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Todo apoio à greve | Por que os estudantes da história da UFRGS precisam apoiar a greve dos técnicos?

Neste dia 18, segunda-feira, começa o primeiro semestre letivo de 2024 na UFRGS e, junto dele, também começa a greve dos técnicos em educação em nossa universidade, que se soma a um movimento que engloba mais de 60 universidades e institutos federais que estão em greve desde o dia 11 deste mês.

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

segunda-feira 18 de março | Edição do dia

Os técnicos se enfrentam com um profundo cenário de precarização, com anos de arrocho salarial (sem reajuste desde 2016, no governo Temer) expressos em uma defasagem de 34,2% do salário, e com a proposta do governo federal de Lula-Alckmin de um reajuste de 0% no salário dos técnicos, uma proposta absurda frente a garantia de 48% de reajuste para a racista Policia Federal, responsável pelo assassinato de Genivaldo em uma câmara de gás improvisada.

Mas essa greve acontece em um momento onde milhares de novos estudantes chegam na UFRGS, o que não é diferente do curso de História, com a chegada de uma nova geração ansiosa por viver a universidade em sua máxima potência, mas que se encontrará com diversos desafios, muitos frutos dos cortes e ataques que a universidade vive. Sendo assim, nesta greve há uma oportunidade para mostrar quais são os caminhos para defender a universidade pública, nossos curso e a educação brasileira de conjunto, e desde essa perspectiva é fundamental que conheçamos as demandas dos técnicos, sua situação e os motivos da greve, para pensarmos também qual nosso papel enquanto movimento estudantil e os exemplos que, enquanto estudantes de história, podemos dar para toda a UFRGS em apoio à luta dos técnicos.

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Sem os técnicos, não existe UFRGS

É preciso ter clareza que por trás de todos os processos que mantém a universidade de pé, do pagamento das bolsas, da efetivação das matrículas, do funcionamento das bibliotecas, RUs, até do Hospital Universitário, etc, temos os servidores técnicos por trás, garantindo tudo mesmo com a desvalorização de sua carreira e os ataques das reitorias, governos e da extrema direita

Junto aos trabalhadores terceirizados, são os técnicos os primeiros a chegar e os últimos a sair da universidade. Toda a vez que passarmos em frente a Biblioteca do IFCH, saibamos que ali quem mantém de pé são os técnicos e sua equipe de bolsistas. O mesmo para as estruturas do nosso curso, como a Comissão de Graduação, responsável pela coordenação de todo o curso, onde os técnicos cumprem um papel essencial, muitas vezes invisível, de garantia dos serviços e do funcionamento geral.

Apoiar a greve é apoiar esses trabalhadores, essenciais em toda nossa vida acadêmica, que nos acompanham do ingresso à formatura, em cada uma das dúvidas que surgem na graduação e além.

A luta dos técnicos é contra a precarização e os cortes de verba

Nossas universidades se encontram em um verdadeiro buraco orçamentário, com perdas de cerca de mais de 80 bilhões nas verbas de pesquisa no período entre 2014 e 2022. A recomposição de verbas de pouco mais de 2 bilhões anunciadas no ano passado pelo governo Lula, que não deixou de cortar da CAPES cerca de 116 milhões no final de 2023, não é capaz de fazer frente a esse rombo, representando menos de 4% de todo o orçamento perdido. Na UFRGS, em 2021, o orçamento era 30% abaixo comparado com 2016, mesmo com o número de estudantes tendo aumentado de 40,3 mil para 43,9 mil. Mas mesmo os dados atualizados e seus impactos na universidade são escondidos pela reitoria, enquanto a mesma administra o rombo orçamentário nas costas dos setores mais precarizados da universidade.

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De um lado, para os estudantes, esses cortes representam a falta de permanência estudantil, matrículas provisórias, a precarização dos restaurantes universitários e das casas de estudantes, a falta de bolsas e uma infraestrutura cada vez pior da universidade de conjunto. Sentimos todos os dias isso no curso de história, com a estrutura física de nosso departamento bastante precarizada, além da falta de bolsas e de permanência estudantil plena que causa números alarmantes de evasão.

