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USP | Trabalhadoras terceirizadas da USP paralisam atividades contra atrasos de direitos e salários

Desde dezembro do ano passado, as trabalhadoras terceirizadas de higiene e limpeza da empresa Sector, que trabalham na Faculdade de Medicina da USP, têm se mobilizado para receberem seus salários e benefícios, constantemente atrasados. No final do ano passado, o pagamento do 13º salário, cujas parcelas deveriam ser pagas em novembro e até o dia 20 de dezembro, foi feito com o atraso de quase dez dias. Não bastasse os constantes atrasos no pagamento dos salários e benefícios, são vítimas da superexploração da empresa que, com a completa conivência da reitoria da USP, as ameaçam de demissão e não repõem o quadro de funcionários, cada dia mais reduzido. EPIs, falta de materiais de trabalho também fazem parte dessa realidade.

quarta-feira 12 de abril de 2023 | Edição do dia

Reitoria e empresários falam de inclusão e oferecem “oportunidades”de humilhação, racismo e segregação

É escandaloso que a reitoria da USP, que sob a gestão de Carlos Carlotti e Maria Arminda faça um discurso de inclusão para mulheres, negros e LGBTs, e siga sustentando essa foma absurda de trabalho que é a terceirização.

A máscara de toda essa demagogia de respeito à diversidade e inclusão cai por terra quando oferecem gratificações de R$ 30 mil reais a docentes da USP enquanto mantém as trabalhadoras terceirizadas, em sua maioria mulheres negras e moradoras das periferias, sem salários e direitos mínimos, sendo humilhadas dentro da “universidade de excelência”.

A terceirização é um mecanismo de profunda divisão da classe trabalhadora, criando trabalhadores de primeira e segunda classe. Essa divisão só serve para aumentar a exploração exercida pelos empresários e capitalistas que aumentam seus lucros através desse mecanismo de superexploração. A responsabilidade por essa situação dramática pela qual passam essas trabalhadoras é de empresas como a Sector, que diz oferecer “oportunidades”, e da reitoria da USP, que promete a inclusão das mulheres e negros, mas legalizam a máquina de superexploração através do trabalho precário, privações e humilhação dentro desta universidade. Não bastasse tudo isso, a reitoria da USP se vangloria de ter ajudado a impulsionar empresas startups, campeãs da precarização do trabalho, como a Ifood. Ou seja, colocam o conhecimento da universidade pública a serviço daz mais moderna forma de exploração capitalista, aumentando os lucros dos empresários ese apoiando no mais arcaico racismo e machismo.

Como declarou o Sindicato dos Trabalhadores da USP em seu boletim:
“É inaceitável que essa empresa siga tratando os trabalhadores dessa maneira (...). Deixamos bastante claro: a Reitoria e a administração da Faculdade de Medicina são responsáveis. Não apenas pela Reitoria saber há anos que essas atitudes das empresas terceirizadas são recorrentes em inúmeras unidades, quanto por não cumprir com a Lei de Responsabilidade Solidária e seguir sustentando essa situação absurda.(...)”

Os rankings internacionais da USP estão sendo conquistados se apoiando em trabalho semi-escravo
Há décadas a terceirização vem avançando na USP e isso não se dá por uma mera coincidência, mas é parte do projeto de universidade que as sucessivas reitorias da USP, alinhadas com a política de mais de 25 anos de governos do PSDB em São Paulo e inclusive do PT nacionalmente vem impondo. Assim, destroem e sucateiam os serviços públicos e a universidade, deixam de contratar os trabalhadores necessários para manter seu pleno funcionamento e que possam prestar os melhores serviços à população e em seguida avançam para substituir o quadro de trabalhadores efetivos por trabalhadores terceirizados que recebem salários e direitos muito menores. Isso é o que estamos vendo com a completa destruição de setores operacionais na USP como as áreas de manutenção (hidráulica, construção civil, eletricidade, pintura, carpintaria entre outros), os bandejões, vigilância, serviços gerais entre outros. A terceirização avança inclusive para substituir trabalhadores dos laboratórios e setores administrativos.

O nível de discriminação e segregacionismo que a terceirização chega na USP é tamanho que direitos elementares concedidos à comunidade USP, como o direito de usar os bandejões, ou mesmo o direito a andar nos circulares da USP de forma gratuita, como fazem estudantes, funcionários e docentes, é negado a essas trabalhadoras.

Ao impor menores direitos e salários aos trabalhadores terceirizados, a reitoria, o governo e os patrões conseguem rebaixar os direitos e salários do conjunto da nossa classe aproveitando-se da divisão entre efetivos e terceirizados, estes últimos divididos em diversas empresas prestadoras de serviços. A luta contra a terceirização, que será ampliada em escala monstruosa com a reforma administrativa de Tarcísio, é uma luta de primeira ordem para os próprios trabalhadores efetivos para que não percam seus próprios postos de trabalho, para que unifiquemos as fileiras da classe trabalhadora defendendo seus setores mais precarizados. Essa é uma luta urgente para o movimento de trabalhadores e estudantil e para todos aqueles que consideram absurdo uma universidade se dizer de excelência enquanto trabalhadores terceirizados não recebem seus salários trabalhando de graça para manter a universidade em seu pleno funcionamento.

É fundamental que os trabalhadores efetivos, os estudantes e os intelectuais defendam os trabalhadores terceirizados começando por exigir que seus salários e direitos sejam garantidos. É fundamental lutar para que nenhuma trabalhadora terceirizada da Faculdade de Medicina da USP seja punida por lutar com ameaças de demissão, transferências, advertências e outras medidas. O pagamento imediato precisa ser parte de uma luta maior para que todos tenham iguais direitos e salários aos trabalhadores efetivos da universidade começando por derrubar a segregação que impede os terceirizados de utilizarem o mesmo ônibus. Ao defender direitos iguais às trabalhadoras terceirizadas, a começar pelo pagamento dos salários e benefícios de forma regular, nos somando com força à campanha contra a discriminação e pelo direito ao BUSP na universidade, podemos seguir avançando para que tenham acesso aos restaurantes, creches, hospitais e inclusive às salas de aula através do fim do vestibular.

Os terceirizados, mesmo sendo tratados como seres invisíveis, são parte da classe que faz a USP e tudo o que existe na sociedade funcionar e já demonstram na prática que estão aptos a exercerem suas funções e, portanto, devem ser efetivados como trabalhadores da universidade. É parte dessa mesma luta a batalha pela contratação de funcionários efetivos para todos os setores, começando pelo Hospital, creches, bandejões, Prefeitura, manutenções e o atendimento de todas as demandas dos estudantes como a permanência estudantil para atender toda a demanda e para que os estagiários não sejam transformados em mais uma modalidade de trabalho precário. Isso é parte inseparável da luta contra o desmonte e o projeto elitista e racista de universidade defendido pela reitoria da USP e por Tarcísio de Freitas. Nacionalmente as centrais sindicais devem impulsionar um forte plano de luta contra a terceirização e em defesa de iguais direitos e salários para os terceirizados e pela revogação integral de todas as reformas como a trabalhista e da previdência.

O Movimento Nossa Classe e a Juventude Faísca revolucionária se colocam em solidariedade à trabalhadoras terceirizadas da Faculdade de Medicina da USP e a serviço dessa batalha.




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