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Dossiê Novembro Negro | O que o governo de frente ampla de Lula-Alckmin expressa de continuidade do racismo e violência contra o Haiti?

A Revolução haitiana que ocorreu em 1791 até os dias de hoje segue presente na memória dos principais países imperialistas que no século XVIII presenciaram a mais brilhante revolução negra da História. No entanto, durante os mais de três séculos passados desde a revolução, o Haiti foi alvo de uma incessante ação ofensiva dos países imperialistas, principalmente os Estados Unidos. Nesse cenário, como a política externa do governo Lula-Alckmin é funcional para a continuidade da repressão de Estado e do imperialismo racista contra o Haiti?

Antonio NevesEstudante de história da UFMG e militante da Faísca Revolucionária

segunda-feira 20 de novembro de 2023 | 17:05

“Os homens fazem sua própria História. E os jacobinos negros de São Domingos fariam a História que mudaria o destino de milhões e milhões de homens e o curso econômicos de três continentes…” [Os jacobinos negros - CRL JAMES]

Ao que tudo indica as burguesias internacionais não tem memória curta, ao contrário, até os dias de hoje carregam viva em sua memória o profundo impacto da transformação que ocorreu no Haiti com milhares e milhares de negros e negras tomando a frente o destino da humanidade e que brilhantemente entraram para história da luta negra internacional contra a opressão colonial. E por mais que por inúmeras vias e pelos livros de história a classe dominante busque apagar o papel desempenhado pelos negros hatianos em 1791, essa é uma tentativa continuadamente falida, porque a história da Revolução Haitiana nenhum representante da classe dominante vai conseguir apagar, pois essa história foi protagonizada por negras e negros heróicos que lutaram incessantemente pela emancipação do seu povo e pelo fim do dominio colonial no seu território, e que consequentemente inspirou todos os negros no mundo em sua luta contra os grilhões da opressão colonialista e da escravidão.

Mais de dois séculos depois, a realidade atual do Haiti é resultado direto do processo revolucionário que se abriu no século XVIII. Os intensos conflitos sociais, políticos e econômicos que vem se agudizando nos últimos períodos são parte de um acordo internacional de sufocar permanentemente o Haiti, lançando milhares de haitianos em um mar de miséria, opressão e sofrimento. Como é discutido mais profundamente nessa declaração da Fração Trotskista - Quarta Internacional, o discurso da ONU e dos Estados Unidos a respeito da situação de catástrofe social em que vive o país é extremamente hipócrita e tenta justificar a necessidade de uma intervenção militar no país sob o pretexto de controlar as gangues e a crise social, mas que na realidade tem a intenção de passar por cima do legítimo movimento das massas haitianas, que se revoltam e ocupam as ruas contra o crescente estado de miséria em que vivem, que se agravou sob o atual governo de Ariel Henry.

Diante da terrível realidade que os haitianos vivem, qual foi o papel do PT nesses últimos anos para intensificar a opressão, violência e racismo contra os haitianos?

O governo Lula-Alckmin com sua política de frente ampla supera os marcos nacionais e expressa sua política também no âmbito internacional. Não é segredo para ninguém o papel nefasto que os Estados Unidos cumprem, subjugando os países da periferia do capitalismo sob seus interesses, e o Haiti é um dos principais exemplos. Sabendo disso, Lula, que atualmente é presidente do Conselho de Segurança da ONU, votou favoravelmente ao mecanismo repressivo militar da defesa da ONU, que pelos seus próprios interesses, invadem países com a falsa justificativa de preservar a paz, mas na prática essas políticas servem para impor terror, medo e mais repressão aos países periféricos. E lamentavelmente o Haiti é uma prova concreta disso. E nesse caso a política de frente ampla do governo Lula-Alckmin caminha de mãos dadas com o principal país imperialista opressor do globo capitalista.

