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PERNAMBUCO | A desigualdade regional e o desemprego em Pernambuco

A desigualdade regional no Brasil se expressa fortemente no estado e foi aprofundada pelas medidas econômicas implementadas desde o golpe institucional de 2016, como veremos aqui.

sábado 22 de outubro de 2022 | Edição do dia

A cada novo dado sobre o desemprego divulgado no Brasil, um dado constante chama a atenção: a permanência de Pernambuco no topo dos índices nacionais. No segundo trimestre, o desemprego no estado ficou em 13,6%, acima da média nacional de 9,3% e mais que três vezes superior que o último colocado, Santa Catarina. O estado ficou atrás apenas da Bahia, com 15,5%.

Uma marca da desigualdade regional do Brasil, o PIB e os índices de desemprego do Nordeste figuram atrás do centro-sul há décadas. O desenvolvimento socioeconômico do país fez com que, desde meados do século XIX, as indústrias de mais alto valor agregado, assim como a agricultura mais produtiva. Isso deu à região características socioeconômicas e políticas muito marcadas, como por exemplo, a grande presença das oligarquias na política local – ainda que não seja um fenômeno exclusivo da região.

Como traço estrutural do capitalismo brasileiro, a questão da desigualdade regional foi tratada de diferentes formas por diferentes governos, no entanto, não foi superada, nem pelos governos ditos desenvolvimentistas. Porém, o que vemos desde o golpe de 2016 é que tal questão foi imensamente aprofundada.

Durante o auge dos governos petistas, embalado pelos boom das commodities, com a valorização do salário mínimo, algumas políticas assistencialistas, como o Bolsa Família e o BPC, além de investimentos do PAC e da Petrobrás, permitiram que o Nordeste, e particularmente Pernambuco, tivessem um crescimento acima da média nacional. Isso também se evidenciou na queda do desemprego. Ainda com esse crescimento, o PIB per capta e as taxas de desemprego ainda ficavam atrás que o centro sul. Um dos investimentos que mais chamou atenção no estado foi o Porto de Suape. Nesse momento ocorreu também a migração de indústrias do Sudeste para o Sul e Nordeste. No caso do Nordeste, muitas se aproveitaram da mão-de-obra barata, dos investimentos e do novo mercado consumidor criado. A demonstração dessa mão-de-obra barata se dá pelas greves nas obras do PAC e também em SUAPE.

No entanto, esse modelo econômico do petismo estava calcado no boom das commodities e não mudava os aspectos estruturais do capitalismo brasileiro como a desigualdade regional e primarização da economia. Pelo contrário, nesse período houve uma reprimarização da economia e a emergência muito forte do agronegócio. Quando os efeitos da recessão mundial começam a atingir, os limites desse modelo econômico começam a se mostrar. Em 2013, com os fins das obras do PAC em Suape, houve uma grande onda de demissões. As empresas simplesmente foram embora muitas vezes sem pagar os direitos trabalhistas e até mesmo os salários, ficando muitas vezes impune. Em 2014 e 2015 a situação se agravou com 40 mil demissões na RNEST, com a Lava Jato e a crise da Petrobrás. Com isso, muito dos trabalhadores acabaram voltando para o cultivo de cana na zona da mata.

O golpe institucional de 2016 e, posteriormente, o governo Bolsonaro, aumentaram mais ainda a precariedade na região. Por um lado, as contrarreformas permitiram uma exploração maior da mão-de-obra, ao mesmo tempo que não criou os empregos “prometidos”, demonstrando sua total falácia. Por outro lado, um dos grandes setores econômicos beneficiados e que aumentou significativamente sua participação no PIB foi justamente o agronegócio. Durante a pandemia, isso ficou ainda mais evidente: enquanto os bloqueios da economia prejudicavam o setor de serviços, o agronegócio continuava funcionando a todo vapor e ainda se beneficiaram da alta do dólar nas exportações, ao mesmo tempo que o preço dos alimentos no Brasil aumentava exponencialmente. Ou seja, aumentavam seus lucros ao custo da fome do povo brasileiro.

A questão é que, geograficamente, o agronegócio se concentra mais no chamado “agrobelt”, que se extende do sul do país até o centro-oeste e parte da região Norte, como Rondônia, passando pelo interior de São Paulo e partes de Minas. Não a toa, foi a região que mais deu voto a Bolsonaro. Apenas algumas poucas áreas do Nordeste, particularmente no Oeste da Bahia e na região de Petrolina tem um agronegócio ascendente. Esse agronegócio foi a base econômica para a ascensão política da família Coelho, que ficou em 5º lugar na disputa pelo governo, com 18% dos votos. Inclusive, Fernando Bezerra Coelho, pai de Miguel Coelho, foi durante muito tempo líder do governo Bolsonaro na Câmara. Nesse sentido, o estado de Pernambuco, com uma economia altamente dependente dos serviços e comércio, além de turismo (e inclusive um turismo que foi particularmente atingido pela pandemia como o Carnaval e o São João), viu uma crise econômica ainda mais pesada.

Portanto, o que vemos é que, se as desigualdades regionais sempre foram uma característica estrutural da estrutura econômica nacional, as mudanças recentes na economia desde o golpe institucional tem feito aumentar ainda mais esse aspecto. Tudo isso, gerido e amplificado pelo governo neoliberal do PSB. Nesse sentido, as duas candidatura que se colocam no plano estadual, cada uma encabeçada por diferentes oligarquias locais, pretendem apenas gerir esse capitalismo degradado e, por diferentes vias, aumentar mais ainda essas características.




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