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Já para os técnicos, representam uma piora nas condições de trabalho, com sobrecarga de tarefas sem a contratação de novos trabalhadores técnicos por meio de concursos. Essa situação piora ainda mais pelos mecanismos do Arcabouço Fiscal do novo governo, que impedem a criação de novos concursos e colocam limites para reajustes salariais, abrindo mais espaço para a terceirização, uma verdadeira face da junção entre o racismo e o trabalho precário, onde são os trabalhadores negros a receberem os menores salários com menos direitos.

É impossível defender a universidade pública e garantir melhores condições de permanência estudantil sem lutar pela recomposição de verbas das universidades federais. É nesse sentido que a greve dos trabalhadores técnicos mostra um caminho, o da mobilização e da luta com os métodos da classe trabalhadora (como as greves), tendo como suas demandas o fim dos cortes nas universidades. É essa força, somada a força da juventude e de várias outras categorias de trabalhadores que sentem o peso da precarização, que pode avançar para lutar pela revogação do conjunto das reformas anti operárias, como a da previdência e trabalhista, além de lutar juntos aos trabalhadores terceirizados pelo fim da terceirização, com a efetivação de todos sem necessidade de concurso, já que todos os dias provam que são capazes de cumprir o seu trabalho designado.

A luta dos técnicos enfrenta a reitoria interventora de Bulhões-Pranke

Hoje, a administração da UFRGS está nas mãos de uma reitoria interventora escolhida a dedo por Bolsonaro. Carlos André Bulhões e Patrícia Pranke foram escolhidos mesmo sendo os últimos colocados na consulta para a reitoria em 2020, e desde essa época levaram a frente diversos ataques na universidade, buscando subordinar a UFRGS cada vez mais ao interesse dos empresários e da burguesia do estado e a nível internacional, como é hoje a ligação que a UFRGS mantém com a Elbyt Systems, empresa bélica israelense diretamente responsável pelo genocidio na Palestina, que se utiliza das nossas pesquisas para aperfeiçoamento de seu arsenal. De lá para cá, vimos a continuação da política de expulsão arbitrária de cotistas, cortes de bolsas, demissões de terceirizados, perseguição política contra o movimento estudantil, aos professores e técnicos e canetaços antidemocráticos como o mais recente que desfez a resolução que garantia a paridade em na UFRGS.

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É uma tarefa fundamental do movimento estudantil de toda a UFRGS, o que engloba o movimento estudantil de nosso curso, colocar na lata de lixo da história a reitoria interventora, avançando para um questionamento da estrutura de poder antidemocrática da universidade, que com a lista tríplice permite as intervenções. A greve dos servidores técnicos, que também tem como demanda o fim da reitoria interventora, pode ser um importante ponto de apoio para o desenvolvimento desta luta e, de uma vez por todas, para derrubar Bulhões e Pranke através da única língua que sabem dialogar, a do pé na porta e da força organizada dos trabalhadores.

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O exemplo que o movimento estudantil da história pode dar para toda a UFRGS

Frente a esse panorama, entendendo a importância da greve dos técnicos e a sua relação com demandas tão caras a nós, estudantes de história, e a todo movimento estudantil, que é fundamental que nos coloquemos na linha de frente da luta dos trabalhadores técnicos, pensando em medidas ativas de apoio a greve e de disputa da consciência dos colegas para fortalecer o movimento, superando qualquer discurso que queira colocar os estudantes contra os grevistas, nossas pautas contra as deles. Nesse sentido, nós da juventude Faísca Revolucionária viemos fazendo um chamado para que a UNE, nossa principal entidade de representação dos estudantes a nível nacional, hoje dirigida pelo PT e PCdoB, rompa com seu silêncio e organize os estudantes desde a base para a apoiar a greve nacionalmente. Na UFRGS, isso significa também que o DCE (dirigido pelo Juntos, Alicerce e Ocupe, sendo essas juventudes do PSOL, e pelo Correnteza/UP) construa uma assembleia geral dos estudantes para que possamos discutir o papel que podemos cumprir no fortalecimento da greve, além de marcar uma posição contundente de apoio do movimento estudantil ao movimento grevista.

Hoje, o CHIST (Centro Acadêmico da HIstória), nossa ferramenta de luta e organização, pode dar um forte exemplo, sendo o primeiro centro acadêmico a organizar uma assembleia para discutir a greve, entendendo sobre as suas demandas e pensando medidas de apoio.




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