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Greve na USP | Defender nossa greve! Qual a tarefa do movimento estudantil frente o racismo e intransigência da reitoria?

Ontem a postura da reitoria da USP deixou bem claro seu caráter reacionário, racista e elitista durante e depois a reunião de negociação da greve estudantil. A reitoria está buscando manobrar nosso movimento, demonstrando a atuação que o reitor teve desde o início: desgastar os estudantes. Diante disso, nós da Faísca colocamos aqui uma discussão com o DCE e centros acadêmicos que estiveram na linha de frente, como o CAELL, sobre quais as tarefas do movimento, defendendo a continuidade da greve e com propostas de como responder à altura a intransigência e reacionarismo da reitoria.

terça-feira 10 de outubro de 2023 | Edição do dia

Os estudantes estão recebendo com muito ódio essa postura de ontem da reitoria. Além de não avançarem em nada na negociação, não deixaram a Adusp e o Sintusp participarem, o reitor sequer participou da reunião e a vice-reitora Maria Arminda foi extremamente racista com as estudantes que estavam na reunião, além de destilarem todo seu elitismo na discussão das pautas e com es estudantes da comissão de negociação. A reitoria está buscando manobrar nosso movimento, demonstrando a atuação que o reitor teve desde o início: desgastar os estudantes.

Nós da Faísca viemos discutindo que contra isso era necessário massificar a mobilização, porque se do ponto de vista do número de cursos em greve temos muita força, do ponto de vista de massividade dos atos, assembleias e ações conjuntas essa greve ainda está aquém de greves históricas que aconteceram. E isso não é uma fraqueza do movimento que leva à uma decisão de encerrar a greve, mas uma contradição que é preciso encarar e pensar as vias para superar. Por isso achamos que foi extremamente importante o ato de mais de 2 mil estudantes que propusemos para buscar massificar a luta e ocorreu até o Largo da Batata, colocando a greve em todas as mídias. Isso, junto com a greve unificada contra as privatizações do Tarcísio e a entrada da Unicamp em greve na semana passada, fez com que o reitor começasse a ceder.

Porém, desde a reunião de negociação em que tivemos pequenas conquistas na semana passada, a postura do DCE e dos Centros Acadêmicos que subiram na reunião foi vacilante, de em seguida começar a apontar o movimento como vitorioso e começar a desarmar a mobilização em vários cursos, mesmo que isso signifique sairmos com um número muito aquém de professores, sem a garantia de que habilitações como o coreano conseguirão seguir suas atividades sem sofrer com falta de professor e sobrecarga de trabalho já a curto prazo; sem a garantia de que novas disciplinas não sejam também fechadas; sem o fim do edital de mérito; sem o gatilho automático, o que significa que muitos professores que seguram cursos e disciplinas nas costas hoje não serão repostos se se aposentarem; sem nenhuma conquista concreta em relação ao PAPFE, que deixará a enorme demanda de fora das políticas de permanência; com uma proposta totalmente abstrata e vaga em relação ao funcionamento dos bandejões que não garante que funcionará efetivamente de acordo com a demanda dos estudantes (afinal a reitoria jogou toda responsabilidade às empresas terceirizadas) e sem nenhuma garantia de que isso não signique mais sobrecarga de trabalho aos trabalhadores terceirizados, já que a USP não moverá um dedo para contratar funcionários via concurso para atender aos postos de trabalho onde os trabalhadores estão exauridos.

O racismo que a reitoria destina aos estudantes negros é o mesmo que destina às trabalhadoras terceirizadas, em sua maioria mulheres negras, que são super exploradas na universidade de excelência e não tem nem direito ao busp. Por isso, nossa luta tem que também ser ao lado dos trabalhadores da universidade, defendendo a efetivação dos terceirizados sem concurso público.

Essa postura vacilante deu um recado para a reitoria, de que poderiam voltar a ser intransigentes como foram nesta segunda, 09, afinal o que dobrou eles antes foi justamente mostrarmos a força da mobilização sem titubear. Se queremos reverter isso, não podemos aceitar que o DCE subordine o movimento e fique em uma espera passiva ao calendário de reuniões de negociação que a reitoria está fazendo pra nos cansar, que se resume em reuniões com atos esvaziados na frente (afinal são convocados de última hora sem boa divulgação) que não darão em nada enquanto não mostrarmos nossa força novamente.

O PSTU/Rebeldia (que está na direção do CAELL, Centro Acadêmico do curso de Letras, vanguarda da greve) critica corretamente o DCE (dirigido pelo Juntos, Correnteza e UJC) por não ter preparado os estudantes para o momento da greve, mas em vez de discutir qual a tarefa do movimento agora e tentar aglutinar os setores da oposição ao DCE para mudar o rumo da mobilização enquanto ainda não está dado, já está fazendo um discurso de "qual saldo político devemos tirar do fim da greve", não propondo nada para semana que vem, o que significa já entregar os pontos e ir na mesma linha que o próprio DCE.

Nas reuniões de GT e de comando de greve da Letras deste último fim de semana, pós reunião de negociação que saiu com propostas indicadas pela reitoria, a gestão do centro acadêmico estava com uma posição de dúvida da continuidade da greve, colocando o desgaste real que sentimos acima de discutir as possibilidades de superar as contradições do movimento.

A discussão que nós da Faísca queremos fazer é que ainda não é hora de entregar os pontos, porque se há desgaste nos estudantes não é porque acham que a greve tem que acabar nessa semana sem grandes garantias, mas sim porque não aguentam mais o calendário formal que o DCE coloca para a mobilização: com assembleias e comandos gerais burocráticos, com atividades unificadas dispersas, mal divulgadas e esvaziadas em vez de ações concentradas que expressem a força, disposição e indignação estudantil. E o que o Rebeldia a frente do CAELL veio fazendo é se adaptar a esse calendário do DCE. Não adianta fazer críticas ao DCE no discurso, se na prática seguem seu calendário sem propor uma linha distinta, sem propor atividades que concentrem a força dentro do próprio curso de Letras.

O que precisamos fazer agora é reverter isso concentrando todas as forças em ações unificadas que demonstrem todo o potencial dos cursos que estão em greve. Isso é o que vai ajudar os cursos que estão mais desmobilizados, sofrendo pressão e represália de professores e diretorias para que saiam da greve. Isso que vai disputar a opinião pública. Em vez de acabar a mobilização antes do feriado, é preciso buscar utilizá-lo a nosso favor para construir na semana que vem 2 fortes demonstrações de força: um grande ato-festival como em todas as greves históricas já aconteceu, que aglutine milhares, chamando todos os artistas, intelectuais, parlamentares possíveis que apoiam nossa greve para participarem e fortalecerem a luta, atraindo estudantes de diversos cursos e campi da USP e também abrindo as portas da Universidade para a população, elemento central para termos uma greve vitoriosa. E além disso uma forte plenária unificada com a Unicamp, que conforme um Comando de greve Unificado (mesmo contra a vontade do DCE, que em assembleia geral já se opôs a esse comando que uniria forças), que dê o recado para a reitoria e seu chefe Tarcísio de que estamos expandindo nossa luta estadualmente. É buscando unificar forças e dar fortes golpes conjuntos que conseguiremos dobrar a reitoria e arrancar nossas demandas.




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