E esse tipo de política do PT não é de agora, vem de muito antes, um exemplo disso é a operação MINUSTAH, uma intervenção militar no território haitiano que ocorreu entre 2004-2017, que foi chefiada por tropas brasileiras, e que, além de criminosa, repleta de assassinatos e estupros contra a população haitiana, serviu de “viveiro” para quem conhecemos hoje como as mais asquerosas figuras da extrema direita do país, como o general Augusto Heleno e o reacionário racista Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo e um grande entusiasta de chacinas em favelas. Os anos de existência do PT tem vasto histórico repressivo como ocorreu com a implementação das UPPs nas favelas, o aprofundamento da violência policial na Bahia e a própria intervenção militar no Haiti. Ambos territórios são fortes exemplos de resistência e cultura negra, e fica evidente que a política interna e externa do PT colabora para o aprofundamento do racismo através da violência policial e repressão do Estado.

E isso tem um porquê, primeiramente é a expressão máxima e acabada do que significa a frente ampla na prática e o quanto essa política até o final mais favorece os grandes interesses da classe dominante e do imperialismo, e acaba se tornando um verdadeiro entrave repressivo para que possa desenvolver revoltas e mobilizações sociais contra a situação de miséria e precarização que afeta a população haitiana. O Haiti é a prova viva disso, porque por trás dessa ajuda humanitária da ONU existe a tentativa incessante de impedir que os haitianos avancem para uma etapa de revolta mais disruptiva ao governo repressivo do país, que é fantoche do imperialismo norte americano. É esse cenário que a política de frente ampla do governo Lula-Alckmin favorece.

Outro exemplo internacional forte da conciliação da frente ampla são as posições e falas de Lula frente ao extermínio e a ofensiva de Israel contra os Palestinos em Gaza. Após mais de 40 dias de aprofundamento do conflito que é marcado pelos 75 anos de opressão de Israel contra os Palestinos, Lula não se posiciona de forma contundente contra o Estado assassino de Israel, mesmo após mais de 10 mil pessoas mortas, das quais a maioria eram mulheres, crianças e jovens. Lula defende o cessar fogo e responsabiliza Israel pelas mortes em Gaza, mas mesmo assim não rompe as relações políticas, econômicas e militares do governo com Israel, pelo contrário, as relações internacionais entre os dois países seguem intactas, ou seja, defender o direito à autodeterminação dos palestinos em Gaza é batalhar contra a frente ampla do governo Lula-Alckmin que segue mantendo relações com um dos países mais reacionários e assassinos do mundo, que é Israel.

Atualmente, o governo haitiano submetido ao imperialismo norte americano e com a conivência do governo de frente ampla do Lula-Alckmin são um empecilho para o povo hatiano liberar suas energias para a luta de classes e essa nova intervenção no Haiti é uma expressão disso. Esse governo de conciliação defende uma medida externa da política que visa seguir sufocando as mobilizações e a revoltas do povo hatiano, impedindo que se organizem, assim como ocorreu na última ocupação das tropas brasileiras no Haiti. Por isso, neste dia 20 de novembro, resgatar o legado histórico da luta negra pela emancipação e seus principais expoentes, como Zumbi dos Palmares e os negros de São Domingos, é parte de defender o Haiti contra a ofensiva imperialista que o governo ula-Alckmin está cooperando. Precisamos erguer a moral de milhões de negras e negros que lutaram contra as amarras das grandes potências imperialistas e não acreditaram que as alianças com a corte colonial serviria de esperança para sua libertação, e que na verdade, a luta imparável pela emancipação do conjuntos do negros passava principalmente pela luta irreconciliavel contra o Estado colonial e a independência contra as metrópoles.

Esses são grandes exemplos de como a conciliação não é parte do legado histórico dos negros em luta, por isso temos que ser fio de continuidade desses exemplos, se opondo à política de conciliação de classes, que na prática vemos que não favorece o conjunto da população negra ou qualquer outra categoria oprimida de nossa classe. É preciso lutar de forma independente do governo, contra as medidas repressivas dos países imperialistas e em defesa de todos os povos oprimidos da classe trabalhadora internacional.

Não à intervenção militar no Haiti!

Fora o imperialismo do Haiti e da América Latina e Caribe!

Estamos com as massas haitianas, com sua rebelião e suas demandas mais sentidas!

Abaixo o FMI!

Pelo direito à autodeterminação do povo haitiano!




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