo dia lutando juntos, eu e um trabalhador terceirizado da UFMG, reclinados nas cadeiras com as pernas esticadas, chegamos a conclusão que a dor que dói em nosso corpo é uma dorzinha boa. Coexiste com nosso cansaço certa empolgação. Lembrei de Trótski e do que diz sobre a importância do fresco entusiasmo da juventude na luta revolucionária. Lembrei mais uma vez dos trabalhadores nos agradecendo por estarem ali com eles. Brincando que éramos a faísca da luta. Olhei pro lado, o trabalhador dormia sentado. Hoje, não foram as aulas dentro das salas com paredes brancas do CAD2 que inspiraram confiança em minhas próprias forças e em meu futuro. Foi uma aula muito engraçada. Não tinha teto não tinha nada. Mas tinha aqueles que não têm nada a perder. Que carregam em suas costas o funcionamento da universidade. Que não têm garantia de que terão intervalo de almoço e nem sequer de que o salário cairá. Que não entendem como a empresa quebrou se está anunciando mais vagas para contratação. Que querem ler e conhecer sobre outras experiências de trabalhadores terceirizados e que ouviram atentamente de nós que elas acontecem agora em outras universidades pelo país também. Que trabalham nos prédios em que estudamos usando uniformes cor de parede. São camuflados? A reitoria não os vê? Nós enxergamos vocês. E sabemos que além da universidade vocês podem carregar nas costas uma partícula do futuro da humanidade. Ouvi algum dia desses que há várias formas de habitar um tempo histórico, de se apropriar desse tempo. Hoje, com vocês, todas as vezes que olhei pro relógio vi o tempo da luta de classes. Nós é que agradecemos.