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Violência Policial | Polícia racista! Mais uma vez em Recife, todas as vítimas da polícia são pessoas negras

No estado, nós negros somos quase 90% das vítimas da letalidade da polícia, quando representamos 65% da população. A pesquisa mais recente, além de mostrar que esta brutalidade segue se reproduzindo, constatou também que no Brasil, uma pessoa negra é assassinada pela polícia a cada 4 horas.

Cristina SantosRecife | @crisantosss

sexta-feira 17 de novembro de 2023 | Edição do dia

O que pode explicar que em Recife e outras cidades da região como Igarassu, Olinda e Cabo de Santo Agostinho siga se reproduzindo este dado tão chocante? No levantamento publicado pela Rede de Observatórios de Segurança em 2021, esta mesma informação já havia sido constatada. No estado, nós negros somos quase 90% das vítimas da letalidade da polícia, quando representamos 65% da população. A pesquisa mais recente, além de mostrar que esta brutalidade segue se reproduzindo, constatou também que no Brasil, uma pessoa negra é assassinada pela polícia a cada 4 horas.

O estudo é o resultado do monitoramento de 8 estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Os números podem ser ainda maiores, pois as pesquisas precisam lidar com travas como o fato de alguns estados, como o Maranhão, não colocarem dados de raça/etnia nos registros de violência policial.

Além de expressar fortemente o caráter racista da polícia, estes dados também mostram a ofensiva contra a juventude, já que a maioria das vítimas possuíam entre 18 e 29 anos.

Um elemento que não pode faltar para entender o quadro geral, é ver que Pernambuco possui um programa de “segurança pública” que é visto pela burguesia como um projeto de grande sucesso. O Pacto Pela Vida (PPV), implementado em 2007 pelo então governador Eduardo Campos, do PSB do vice de Lula, Geraldo Alckmin, supostamente visava “combater a violência”, mas o que significou na prática foi o fortalecimento da violência policial, principalmente contra a população negra. A política de bônus, conhecida como “bônus crack”, que bonificava o salário dos policiais conforme o número de apreensões realizadas resultou em operações fajutas que foram a base para o boom da população carcerária que levou o estado a ser o 1º em superlotação em 2019. Nas mobilizações pelo Fora Bolsonaro em 2021, enquanto em todo país houveram o que primou não foram os registros da truculência contra as manifestações, aqui em Recife a polícia do PSB arrancou os olhos de dois trabalhadores com tiros de bala de borracha.

Políticas voltadas à polícia foram também o carro chefe da campanha da atual governadora Raquel Lyra (PSDB); seu governo implementou o Juntos pela Segurança, que é continuidade do Pacto pela Vida, e o que vemos é na realidade um aumento do número de homicídios no estado - com uma média de 9 assassinatos por dia - sendo 311 apenas no mês de setembro segundo a secretaria de defesa social, um aumento de 40% comparado com o mesmo período do ano passado. Além destes dados, em poucos meses do governo Lyra já houve a terrível chacina de Camaragibe, onde a polícia assassinou toda uma família, incluindo uma gestante, em retaliação à morte de 2 policiais durante uma operação, além vários episódios de repressão gratuita, por fora de qualquer correlação, como na prisão de Aldo Lima durante a greve dos rodoviários ou a agressão contra uma mulher trans que se dirigiu à polícia para pedir ajuda.

Na prefeitura de Recife, João Campos (PSB), no show de comemoração de 30 anos do Manguebeat, um momento que deveria ser de cultura, diversão e lazer para jovens de Recife, se transformou num desfile de expressão de racismo, quando a prefeitura organizou o acesso ao centro histórico em uma verdadeira triagem entre quem poderia ou não entrar na área do espetáculo, com vários relatos de jovens negros e negras sendo barrados de acessar a área, uma expressão de como estado e prefeitura estão unidos para perpetuar o racismo e a pose de óculos juliet de Joao Campos, querendo forçar alguma identidade com a juventude periférica, é só mesmo para as fotos nas redes sociais.

Todos estes fatos devem servir para avançar na compreensão de que não existe reforma possível para uma instituição como a polícia, que tem na sua razão de existência a repressão contra o povo explorado e oprimido. Políticas de sucesso no quesito segurança pública significa sangue negro e operário derramado. Estes dados chocantes comprovam isso.

Estamos a apenas alguns dias do 20 de Novembro, dia de Zumbi de Palmares. Neste dia, como em todos os outros, é preciso levantar as bandeiras da luta antirracista, entendendo que o racismo é um mecanismo utilizado pela burguesia para lucrar ainda mais encima do trabalho negro, muitas vezes terceirizado e precário. O governo Lula-Alckmin quer aprofundar ainda mais a exploração racista com o decreto 11.498, que inclui presídios e “segurança pública” entre os “serviços” a serem privatizados, uma política nefasta que em um país como o nosso, onde a juventude negra é sistematicamente encarcerada, significa concretamente a utilização de trabalho negro gratuito para o enriquecimento dos capitalistas. Nenhuma política burguesa de segurança vai estar a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido. A batalha por erradicar realidades como a do nosso Estado, onde temos cidades em que a totalidade dos mortos pela polícia são negras e negros, precisa passar pela luta consequente contra o sistema que utiliza do racismo para aumentar seus lucros, o capitalismo.

Nesta batalha, lutamos por arrancar todas nossas demandas, que passa pela luta pelo fim das operações policiais e o fim das polícias e que os movimentos sociais, centrais sindicais sejam também nossos instrumentos de luta na batalha contra as opressões exigindo justiça pelos mortos pelas mãos do Estado e sua polícia. É preciso que todo ódio e indignação seja transformado em luta organizada contra a violência policial.




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